06/06/2014 - 20:00
O executivo italiano Dario Marchetti, 41 anos, assumiu a presidência da subsidiária brasileira da Danone, no dia 2 de janeiro. Desde então, ele tem usado seu tempo para conhecer os detalhes da operação no País e traçar os planos para os próximos cinco anos. Um detalhe que já chamou a atenção do executivo é o fato de os brasileiros consumirem pouco iogurte. São sete quilos anuais por habitante, a metade do verificado na vizinha Argentina. O desafio de mudar essa postura em relação ao produto é vital na ambição do executivo de dobrar, até 2016, o faturamento da empresa no Brasil para R$ 4 bilhões.
“Queremos mostrar que o iogurte é uma opção saudável na dieta dos brasileiros”, afirma Marchetti. Dependendo do ângulo que se analise, o executivo italiano vive o melhor dos mundos. Isso porque seu antecessor, o argentino Mariano Lozano, que comandou a subsidiária no período 2009-2013, lhe entregou uma empresa azeitada e cujas vendas anuais acabaram de dobrar para R$ 2 bilhões. Detalhe: esse feito foi alcançado num mercado disputado pote a pote com gigantes como a suíça Nestlé, além das brasileiras Vigor, do grupo J&F, e Batavo, da BRF.
Sem contar as marcas regionais que defendem com unhas e dentes seu espaço nos pontos de venda em sua área de influência. Mesmo assim, a Danone se firmou como líder absoluta do segmento de iogurtes, com uma fatia de 35,9%, em valor, seguida pela Nestlé, com 18,7%, em um negócio que movimentou R$ 4,59 bilhões em 2013. Nesse contexto, caberia a Marchetti apenas “correr para o abraço”, como se diz na gíria futebolística. No entanto, uma coisa é crescer quando o mercado está aquecido e a renda média está em alta, o que abriu as portas do consumo para cerca de 30 milhões de brasileiros.
Outra é duplicar de tamanho quando a economia apresenta sinais de desaceleração e os consumidores se mostram mais arredios a incluírem em suas listas de compras produtos considerados supérfluos. “O crescimento do mercado foi impulsionado pela nova classe C, mas ainda há muitas oportunidades para as empresas instaladas no País”, diz o analista da consultoria Nielsen, José Fraga. Marchetti, porém, diz que já definiu uma estratégia para atingir o objetivo. Embora o plano de ação ainda dependa de aprovação da matriz, na França, o executivo adiantou à DINHEIRO, alguns detalhes de sua receita, em sua primeira entrevista.
Em linhas gerais, Marchetti pretende atacar em duas frentes. A primeira delas é a do preço. Apesar de um Danoninho (aquele que vale por um bifinho, como dizia o bordão da propaganda, na década de 1980) custar menos que um chiclete, R$ 1,30, muita gente ainda considera o produto caro. Para manter os preços atrativos, o executivo vai trabalhar na otimização dos custos de produção. A ordem é enxugar ao máximo, para evitar que o aumento no preço dos insumos tenha de ser repassado ao produto final.
Segundo ele, a meta é diminuir em até 10% as despesas totais na produção de lácteos nas unidades brasileiras neste ano. Uma das medidas adotadas envolveu a divisão de logística. Com isso, o mesmo caminhão que abastece os pontos de venda da Danone duas vezes por semana transportará queijos e outros laticínios de fabricantes locais. “Já temos contratos com empresas regionais que não concorrem com os franceses”, afirma o executivo. Mas de nada adianta fazer o brasileiro consumir mais iogurte se a Danone não puder satisfazer esse apetite, por falta de capacidade produtiva.
Hoje, a empresa possui duas unidades industriais, em Poços de Caldas (MG) e em Maracanaú (CE). Além de ampliar a capacidade atual, Marchetti diz que poderá entrar na disputa pela rival Batavo, colocada à venda pela BRF. A decisão final dependerá da matriz. O executivo também não descarta a entrada da Danone em novas categorias de lácteos. A última tacada da empresa nessa direção ocorreu em 2012, quando a fábrica mineira recebeu um aporte de R$ 120 milhões para produzir o Danio, com formulação mais consistente, fabricado para concorrer com o iogurte grego da Vigor, da Nestlé e da Batavo.
Trata-se de um segmento no qual entrou com seis meses de atraso em relação à Vigor e à Nestlé. “Para essas empresas se manterem no topo, elas devem sempre trazer novidades a preços competitivos e, assim, atrair esse novo consumidor”, diz Fraga. É isso que pensa Marchetti, que em sua passagem pelo México e na hoje conturbada Ucrânia liderou campanhas setoriais para incentivar o consumo do iogurte. “Quando cheguei ao México, em 2006, o consumo de lácteos era de quatro quilos anuais per capita”, diz. “Ao sair do país, em 2009, já estava na marca de oito quilos por pessoa.”