02/06/2016 - 18:30
O pesquisador Eduardo Assad advoga em favor de uma pecuária mais eficiente há pelo menos uma década. Dividindo seu tempo entre a Embrapa e a GVAgro, braço de agronegócio da Fundação Getúlio Vargas, Assad calcula que é possível aumentar o rebanho brasileiro das atuais 200 milhões de cabeças de gado para 324 milhões, sem adicionar um centímetro sequer de pasto. “É possível, apenas com gestão do solo e tecnologia”, diz. “Na Embrapa estamos falando isso há muito tempo.” Essa também é a opi-nião do argentino Fabian Gil, presidente da americana Dow na América Latina.
“Podemos ao menos dobrar a quantidade de animais por hectare”, diz o executivo, que assumiu o comando da segunda maior empresa química do mundo, com faturamento de US$ 58 bilhões no ano passado, em dezembro. “E temos visto isso na prática.” Gil se refere ao projeto Carbono Araguaia, iniciativa patrocinada pela companhia que reúne pecuaristas do Mato Grosso e busca recuperar áreas de pasto degradado. Cerca de 50 mil hectares de terra já passaram pelo processo – a meta é alcançar 72 mil hectares este ano – com resultados animadores: aumento de 30% na produção e redução de 10% nas emissões de gases que causam o efeito estufa.
Isso é possível graças ao uso de dados de satélites, estações climáticas e análises de solo, que permitem uma melhor gestão dos insumos agrícolas. A técnica envolve também a intercalação de lavoura e pecuária, conforme explica Assad. “Em um quarto das terras, o fazendeiro planta milho ou soja. As sobras dessas culturas ajudam a fortalecer o solo”, afirma o pesquisador. Mais do que um projeto de susten-tabilidade, para a Dow, a iniciativa reflete uma mudança de posicionamento, que vem tomando forma há cerca de dois anos, e envolve fusão com a compatriota Dupont, anunciada em dezembro do ano passado.
Após sua conclusão, a união formará a DowDupont, uma gigante com valor de mercado superior a US$ 120 bilhões e US$ 90 bilhões de receita. A união tem como pano de fundo a busca por mercados mais rentáveis. A Dow vem se desfazendo de negócios de baixo valor agregado para se concentrar em áreas que envolvem mais tecnologia. Em 2013, vendeu sua divisão de tintas para o grupo Carlyle, por US$ 4,9 bilhões. No ano seguinte, negociou com a americana Olin sua unidade de fabricação de produtos a base de cloro, por US$ 5 bilhões.
A empresa vinha enfrentando críticas de investidores ativistas, como Daniel Loeb, do fundo Third Point, que demandavam mais velocidade na mudança de rota. O CEO Andrew Liveris respondeu com investimentos em pesquisa e com a fusão. No caso do agronegócio, setor que deve responder por 23% da DowDupont, o investimento em soluções sustentáveis está ligado a uma mudança de mercado, que vem forçando as empresas de agroquímicos a procurarem novos ares. “Estamos entrando na segunda geração de transgênicos”, afirma Assad. “O foco, agora, está em fazer melhorias genéticas para tornar as plantas mais resistentes a temperaturas elevadas e escassez de água.
Antes, o objetivo era torná-las mais resistentes a produtos químicos.” Com essa tecnologia, a tendência é de uma diminuição no uso de defensivos agrícolas. Segundo Gil, o uso consciente de produtos químicos é bom para os negócios. “Não é necessário prejudicar o meio ambiente para aumentar a produtividade”, diz o executivo. “Esse é o nosso posicionamento em todos os mercados.” Para que isso seja uma realidade, no entanto, é preciso educar os consumidores. É aí que entram os Jogos Olímpicos Rio 2016. Patrocinadora oficial, a Dow usa o evento como vitrine para suas iniciativas. A meta é zerar as emissões do evento, estimadas em 500 mil toneladas.
Para isso, colocou em prática uma série de iniciativas, que incluem o projeto Carbono Araguaia. Ela também forneceu painéis termoisolantes, feitos de espuma de poliuretano, usados na construção do prédio sede do Comitê Organizador, no Rio de Janeiro. O material gera uma economia de energia que pode chegar a 70%. Em suas fábricas de Aratu, na Bahia, o gás natural foi substituído por biomassa nas caldeiras, o que deve mitigar 100 mil toneladas de CO2 por ano. Outra frente de atuação é no setor de embalagens, no qual a empresa desenvolveu um novo material, o microfoamig, mais leve e rentável do que os plásticos usados atualmente. Sustentabilidade, afinal, é um bom negócio.