Antes de fundar a Shutterstock, o americano Jon Oringer, 42 anos, apostou na criação de mais de dez empresas ligadas à internet. Falhou em todas. Os tropeços, contudo, geraram a criatividade e a maturidade necessárias para criar o maior banco de imagens do mundo, com faturamento de US$ 400 milhões . Agora bilionário, com fortuna estimada US$ 1,1 bilhão, Oringer quer mostrar que há caminhos para os empreendedores que não acertam de primeira. Confira, a seguir, a sua entrevista:

O senhor é um daqueles exemplos de empreendedores que tiveram muitas falhas antes do êxito. O que aprendeu com isso?
Falhas fazem parte de todo o processo. O erro é essencial para o sucesso. Esse conceito precisa fazer parte da vida de um empreendedor. Há coisas que funcionam e outras, não. No começo da minha carreira, eu estava tentando fazer as pessoas usarem os computadores de maneira bem diferente do que estavam acostumadas, mas o mercado mudava muito rápido. Essas experimentações foram fundamentais para o sucesso da Shutterstock.

E como o sr. explica o sucesso da Shutterstock?
Identifiquei um nicho. As pessoas ao redor do mundo precisavam de imagens para trabalhar, mas elas eram muito caras. Trouxemos para elas produtos de qualidade com preço justo. Peguei minha câmera, fiz algumas fotos conceito, criei um site e comecei a vendê-las.

O senhor é um grande crítico de investimentos de fundos em startups e recusou aportes no início da Shutterstock. Por quê?
Sei que todas as empresas precisam de dinheiro, mas não creio que o venture capital pode ser a única saída para isso. Eu comecei a Shutterstock com apenas US$ 10 mil. Se eu tivesse recebido aportes, eu teria muito menos controle sobre a companhia e entenderia muito menos do mercado.

Mas qual é o maior risco?
O risco é a empresa ter a perda total do controle. As pessoas precisam entender o que significa aquele dinheiro para elas. É um processo perigoso para empresas e fundos, pois a startup pode ser perder no meio do caminho. Há no mercado dinheiro disponibilizado por bancos, que não exigem participação no negócio.

Muitas startups de tecnologia, como o Twitter, não são lucrativas até hoje. Ao mesmo tempo, Shutterstock é lucrativa desde o primeiro dia. Por que existe essa diferença?
O balanço entre o lucro e o crescimento precisa ser equilibrado. Muitas empresas pensam que isso não é um problema. É complicado mudar essa cultura e produzir dinheiro. Tomamos a decisão de crescer com lucratividade e o resultado é uma empresa mais sólida. Outras companhias podem fazer isso também.

Mas o sr. acredita que essas empresas não descobriram como serem lucrativas ou simplesmente não ligam para isso?
Muitas começam criando algo simplesmente para ser vendido. Pode ser uma boa opção para dinheiro de curto prazo, mas você nunca vai criar uma empresa com capital estável e com possibilidade de desenvolvimento.

Em sua opinião, países emergentes podem criar as próximas potências da tecnologia?
Existem vários mercados ao redor do mundo para as pessoas criarem novas empresas disruptivas. A tecnologia permite isso. Eu acredito que, nos próximos dez anos, poderemos começar a enxergar novos movimentos.

Vocês fizeram duas aquisições em 2015, a Rex Features, focada no mercado editorial, e a Premium Beat, especializada em músicas e efeitos sonoros para vídeos. Vocês continuarão com o apetite para aquisições?
Tivemos algumas oportunidades e partimos para as aquisições. É uma complementaridade ao crescimento orgânico. Não temos dívida e temos muito dinheiro no caixa. Como pode se ver, estamos em uma posição muito privilegiada.

Vocês estão analisando empresas fora dos Estados Unidos?
É algo que podemos olhar no futuro, mas sem previsão.

O que empresas tradicionais podem aprender com as startups? E o contrário?
As empresas mais antigas estão sendo estimuladas a mudar a forma como enxergam e tratam os funcionários. Ao mesmo tempo, conforme vão crescendo, startups estão precisando se inspirar nas grandes companhias para se organizarem melhor. É o exemplo da Shutterstock, pois temos 700 pessoas trabalhando e não é simples tocar uma empresa desse porte.