22/08/2014 - 20:00
“Eduardo presente, Marina presidente!” tornou-se o novo grito de guerra de pessebistas e marineiros. Sem dúvida, a presença do falecido governador Eduardo Campos se fazia sentir na pequena e abafada sala onde as principais lideranças do PSB se reuniam, na sede do partido em Brasília, na quarta-feira 20. Eles estavam lá para oficializar a candidatura de Marina Silva a presidente da República pelo partido, ao qual se filiou em outubro do ano passado. A ambientalista, ex-senadora pelo Acre, onde nasceu em 1958, prometeu manter no programa de governo, que deve ser lançado em setembro, os pontos acordados com Campos, morto num trágico acidente aéreo no dia 13 de agosto.
A aliança entre PSB e Rede Sustentabilidade, grupo liderado por Marina que ainda não se tornou um partido, conseguiu chegar a alguns consensos, especialmente em questões de macroeconomia. Ambos defendiam a autonomia do Banco Central – embora ela ainda não tenha deixado claro se é favorável à independência formal – e uma gestão mais austera dos gastos públicos. Mas ela ainda não conseguiu o apoio que Campos já vinha conquistando no setor privado. “Preocupação” é a palavra que mais se ouve em referência a um possível governo Marina Silva, de empresários temerosos que ela atrase a liberação de obras importantes para a infraestrutura de transportes e energia.
Em geral, o setor produtivo, que anda descontente com as intervenções econômicas de Dilma Rousseff, demonstra preferência pelo tucano Aécio Neves, que tem ideias liberais. A nova candidata do PSB sofre com a herança da sua atuação como ministra do Meio Ambiente no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre 2003 e 2008. Ela deixou o governo em meio a embates com outros ministros, especialmente a presidenta Dilma Rousseff, na época ministra-chefe da Casa Civil. Obras como as usinas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia, só saíram depois que ela deixou o cargo.
Também comprou briga com o agronegócio, contrária à regularização de áreas ocupadas pela agricultura e à liberação dos transgênicos. Para reduzir as resistências de um setor que representa 23% do Produto Interno Bruto (PIB) e 44% das exportações, o PSB, presidido por Roberto Amaral, trouxe o deputado gaúcho Beto Albuquerque para a vaga de vice da chapa. É o noivo ideal para o casamento de Marina. Em seu quarto mandato na Câmara dos Deputados, Albuquerque foi um dos principais articuladores da liberação do plantio de soja transgênica no Brasil e tem ótimas ligações com o setor.
“É preciso respeitar a agricultura brasileira, que é um motor importante de geração de emprego, renda e desenvolvimento dos Estados brasileiros”, afirma. A própria Marina já começou a aparar as arestas. Na semana passada, defendeu a implementação do Código Florestal, afirmando que ele ajuda na preservação das florestas, e disse acreditar que muitos produtores concordam com suas preocupações ambientais. “Tem muita gente que está na vanguarda de integrar economia e ecologia, e uma grande parte está esperando para ver como vamos aumentar a produção por ganho de produtividade, usando cada vez menos recursos naturais”, afirmou.
Para muitos, o discurso mais ameno não foi suficiente. Glauber Silveira, presidente da Câmara Setorial da Soja e diretor da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja), reclama da falta de diálogo. “Quando ela foi ministra, nunca quis conversar. E não é possível governar desse jeito”, afirma. A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) não quis comentar a mudança na chapa, mas divulgou uma nota reafirmando que entregou suas propostas a todos os candidatos. Além do agronegócio, outro setor que olha para a nova candidata do PSB com desconfiança é o de energia.
Após a formalização da chapa, Marina defendeu a diversificação da matriz energética, com o uso de energia solar, eólica e biomassa, mas condenou as usinas termoelétricas. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, vê Marina como uma “incógnita”, apesar de considerar positiva a presença de Beto Albuquerque na chapa. “Precisamos de energia para crescer e desenvolver a economia”, afirma Barbato.
Para o diretor-presidente da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica (ABCE), Alexei Vivan, Marina mudaria sua atitude se fosse eleita. “No Ministério, a função dela era cuidar do meio ambiente, mas como presidente ela teria de pensar no todo”, diz Vivan. Um elemento a favor de Marina é a presença de respeitados conselheiros econômicos, como André Lara Resende e Eduardo Giannetti. Uma boa imagem no mercado é fundamental para arrecadar recursos suficientes durante a campanha eleitoral.
Na primeira prévia, o PSB havia arrecadado R$ 12,2 milhões, juntando candidato e comitê. A boa posição na pesquisa Datafolha divulgada na segunda-feira 18 – Marina tem 21%, empatada tecnicamente com Aécio na segunda posição – deve ajudar na hora de convencer os doadores. “Temos esperança de que a arrecadação melhore”, diz o ex-deputado Mauricio Rands, coordenador do programa de governo do PSB. “Hoje a campanha é uma fartura. Farta tudo”, brinca ele. Um cenário que as próximas pesquisas podem ajudar a mudar.