Não há melhor remédio para crises corporativas do que metas ambiciosas de expansão de negócios. Carlos Ghosn, CEO mundial da Renault-Nissan, que o diga. O brasileiro, que até então desfrutava de grande prestígio, viu sua imagem ser comprometida depois que demitiu, no começo deste ano, três executivos do alto escalão da francesa Renault por falsas denúncias de espionagem envolvendo os projetos de carros elétricos. Por conta do episódio, Ghosn também chegou a ter seu emprego ameaçado. 

Mas seu histórico de resultados  ajudou a mantê-lo na chefia do grupo que ele mesmo ajudou a projetar em nível mundial. Um dos destaques em sua folha de serviços foi justamente o trabalho de recuperação da controlada Nissan. Sob seu comando, a montadora japonesa saiu de um prejuízo de US$ 6 bilhões, em 1999,  para um lucro de US$ 2,7 bilhões em 2001. Como performance sempre foi o forte em sua trajetória, é exatamente com essa arma que Ghosn pretende colocar um ponto-final no episódio que pôs sua gestão em xeque. Na segunda 27, o executivo anunciou um plano de expansão global da Nissan para os próximos seis anos. 

 

62.jpg

Carlos Ghosn: Nissan terá fábrica no país para produzir 200 mil carros por ano, como o March (mais abaixo)

 

Batizado de “Nissan Power 88”, o projeto tem como objetivo elevar para 8% sua participação de mercado e seu lucro operacional, até março de 2017, quando se encerra o ano fiscal de 2016. “É um plano exigente, mas a nossa empresa tem um histórico comprovado de alcançar objetivos desafiadores”, disse Ghosn, em nota oficial. O programa surpreende pela ousadia, já que a Nissan fechou 2010 na sexta posição global do setor, com vendas de 4,18 milhões de unidades o que lhe garantiu uma fatia de 5,8% dos veículos comercializados no período. Na prática, isso significa que a empresa terá de crescer quase 40% em apenas cinco anos. 

 

Para cumprir este objetivo, Ghosn aposta suas fichas no lançamento de 66 modelos, além da expansão dos negócios nas nações emergentes. O Brasil ocupa um lugar especial nesta estratégia. Em 2010, foram vendidos apenas 26,9 mil veículos da marca no mercado brasileiro. Para acelerar o passo, Ghosn autorizou a construção de uma fábrica no País, com capacidade para produzir 200 mil veículos por ano. Trata-se de um número quatro vezes maior que a fabricação conjunta da Renault-Nissan, no complexo industrial situado em São José dos Pinhais , na região metropolitana de Curitiba. 

 

63.jpg

 

Procurados pela DINHEIRO, os executivos locais da montadora não quiseram se manifestar. Para o consultor Olivier Girard, sócio-diretor da Macrologística, além de poder ampliar sua atuação no Brasil, a unidade também poderia ser usada para atender os demais países da América do Sul. “É uma alternativa para desafogar as fábricas do México, que hoje exportam para os EUA e toda a América Latina”, diz Girard. 

 

No País, o principal trunfo da Nissan é o compacto March. O modelo começa a ser importado do México em outubro, mas deverá ser produzido aqui assim que a fábrica estiver pronta. O popular é a grande cartada da marca no mercado brasileiro, onde essa categoria representa 35,9% das vendas totais do setor no acumulado janeiro-maio, de acordo com a Fenabrave, entidade que reúne as distribuidoras de veículos. A montadora acredita que o March possa corresponder a 40% de seu crescimento até 2014, ano em que espera ter uma participação de 5% no Brasil. 

 

64.jpg

 

 

Para Letícia Costa, diretora do programa de pós-graduação do Insper, trata-se de uma meta bastante otimista, levando em consideração que com todos os seus modelos, a Nissan possui uma fatia ínfima de 1,2%,  atualmente.  “Apesar dos investimentos previstos pela Nissan, a concorrência no Brasil está cada dia mais acirrada, principalmente no segmento que o March vai atuar”, diz Letícia. As compatriotas Toyota e Honda, além das sul-coreanas Kia e a Hyundai, também pretendem ingressar nesse nicho. Por isso mesmo, Girard espera muito barulho daqui para a frente. “É uma estratégia bastante agressiva, bem ao estilo de Ghosn”, afirma.