11/10/2016 - 18:00
A sombra de Donald Trump parece ser a última a sobrevoar as bolsas de valores pelo mundo. Ao longo deste ano, uma série de fatores, muitos deles inesperados, sacudiu os mercados financeiros mundo afora. Em janeiro, a desaceleração da China reduziu os preços das commodities e provocou uma corrida para o mercado de ações. No meio do ano, o Brexit, a inesperada decisão do Reino Unido de deixar a Comunidade Europeia, causou o efeito contrário e derrubou os principais índices de ações ao redor do mundo. Em setembro, novas quedas, agora puxadas pelos temores sobre a saúde financeira do banco alemão Deutsche Bank.
O resultado das eleições à presidência dos Estados Unidos, em novembro, tem aumentado o nível de volatilidade e de preocupação dos investidores. O risco de fato existe. Pesquisas mostram que a vantagem da democrata Hillary Clinton não é confortável. Algumas chegam a dar empate técnico. A vitória do candidato republicano seria o triunfo da incerteza, pelo menos para os investimentos. De acordo com os especialistas consultados pela DINHEIRO, seu efeito poderá ser comparado a uma chuva de verão: será violenta, mas deverá passar rápido.
Esse susto inicial pela chegada de Trump à Casa Branca provocará a desvalorização do dólar e, com isso, a redução dos principais índices das bolsas de valores americanas. Quem se beneficiaria? O Brasil aparece como um dos principais candidatos. Com o aumento da aversão ao risco nesse cenário de incerteza, o mercado financeiro costuma buscar destinos mais seguros – e, principalmente, rentáveis. O Brasil tem a oferecer uma bolsa de valores (ainda) barata e uma taxa de juros bastante atrativa. A principal aposta é, justamente, numa grande onda de migração para a renda fixa, onde os 14,25% da Taxa Selic aparecem como um dos maiores retornos do mundo.
O efeito é comparável ao provocado pelos acontecimentos de 2008. Durante a crise financeira que teve início nos Estados Unidos, com a quebra dos bancos de investimento que carregavam títulos imobiliários podres, o Investimento Estrangeiro Direto no País somou US$ 45 bilhões, um recorde na época. “Esse é um cenário benigno para o Brasil, pois os gestores globais começam a buscar países onde os retornos são maiores”, afirma Carlos Fagundes, sócio-fundador da consultoria de gestão de riscos financeiros Integral Trust.
A dica para os investidores são os títulos do Tesouro Direto, como o NTN-B35, que pagam a taxa de inflação mais 7% de juros – o que equivaleria, hoje, a uma remuneração de 14,23% ao ano. Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, recomenda, diante de um cenário tão incerto nas próximas semanas, a aplicação em papéis pré-fixados, nos quais o investidor sabe qual é a remuneração. Mas, para quem está disposto a correr risco, a Bovespa continua a ter ações a preços atrativos, com potencial de valorização.
A sócia-fundadora da gestora Brasil Capital, Juliana Klarnet, que administra R$ 1,3 bilhão em ativos, e tem entre seus clientes a família Ermírio de Moraes, do Grupo Votorantim, indica, para o longo prazo, ações de empresas voltadas ao mercado interno e com bons fundamentos, como a Kroton, do setor de educação, e a Cosan, de energia e logística. Além da liquidez, esses papéis podem se beneficiar de uma alta repentina da bolsa. O que explica parte dessa movimentação de compra e venda de ações e títulos de renda fixa é o péssimo resultados da indústria dos fundos de hedge: cerca de 40% deles fecharam o ano de 2015 com prejuízo. Precisando remunerar seus investidores, eles são atraídos para mercados que oferecem ganhos rápidos no curto prazo. Esse seria o “efeito Trump” para o Brasil.