27/12/2013 - 21:00
A redução do índice de inflação não foi o único avanço da economia brasileira nas duas últimas décadas, na avaliação do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele destaca também a modernização institucional do País, que inclui a elaboração de novos marcos regulatórios, condição fundamental para a entrada de novos investimentos que vão garantir a melhora da infraestrutura e o crescimento econômico nos próximos anos. O desafio agora, diz o ministro, é continuar desindexando a economia e evitar a volta da correção automática dos salários.
Quais foram os maiores avanços desses últimos 20 anos?
Nesses últimos 20 anos foram criados os alicerces para o desenvolvimento sustentável. Sem esses alicerces, não teríamos conseguido a estabilidade que temos hoje. Mas os avanços não ocorreram apenas nos índices. Nesse período, as instituições democráticas foram aperfeiçoadas. Os fundamentos monetários, fiscais e cambiais foram solidificados. Uma parte disso foi feita em 1994 e 1995, mas continuou ao longo dos anos. Houve também um aperfeiçoamento dos marcos regulatórios. Isso é fundamental para a economia. Melhoramos o marco de energia elétrica, isso quando a presidenta Dilma Rousseff ainda era ministra das Minas e Energia. Temos um novo marco regulatório para saneamento, que aumentou os investimentos no setor. Agora, temos novas regras para as concessões de rodovias, ferrovias, aeroportos e portos. Também fizemos uma reforma na Previdência. O governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez um pedaço, nós fizemos outro pedaço. Isso vai reduzir o déficit nos próximos anos. Aperfeiçoamos as regras da poupança, melhoramos as regras para alienação fiduciária. Tudo isso é marco regulatório, que dá mais segurança jurídica e fomenta os investimentos.
A inflação caiu bastante, mas, nos últimos anos, manteve-se numa média mais elevada do que na década passada.
A inflação foi de 2,476%, em 1993. A média continua caindo. É um trabalho contínuo.
Nesse trabalho contínuo, qual é o desafio para os próximos 20 anos?
No caso da inflação, temos de continuar desindexando a economia. Também temos de elevar bastante o investimento, porque isso tem um efeito dinamizador sobre a economia, ao eliminar os gargalos que limitam o crescimento. Agora, o Brasil está adotando uma parte da estratégia da China e da Índia, que nos últimos anos conseguiram crescer muito com base no investimento elevado. A China, por sua vez, tem de estimular o mercado do consumo, que foi o que fizemos nos últimos anos. No Brasil, o consumo vai continuar crescendo, mas num ritmo inferior ao do investimento, que deve puxar a expansão, nos próximos anos. Temos um dos maiores programas de concessões do mundo, o que vai estimular muito a economia nos próximos períodos.
Como o sr. vê o Brasil daqui a 20 anos? Seremos um país moderno, com uma estrutura mais próxima da dos países desenvolvidos?
Os países ricos estão devagar, quase parando. Nossa renda per capita, em dez anos, vai subir uns 40%. O Brasil tem uma possibilidade de crescimento muito grande. Ainda temos uma demanda muito grande a atender.
De vez em quando surgem propostas de indexação, especialmente dos salários. O sr. vê algum risco de voltar a indexação?
Não vejo.