28/04/2023 - 1:00
Descendente de imigrantes alemães que se estabeleceram na Serra Gaúcha, Jorge Bischoff transformou seu nome em uma grife de sapatos, bolsas e assessórios presente em cerca de 60 países e em mais de 100 lojas exclusivas no Brasil — da loja-conceito em Gramado (RS) com um winebar no qual são servidos vinhos e espumantes de marca própria, à capital do Acre, Rio Branco. Entre um e outro extremos, a marca está na badalada Oscar Freire, meca da moda nos Jardins, em São Paulo, e em cidades que crescem com o dinheiro do agronegócio, como Sorriso e Sinop, no Mato Grosso. Hoje, as coleções da Jorge Bischoff podem ser encontradas em 700 pontos de venda no mundo, entre franquias, multimarcas e quatro unidades exclusivas no exterior: duas no Equador e duas na África do Sul.

Este ano, em que comemora duas décadas de criação da grife Jorge Bischoff, o designer acaba de inaugurar seu novo showroom em um casarão de 1902 na cidade de Igrejinha (RS), onde fica a sede da empresa, e irá lançar releituras de algumas das peças que marcaram a história da grife. Os modelos chegarão a cada dois meses e irão se somar às novas coleções (caso da linha de inverno 2023, já nas lojas) e outras de grande sucesso, como Say Yes e Luxo Legítimo. A primeira, como o nome sugere, foi desenvolvida para noivas. São sapatos de couro perolizado com um coração de metal e um cristal na sola. A segunda é feita com pele de cobra Python.
Tanto as peças do passado quanto as atuais trazem a característica que define o estilo Jorge Bischoff: combinar elegância e o conforto em criações de padrão internacional. “Um calçado elegante e confortável tem seu custo. Mas é isso que nos propusemos fazer”, disse Bischoff à DINHEIRO. Em seu e-commerce, uma mochila de Python custa R$ 6.499. O material é importado da Indonésia e da Malásia e certificado pelo Ibama.
O design autoral, que emprega metais e pedrarias, é um dos motivos para a crescente aceitação da grife no mercado internacional. Atualmente seus sapatos são vendidos em Hong Kong, na Rússia e na França, principal mercado da empresa na Europa. Para Bischoff, ocupar seu espaço em meio à imensa oferta de calçados e bolsas nesses países foi um caminho natural, que começou com sua participação em feiras tradicionais do setor como a Couromoda e a Francal. “O importador vinha procurar no Brasil produtos diferentes do que a Ásia pode proporcionar em termos de variedade de modelos”, disse Bischoff. Segundo ele, a China prefere produzir milhares de pares de um único modelo, enquanto sua empresa oferece exclusividade, em escala bem menor. “Nós temos vida no produto”, afirmou o empresário.
COURO E COLA Bischoff gosta de frisar que, antes do designer, vem o sapateiro. “Não adianta caprichar no design se não tiver conforto. Ninguém quer calçar algo que incomode”, disse. Combinar os dois atributos é algo que ele aprendeu na prática, desde o berço. “Eu nasci dentro do couro e da cola”, afirmou. “Minha mãe trabalhava em uma fábrica de sapato e uma tia me levava até lá para poder mamar.” Aos 11 anos ele próprio foi trabalhar no ofício que era tanto da mãe quanto do pai. “Fiz de tudo dentro de uma fábrica de sapato”, disse. Criar a própria grife, porém, levou tempo. Primeiro veio o Criativar Estúdio, onde Bischoff desenvolvia produtos para diversas empresas de calçados. “Trabalhei simultaneamente para mais de 30 marcas”, afirmou. O estúdio foi crescendo até que uma noite, em um evento para o setor no mesmo imóvel que hoje abriga a sede do Bischoff Group, um jornalista fez a seguinte provocação: “Quando irá lançar tua marca?” A resposta, imediata, foi que a marca já existia, era a Criativar. O outro insistiu: “Estou falando da marca Jorge Bischoff”. Duas semanas depois, o designer apresentou o plano para seu time. “Fomos construindo o projeto Jorge Bischoff alicerçado no outro, onde eu já tinha uma receita extraordinária e uma estrutura maravilhosa”, disse. Por 12 anos ele manteve as duas empresas, conciliando trabalhos para marcas como Vizzano e Azaleia. “Com isso eu não tive a necessidade e nem a ansiedade de acelerar o projeto da marca Jorge Bischoff. Fomos crescendo organicamente, sem preocupação com lucro e sim com excelência.”

Depois de conquistar o mundo, veio a necessidade de diversificação — uma tendência no segmento de moda. Prova disso é que até o prestigiado designer de calçados francês Christian Louboutin inaugurou recentemente um hotel em Portugal. No caso de Bischoff, as apostas são em perfumes e em vinhos. Os espumantes são brasileiros, produzidos pela Cave Geisse. Os brancos e tintos, elaborados com uvas de um vinhedo próprio na Casa de Uco, em Mendoza, Argentina. “Queremos que a marca entre no lifestyle do consumidor em mais momentos e situações”, afirmou Bischoff. Literalmente, dos pés à cabeça.