20/11/2015 - 17:00
Outubro de 1997. As bolsas de valores de todo o mundo refletem o pânico no mercado financeiro do Sudeste Asiático, um contágio que dizimou trilhões de dólares e dezenas de países. No Brasil, a então Bovespa criava um mecanismo para interromper as negociações se a queda de seu principal índice superasse os 10%. No meio desse turbilhão econômico, era lançada pela Editora 3 a revista DINHEIRO, a primeira (e até hoje única) revista semanal de economia, negócios, finanças e tecnologia do País. Desde o seu número de estreia, que trazia na capa o ministro da Fazenda, Pedro Malan, a publicação se tornou leitura obrigatória pela riqueza de informações, que são levadas para você, leitor, de forma ágil, dinâmica e visualmente moderna.
Em 18 anos e 943 edições, os mais importantes personagens do País estiveram nas páginas – e nas capas – da DINHEIRO, como os três presidentes do Brasil (Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff) e os quatro ministros da Fazenda (Malan, Antonio Palocci, Guido Mantega e Joaquim Levy). A cobertura internacional, como a da presidência de Barack Obama, o primeiro negro a comandar os Estados Unidos, a maior economia global, sempre apareceu em destaque. No campo dos negócios, a publicação seguiu de perto a ascensão de Jorge Paulo Lemann e a queda de Eike Batista, além de outras inúmeras histórias de fusões e aquisições, sucessos e fracassos das empresas.
E, neste momento em que o mundo se questiona a razão do ataque terrorista a Paris e o Brasil avalia as consequencias do desabamento da barragem da Samarco, na cidade mineira de Mariana, a história mostra que essas tragédias têm o poder de transformar a economia. No ano de sua maioridade, DINHEIRO mostra, nas próximas páginas, como se comportou a economia nacional, um período de grande transformação e de mudanças significativas na dinâmica socioeconômica.
Os brasileiros, por exemplo, assistiram a apenas duas retrações do PIB (já considerando, infelizmente, a queda na atividade econômica neste ano), a um índice de inflação acima de 10% (com uma imensa probabilidade de 2015 entrar para esta lista) e a duas taxas de câmbio anuais, na média, abaixo de R$ 3. “A economia é feita de ciclos e há 18 anos a DINHEIRO enfrenta o desafio semanal de mostrar as crises e as oportunidades de crescimento com inteligência, pesando as consequências e apontando as tendências de um mundo que continuará sempre exigindo informação de qualidade, seja no papel, seja nos meios digitais”, afirma Milton Gamez, diretor de núcleo da Editora Três.
Jorge Paulo Lemann: Senhor do mundo
Quando vendeu o banco de investimentos Garantia para o Credit Suisse, por US$ 1 bilhão, em 1998, Jorge Paulo Lemann foi o personagem de capa da edição 41 da DINHEIRO – ao lado de seu sócio, Cláudio Haddad. Ninguém poderia imaginar que, 18 anos mais tarde, o banqueiro se transformaria no mais agressivo comprador de empresas do período. Na edição 938, de outubro passado, Lemann era novamente o personagem principal para mostrar como ele adquiriu, ao lado dos sócios Marcel Telles e Beto Sicupira, o controle da SAB Miller para aumentar ainda mais o domínio global da AB InBev, uma cervejaria formada por eles a partir da fusão entre as brasileiras Antarctica e Brahma.
A partir daí, veio a associação com a belga Interbrew e a compra da Anheuser-Busch, fabricante da simbólica cerveja americana Budweiser. Enquanto empilhava engradados, Lemann surpreendeu o mundo ao adquirir, em 2010, a rede de hambúrgueres Burger King, por US$ 4 bilhões. Foi o suficiente para chamar a atenção do megainvestidor americano Warren Buffett. Juntos, uniram forças (e muito dinheiro) para serem donos da Heinz e da Kraft. Com os negócios, veio a admiração. “Lemann é meu professor”, disse Buffett, em reconhecimento a um empresário brasileiro que conquistou o mundo.
Abilio Diniz: A metamorfose do empresário
m agosto de 1999, quando a edição 103 da DINHEIRO foi para as bancas, o empresário Abilio Diniz estava em segundo plano. A reportagem principal mostrava os planos da varejista francesa Casino, que aportava US$ 2 bilhões na rede Pão de Açúcar e pretendia superar o Carrefour também no Brasil. Era impossível prever que, ali, era o início de uma das maiores brigas societárias da história empresarial brasileira, que fez Abilio recorrer a uma estratégia de vida ou morte, que foi chamada de A Grande Jogada, para não ter de entregar o controle da varejista fundada pelo seu pai, Valentim, para o sócio francês, em 2012.
