Até o início da segunda quinzena de julho, Wall Street era só alegria com o Google. As ações da empresa subiram mais de 25% só neste ano. O crescimento da participação da plataforma Android, hoje presente em três de cada quatro smartphones, e projetos de longo prazo, como os óculos inteligentes Glass, convenceram os investidores de que a empresa está no rumo certo. Mas essa certeza sofreu um certo abalo com a divulgação do balancete do segundo trimestre do ano fiscal, na quinta-feira 18. O lucro líquido da empresa aumentou 15,8% no período, em relação ao ano passado, para US$ 3,23 bilhões. O ganho por ação foi de US$ 9,56, contra os US$ 10,80 esperados pelo mercado. 

 

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Como migrar?: CEO do Google, Larry Page, precisa achar uma estratégia

para levar as receitas dos PCs para os smartphones

 

Essa diferença de pouco mais de um dólar até que não foi motivo para preocupação. O que ligou o alerta amarelo foram os dados dos resultados com a venda de publicidade. O preço médio por clique nos anúncios caiu 6%. O Google está provando, de certa maneira, de seu próprio veneno, reprisando a experiência da mídia impressa, que sofreu nas mãos do buscador. “O núcleo dos negócios da empresa é a publicidade, e esse segmento está amadurecido, com as margens encolhendo”, disse em entrevista à imprensa americana Colin W. Gillis, analista de tecnologia da BGC Partners. Ao fazer migrar seu conteúdo para a web, jornais e revistas se viram sem condições de cobrar o mesmo preço pela propaganda, derrubando assim suas receitas. 

 

Agora, é a migração do PC para o celular que faz a receita publicitária minguar. Um anúncio de busca no smartphone custa pouco mais que a metade do preço em relação ao desktop. Como a taxa de conversão de um clique para uma venda é menor nos dispositivos móveis, os anunciantes ficam receosos de investir. “Ainda é muito difícil fazer uma transação pelo telefone”, diz Gillis. Isso num momento em que as vendas de computadores estão fracas. No segundo trimestre, as vendas mundiais do segmento caíram 11% na comparação com o mesmo período de 2012. Segundo a IDC, foi o quinto trimestre consecutivo de queda. O mercado percebeu essa situação, derrubando em 3,1% suas ações até o final do mês passado.

 

Esse problema é similar ao enfrentado pelo concorrente Facebook. Em razão do fraco desempenho nos celulares, a empresa de Mark Zuckerberg nunca conseguiu retomar consistentemente o preço da ação a US$ 38, registrado no IPO, que aconteceu em maio de 2012. Desde então, o aplicativo da rede social mais popular do mundo sofreu reformulações bruscas. As queixas dos usuários diminuíram e o Facebook conseguiu estimular a publicidade nos telefones móveis. No último balanço, divulgado na quarta-feira 24, a participação desses aparelhos no faturamento com publicidade aumentou de 30% para 41% , entre o primeiro e o segundo trimestres, quando as receitas chegaram a US$ 1,6 bilhão. 

 

“Em breve vamos ter mais receita vinda dos dispositivos móveis do que dos PCs”, disse Zuckerberg. Nos cinco pregões após a divulgação do resultado, a ação da empresa tinha subido 41% e estava cotada em US$ 36,80, perto dos US$ 38 do IPO. O Facebook dá sinais de ter superado a barreira dos celulares e coloca pressão no Google. Se os negócios estão difíceis para empresas que nasceram na web, pior para aquelas que são da era offline, como a Microsoft. A criadora do Windows detém apenas 4,6% de participação no mercado global de publicidade online, estimado pela consultoria eMarketer em US$ 116 bilhões. 

 

Mas o desafio da empresa de Bill Gates na era da mobilidade é levar o Windows, sua principal fonte de renda, aos tablets e celulares. Não vai ser fácil. Google e Apple constituem atualmente um virtual duopólio, com 92,6% do mercado, segundo a consultoria Gartner. A companhia conseguiu reverter prejuízo de US$ 492 milhões no segundo trimestre de 2012 e lucrou US$ 4,97 bilhões entre abril e junho deste ano. Mesmo assim, os números decepcionaram. A empresa viu suas ações registrarem, no dia do anúncio do balanço, perda de 12%, a maior queda diária desde 2000. Mas não há jogo definido nessa área. O Yahoo!, há um ano sob a batuta da ex-Google Marissa Mayer, introjetou a agressividade da antiga empresa da CEO. 

 

Em 12 meses, foram feitas 16 aquisições de start-ups, uma boa parte a preço de banana: cinco delas custaram um total de US$ 16 milhões. Marissa não esconde estar priorizando empresas voltadas para equipamentos móveis e já declarou querer ao menos um aplicativo do Yahoo! em todos os aparelhos. A movimentação agradou aos investidores. A ação da empresa subiu mais de 75% desde que Marissa assumiu as rédeas da empresa. Seu antigo patrão, Larry Page, fundador e presidente do Google, não parece estar com uma estratégia tão clara. “A mudança de uma para múltiplas telas e a mobilidade criaram tremendas oportunidades para o Google”, disse Page. Resta saber se o CEO saberá tirar proveito delas. 

 

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