01/05/2014 - 19:00
Foi na madrugada do dia 16 de abril, debaixo de uma típica garoa paulistana, que um jatinho alugado pelo Partido Socialista Brasileiro aterrissou no aeroporto de Guarulhos trazendo o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos. A bordo estavam também sua mulher, três de seus cinco filhos e assessores. O desembarque do presidenciável do PSB não era simbólico. Ele chegava para morar na capital paulista até novembro, em um flat em Moema, bairro de classe média da zona sul, próximo à avenida Faria Lima, centro financeiro onde estão instalados os principais bancos de investimentos presentes no País.
O endereço de Campos já foi apelidado pelos socialistas de a “Nova República de Pernambuco”. Doze dias depois de sua mudança para São Paulo, Campos fez oficialmente o seu debute político na cidade. Na segunda-feira 28, o ex-governador, com sua candidata a vice-presidente Marina Silva a tiracolo, foi apresentado ao PIB brasileiro em dois eventos promovidos pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide). Por volta das 13 horas, no hotel Hyatt, o pré-candidato à Presidência falou para 525 empresários, sete a mais que os registrados no almoço oferecido ao senador mineiro Aécio Neves, presidenciável pelo PSDB, que ocupara o mesmo palco um mês antes.
À noite, foi recepcionado por João Doria Jr., presidente do Lide, em um jantar em sua mansão, no exclusivo Jardim Europa, com a presença de pesos-pesados como Jorge Gerdau Johannpeter, da Gerdau, Roberto Setubal, do Itaú, Luiz Carlos Trabuco, do Bradesco, Constantino Junior, da Gol, Pérsio Arida, do BTG Pactual, Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, Flavio Rocha, da Riachuelo, e outros 150 convidados. Até o governador paulista Geraldo Alckmin, do PSDB, correligionário de Aécio Neves, esteve presente. Foi a oportunidade para Campos tentar convencer os donos do dinheiro de que é o candidato capaz de promover as mudanças que levem a uma retomada do crescimento da economia e restabeleça a confiança dos brasileiros em relação ao futuro.
Durante 25 minutos, no almoço, o pré-candidato do PSB citou as transformações pelas quais o Brasil passou nos últimos 20 anos no campo econômico e social, uma referência às realizações dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso. Apesar disso, ele reafirmou a necessidade de novos avanços. “Existe um novo pacto social, que exige um novo pacto político”, disse. O candidato citou dois desafios essenciais a serem enfrentados por seu governo: aumentar a produtividade da economia brasileira e, no âmbito social, melhorar a qualidade de vida dos brasileiros.
Ao término da apresentação, representantes da indústria, do varejo e de serviços cobraram do candidato propostas que explicitassem como conseguiria conter a inflação, reduzir os juros e aumentar o crédito. Diferentemente do que esperavam os empresários, a resposta de Campos foi pouco objetiva. “Com a retomada da confiança na economia”, disse. Ele prometeu, ainda, colocar a inflação no centro da meta, em 4,5% até 2018, e um crescimento de 4% anuais do PIB. Mas fugiu de temas polêmicos, como o mensalão, dizendo que esse é um assunto do passado. “Começou mal”, disse um empresário que não quis se identificar.
Campos se apresentou como um representante da mudança, mas em seu discurso não deixou claro o rumo que irá tomar. O ex-governador citou, sem entrar em detalhes, quatro eixos de seu programa de governo: Estado e democracia, educação e inovação, economia para o desenvolvimento sustentável e um novo urbanismo. Mas o socialista frustrou as expectativas dos empresários quando abordou a reforma tributária. “Não se faz reforma tributária da noite para o dia”, afirmou. O ex-governador de Pernambuco subiu um pouco o tom contra o governo federal no jantar na mansão de Doria Jr. Mesmo assim, não criticou de forma veemente a presidenta Dilma Rousseff.
Afinal, até pouco tempo atrás fazia parte da base de apoio do governo. Outro convidado, depois de ouvir atentamente o candidato do PSB, resumiu o sentimento da elite empresarial em relação ao desempenho do candidato. “Ele não conseguiu nos encantar.” Conquistar o Sudeste, no entanto, é fundamental para os planos de Campos de se tornar presidente. Estacionado na faixa dos 10% nas pesquisas de intenção de votos, o ex-governador de Pernambuco precisa ficar conhecido na região, que conta com os maiores colégios eleitorais do País. Na semana passada, depois do encontro com os empresários, o pré-candidato do PSB cumpriu uma ampla agenda de contatos.
Na quarta-feira 30, por exemplo, ele participou de um debate na Casa do Saber com 30 economistas. Um deles era Eduardo Giannetti, ligado a Marina Silva. Seus compromissos contemplavam também visitas ao Rio de Janeiro e a Belo Horizonte. Todo esse esforço é destinado a provar a paulistas, cariocas e mineiros de que é “o cara”. “Alguém tem de representar a mudança”, afirmou Marcos Magalhães, ex-presidente da Philips e membro do Lide Master. “O grande desafio de Campos será se fazer conhecido por aqui.” Não será, como resumiu Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine Luiza, uma tarefa fácil. “Todo esse discurso, que tem que mudar, todo mundo fala, né, gente?”