Considerado um dos principais personagens do mercado brasileiro de investimentos, o carioca Roberto Vinhaes, fundador das gestoras IP Capital Partners e da Nextep Investimentos acompanha de perto as polêmicas do caso Americanas. Para ele, o trio Jorge Paulo Lemann, Alberto Sicupira e Marcel Telles, acionistas da Americanas e sócios da 3G Capital, recebem críticas precipitadas.

Num artigo, o senhor diz que houve precipitação nas críticas aos acionistas de referência da Americanas. Por quê?
Essencialmente por dois motivos: o primeiro é que foram feitas sem fatos concretos que as suportassem. O segundo é que inferem numa responsabilidade indevida ao que seria o papel de investidores. A elaboração das demonstrações financeiras de uma companhia são atribuições em primeiro lugar da administração e dos auditores.

Por que o senhor não acredita que eles não foram responsáveis pelo problema?
Na ausência de fatos, é preciso ter opinião baseada na história. E o histórico dos três é de imensa geração de valor para a sociedade através de lucros que pagam impostos, empregos e oferta competitiva de produtos. Além disso, são responsáveis e apoiadores de muitas ações filantrópicas extremamente grandes, de alto impacto e muito bem-sucedidas.

Por que os auditores têm responsabilidade?
Não disse que tenham sido responsáveis, mas que a auditoria deixou a desejar. E isso me parece ser uma questão de natureza sistêmica. Tem ocorrido a nível global e de forma relevante. Importante deixar claro que meu questionamento não é em relação ao auditor de Americanas especificamente. O que acho importante ressaltar é que me parece haver uma questão entre a razão de ser da atividade e o histórico de resultados. Parte relevante da missão de empreendedores e investidores é assumir riscos. A dos auditores é reduzir os riscos para os investidores. Quando alguma parte crítica do sistema falha com frequência e escala que comprometem sua razão de ser, é importante refletir sobre quais seriam as causas do problema.

Qual seria uma tentativa de solução?
Parece uma situação clássica de excesso de concentração de poder. Nestes casos, o estabelecido como desejável é que haja uma regulamentação informada e independente.

O senhor acha que esse fato pode afetar a reputação dos três?
Acho que não. O esclarecimento dos fatos e a perspectiva histórica devem se sobrepor ao ruído de curto prazo do caso Americanas.

Qual o aprendizado? Que lição tirar disso?
Max Planck, introdutor dos conceitos de física quântica, disse uma frase que adoro: “A ciência avança um funeral de cada vez.” Acho que vale para a sociedade como um todo. O aprendizado, se é que se pode chamar assim, da sociedade e dos mercados é lento. O caso está longe de ser inédito. Infelizmente, a lição é negativa: de que no Brasil, os empresários bem sucedidos são vistos como culpados a priori. Isso é o que mais me incomoda na questão. É um incentivo fortemente negativo, com péssimas consequências para o País.

Eles são infalíveis?
Só não falha quem não faz, não corre riscos. No mundo dos negócios, a tomada de riscos é indissociável dos processos de empreendedorismo e de investimentos. É razoável esperar que na vida de investidores e empreendedores ocorram muitos erros. O importante é que os acertos sejam bem maiores que os erros. E não há como negar que é o caso dos três.

Como vão lidar com o problema?
De maneira madura e responsável. Antes de mais nada, aguardando a apuração dos fatos, como têm agido, a despeito das críticas e acusações públicas, feitas de forma inaceitável.

O senhor acredita que terá uma solução?
Minha avó dizia: “Se não está solucionado, é porque ainda não acabou.” A história mostra que provavelmente não será solução que agrade a todos. Mas é a natureza da maioria das questões e claramente o caso de empresas de capital aberto.

O Brasil ainda tem a síndrome de vira lata?
Não. Acredito que um problema do Brasil seja uma contradição de valores. Empresários de sucesso, fundamentais para um capitalismo bem sucedido, muitas vezes são vistos, na melhor das hipóteses, como suspeitos. Os ídolos geralmente aclamados têm como principais atributos características que pouco agregam para a sociedade no longo prazo. O exotismo parece ser mais valorizado que a geração de valor para a sociedade. Os ídolos refletem os valores de uma sociedade e guiam seu futuro. Acredito que o sucesso seja 10% inspiração e 90% execução.

Quais são os modelos de empresários e de gestão?
Minha experiência de mais de 40 anos como empresário e investidor é de que há muitos modelos bem sucedidos. É uma questão de adequação dos modelos às características dos empreendedores, executivos e investidores. Todos têm em comum o caráter, a honestidade intelectual, o bom senso, alinhamento de interesses e muito trabalho.