10/03/2023 - 0:10
Ainda não está completamente superada a confusão em torno dos preços dos combustíveis no País. Depois da queda-de-braço pela reoneração, que representou uma sonora e importante vitória do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se inicia agora uma longa discussão sobre a política de reajuste tarifário. A Petrobras, na figura do novo presidente, Jean Paul Prates, já avisou que ocorrerão mudanças no tal regime de paridade com as oscilações internacionais. Para ele, a chamada Paridade de Preços de Importação (PPI) é meramente uma “abstração”. No seu entender, a estatal do petróleo deve sair em busca, sim, de preços competitivos, mas de acordo com as referências que considerar mais adequadas e não apenas vinculadas ao preço de importação do produto. Um conjunto de parâmetros talvez seja o caminho a seguir, segundo Prates, evitando o que ele considera o “dogma” dos humores de outros mercados. Na lista de alternativas a serem adotadas estão desde uma “política transversal”, com variantes diversas, até um mecanismo fixo de monitoramento de estoques estratégicos ou mesmo reajustes com base na gestão interna da habitual oferta e procura. Técnicos da Fazenda, das Minas e Energia e de outros gabinetes vão estar mergulhados na discussão que afeta de maneira decisiva inúmeros setores e tem impacto direto na cesta básica dos brasileiros. Combustíveis são, como se sabe, um tema que galvaniza paixões desenfreadas e protestos violentos de categorias, dentre elas a dos caminhoneiros. No Planalto, o próprio presidente Lula tem pregado, como promessa de campanha, uma forma de “abrasileirar” o preço dos combustíveis. O que isso significa ainda é uma incógnita completa. Enquanto o impasse prevalece, outro foco de atrito aparece na composição dos nomes do conselho de administração da companhia. Há um descontentamento latente nos bastidores com as chamadas indicações políticas. Alguns dos escolhidos pelo ministro Alexandre Silveira, das Minas e Energia, estariam ligados ao “bolsonarismo” e, de acordo com líderes petistas, bastante vinculados ao mercado financeiro e a favor de privatizações (uma pauta que o partido abomina). Silveira havia apontado seis nomes em conversa com Lula e Prates e cada um deles teriam o mesmo perfil, segundo os críticos. A Petrobras não é apenas a joia da coroa no que refere-se aos lucros e bons resultados que possibilita ao Estado. Ela também é a pedra de toque da gestão do atual presidente, por onde deve passar também as negociações para o monumental rombo fiscal deixado pela administração anterior na base do populismo tarifário que montou visando ganhar as eleições. Foi também sobre a Petrobras que se abateu o maior escândalo dos últimos tempos, com um propinoduto que sangrou os cofres da empresa e o Brasil como um todo em bilhões de reais. Essa mácula acaba por gerar grandes expectativas sobre a estratégia e os caminhos que serão traçados daqui por diante na condução de seus preços, dos investimentos e da formação da equipe responsável pela estatal. Reclamações de toda ordem e uma guerra de intrigas viraram tônica. Até mesmo quanto ao delicado tema dos dividendos. Resta saber que imagem de Petrobras o atual governo deixará como legado.
Carlos José Marques
Diretor editorial