16/02/2011 - 21:00
Duas palavras despertam um tipo de “estresse pós-traumático” no Brasil: inflação e apagão. O trauma da primeira está mais palatável, depois de 17 anos de estabilidade inaugurada com o Plano Real. A segunda, no entanto, até por ser mais recente e mais palpável para a sociedade, deixou cicatrizes que ainda estão na memória coletiva de quem viveu o apagão. Difícil esquecer o ano cinza de 2001, quando os brasileiros foram obrigados a conviver com um sombrio racionamento, que afetou todos os setores, indistintamente.
Esse fantasma voltou ao imaginário popular neste início do governo da presidente Dilma Rousseff com a queda de energia no Nordeste no dia 3 de fevereiro. Por cinco horas, faltou luz em oito Estados, resultado do defeito em uma subestação em Pernambuco. Espalhou-se de boca em boca a expressão “apagão do Nordeste”.
A presidente Dilma, oriunda do setor elétrico, cobrou explicações sobre o blecaute no Nordeste
Bastou outra queda de energia de 23 minutos em São Paulo, no dia 8, para que as redes sociais já cravassem que era o apagão paulista. Ex-ministra de Minas e Energia, Dilma pediu explicações para o ocorrido.
Sobrenatural à parte, o fato é que o Brasil está longe da realidade do último período de mandato do presidente FHC. E quem garante não é o governo, mas alguns dos principais interessados, ou seja, a indústria que mais depende do insumo.
“Não há problemas de suprimento de energia no País”, diz Paulo Pedrosa, presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais de Energia (Abrace), que reúne grandes consumidores como Gerdau, Rhodia e Alcoa.
Segundo Pedrosa, nos últimos anos as decisões no setor elétrico priorizaram a segurança do sistema, exatamente para evitar um apagão de verdade como o de uma década atrás. “Tecnicamente o que aconteceu agora é diferente, o nó era estrutural – havia incapacidade de ofertar energia”, diz.
Um técnico do Operador Nacional do Sistema (ONS), órgão de coordenação do setor elétrico, resume a questão: “O que tivemos foi um blecaute, nome que se dá a ocorrências temporárias”, diz.
Os estudos mais recentes sobre o setor sustentam a tese do presidente da Abrace. É o caso do Plano Decenal de Energia, formulado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que projeta a oferta e demanda de energia entre 2010 e 2019.
O trabalho mostra que há uma reserva de 5,5 mil megawatts médio para 2011, o que equivale a um excedente de 9,4% – a previsão é de que a demanda total chegue a 59.316 MW médio para uma oferta de 64.107 MW médio.
O “superávit energético” até 2019 varia de 6% a 10%, segundo a EPE. Em 2001, ao contrário, houve déficit de oferta – o ONS já fazia alertas de que havia risco de déficit de 20%, quatro vezes acima do aceitável.