06/03/2013 - 21:00
As empresas públicas são sempre alvo de atenções redobradas do mercado. Afinal de contas, direta ou indiretamente, elas representam o patrimônio do contribuinte. Para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o grau de expectativa é ainda maior. Capitalizado pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador e pelo Tesouro, a instituição, como o próprio nome sugere, é responsável por fomentar a produção, e seguirá uma estratégia afinada com o governo. Atualmente, a gestão do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, é alvo recorrente de questionamentos por eleger setores que serão beneficiados com aportes de capital, mas que nem sempre trazem resultados positivos.
Visão de longo prazo: na sede do BNDES, no Rio de Janeiro, a ordem
é não se preocupar com resultados pontuais
Na semana passada, a divulgação do balanço financeiro de 2012 deu munição aos críticos do modelo atual. O banco teve um lucro líquido de R$ 8,2 bilhões no ano passado, 9,6% abaixo do resultado de 2011. A perda mais acentuada, entretanto, veio do BNDESPar, a divisão do banco que administra as participações em diferentes empresas: seu lucro caiu 93,1% no ano passado, fechando em R$ 298 milhões. Uma das explicações para a queda atende pelo nome de LBR-Lácteos, dona de marcas como Parmalat e Poços de Caldas, da qual o BNDES tem 30,28% de participação. Fruto da fusão entre os grupos Bom Gosto e LeitBom, a LBR tinha planos de produzir mais de dois bilhões de litros de leite por ano. Foi esse potencial que levou o BNDES a investir R$ 700 milhões na companhia, para fortalecer uma cadeia que busca competitividade internacional.
O plano, porém, não foi bem-sucedido. A LBR não acertou a gestão dos negócios, e entrou numa espiral de dificuldades financeiras, que culminou com o pedido de recuperação judicial há duas semanas. Outra parte da baixa no balanço veio da carteira de ações do BNDES, que soma papéis de 142 empresas, entre elas Petrobras, Eletrobras e Vale. “Esse foi um ano complicado para diversos setores, como o elétrico, que passou por mudanças”, diz Marcelo Marcolin, superintendente da área de capitais do banco. “E isso teve impacto nos resultados.” Ao todo, o BNDESPar teve de registrar uma baixa contábil de R$ 3,3 bilhões, referente à queda no valor dos ativos. Marcolin lembra, entretanto, que entre 2005 e 2011 a carteira de renda variável respondeu por 50% do lucro do BNDES.
O leite azedou: o BNDES é criticado por beneficiar alguns setores, como o de leite,
que enfrenta dificuldades
O restante vem de dividendos de empresas, e das operações de concessão de crédito.“A perda deste ano é pontual, uma vez que somos um banco de fomento olhando para o longo prazo.” Para o professor de finanças da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, Alberto Matias, especialista no setor bancário, não se pode avaliar um banco de desenvolvimento olhando apenas o balanço de um ano. “É preciso analisar um ciclo de uma década para concluir a qualidade da estratégia adotada”, afirma Matias. O superintendente da área financeira do BNDES, Selmo Aronovich, lembra que, em tese, o banco não teria de gerar lucro. “Até 2002 a instituição nunca havia sido lucrativa”, diz Aronovich. “Mesmo com essa queda, é o nosso terceiro melhor resultado.”
Segundo o professor Matias, quando se compara o desempenho do BNDES com o de outros bancos de fomento estrangeiros, a instituição brasileira tem um resultado invejável. “O Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento não têm lucratividade”, afirma. Até a rentabilidade sobre patrimônio, um indicador de solidez, é comparável à das maiores instituições do País. Enquanto a do Itaú é de 18,10%, e a do Bradesco, 16,11%, a do BNDES é de 15,71%. “É melhor, inclusive, que muitos bancos americanos”, diz Matias. Para 2013, Aronovich espera resultados bem melhores. O nível de desembolsos do banco já mostra que a recuperação da economia está em curso. “Tivemos R$ 20 bilhões em desembolsos entre janeiro e fevereiro, um recorde”, diz.