O plano, que envolvia o BNDES e o Carrefour, não deu certo e o empresário deu início a uma nova fase, longe do Pão de Açúcar. Ele, então, passou a comprar participações relevantes em companhias abertas, como a BRF, onde ocupa a presidência do Conselho de Administração, e no Carrefour. Em dezembro de 2014, ele passava a ser um dos quatro maiores acionistas mundiais do grupo varejista francês. Alguns juram que sua volta ao varejo é uma vingança sobre o Casino, outros garantem que ele só não consegue ficar longe de um negócio que foi sua vida. A resposta definitiva talvez esteja numa próxima edição da DINHEIRO.
Tragédias: em tempos de paz ou de guerra
Nenhuma tragédia apenas tangencia a economia. Dependendo de sua dimensão, ela pode influenciar grandes decisões de investimento, como mostraram três capas da DINHEIRO. Em setembro de 2001, os aviões terroristas que se chocaram contra as Torres Gêmeas, em Nova York, provocaram um enorme questionamento sobre segurança. A consequencia dos anos seguintes foi um maciço investimento para aumentar a sensação de proteção em aeroportos das principais cidades do mundo.
No Brasil, a infeliz mistura de descaso político, falta de infraestrutura e aumento no número de voos nacionais causou o acidente com o avião da TAM no aeroporto de Congonhas, que pegou fogo ao se chocar com um prédio por não conseguir frear na pista molhada, recentemente recapeada. Em 2011, o mundo assistiu perplexo a um emaranhado de mentiras da Chevron para tentar justificar um dos maiores acidentes ambientais da história: o derramamento de petróleo no Golfo do México, por quase 60 dias. O caso, encerrado no ano passado, gerou indelização de US$ 18,7 bilhões para os EUA e cinco estados mexicanos, além de um custo de US$ 44 bilhões em recuperação ambiental.
Desde o início de novembro, duas dessas tragédias ganharam novos personagens: a mineiradora Samarco, joint venture entre a brasileira Vale e a anglo-australiana BHP, se prepara para desembolsar bilhões de reais em multas e indenizações pelo acidente sócioambiental provocado pela queda de duas de suas barragens, que fez um rio de lama, com rejeitos de minério de ferro, destruir cidades, tirar vidas e matar o Rio Doce. E em Paris, o terrorismo trouxe de volta a sensação de insegurança (confira reportagem aqui).
Presidentes: que fizeram a história
A revista DINHEIRO foi lançada no final do primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, um período turbulento desencadeado pela crise dos Tigres Asiáticos, que se seguiu com as crises da Rússia e, em seguida, do Brasil, com um violento ataque especulativo ao real. Até a primeira eleição do presidente Lula, em 2003, o País conseguiu estabilizar suas instituições, conquista mais importante desses últimos 18 anos. É uma mudança tão importante quanto a estabilização da moeda, com a criação do Plano Real, em 1994.
Nessas 943 edições, foram apenas três presidentes, quatro ministros da Fazenda e quatro presidentes do Banco Central, número semelhante ao de economias desenvolvidas. Além disso, o Brasil aproveitou o boom das commodities para experimentar anos de exuberância econômica, entre 2004 e 2010, na gestão Lula. A eleição de Dilma se prendeu na continuidade e não soube enxergar a mudança de rota global. Em outubro do ano passado, a reeleição da presidente exigiu uma dura imagem de capa da DINHEIRO: um abacaxi a ser descascado. Teve início a mais grave crise da história da revista, que ainda não chegou ao fim.
Eike Batista: O X da questão
Nas primeiras edições da DINHEIRO, o empresário Eike Batista aparece sempre com o aposto: filho de Eliezer Batista e marido da modelo Luma de Oliveira. Com o passar dos anos, ele foi reconhecido pela criação de um império de sonhos. A partir de 2007, com a criação da OGX e uma autorização para exploração de petróleo, Eike deu início a uma vertiginosa ascensão. Ao lado da petroleira vieram empresas de mineração (MMX), logística (LLX), construção naval (OSX), energia (MPX), mineração de carvão (CCX) e incorporação imobiliária (REX). A sinergia entre elas era o ponto-chave, assim como o financiamento via mercado de capitais.
Em 2010, na edição 657, os bastidores da briga entre Eike e seu principal sócio na OGX, Rodolfo Landim, escancarou os problemas estruturais de um castelo que estava em ruínas. Era o fim de um período simbolizado pela letra X, que estava presente em todos os negócios de Eike para representar a multiplicação da riqueza. O empresário teve de se desfazer de praticamente todas as empresas. De principal representante do novo capitalismo, Eike voltou a ser uma incógnita.
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