A passagem de Lula pela Presidência da República alterou drasticamente a condução da política externa. Acostumado à calmaria internacional, o Brasil da dupla Lula-Celso Amorim se envolveu intensamente em grandes discussões mundiais, desde a queda de Manuel Zelaya, em Honduras, até a mediação do distante conflito Israel-Palestina. Nem sempre bem-sucedida, a impetuosa política externa levada a cabo pelo Itamaraty desde 2003 foi consequência natural do crescimento econômico do Brasil, mas, acima de tudo, refletiu a obsessão de Lula por fortalecer o País lá fora e aumentar sua influência no cenário global. 

 

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Dilma, na Onu: ela seguirá com a política de afirmação do Brasil no G20

 

Dilma assume a Presidência com a missão de consolidar o protagonismo internacional do Brasil, principalmente na América do Sul, onde já existem desafios urgentes, como, por exemplo, pacificar a situação política no Equador.

 

A própria Dilma já sinalizou que não deve se envolver com intensidade em assuntos como Farc, programa nuclear iraniano e Honduras – até porque seus maiores desafios serão internos. 

 

“Não temos por que participar, a não ser a pedido da Colômbia, para qualquer atividade de pacificação ou de diálogo com as Farc”, disse a então candidata, depois de encontro com o presidente colombiano, Juan Manuel Santos. 

 

Em relação a Honduras, já no fim de 2009 Dilma dizia que o Brasil deveria reconhecer o novo presidente, Porfírio Lobo, contradizendo Lula. Sobre Hugo Chávez, disse que “é um presidente com quem teremos de conviver”. 

 

O esperado abrandamento deve ser coroado por uma melhoria das relações com os Estados Unidos. “Dilma deve recuperar um pouco do que foi, no passado, a política externa brasileira, voltada para o pragmatismo, para os interesses econômicos do País”, diz Sandra Rios, do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento. 

 

A presidente o fará, contudo, sem deixar as linhas mestras estabelecidas por Lula, disse à DINHEIRO Marco Aurélio Garcia, assessor internacional da Presidência e coordenador da campanha de Dilma. “Será fundamental que amarremos institucionalmente o Mercosul”, disse ele.

 

Longe das grandes polêmicas internacionais, o governo Dilma pode até avançar com mais eficiência do que Lula no Exterior. “O Brasil vai aumentar a sua dedicação a temas menos grandiloquentes, tanto no G20 como na Organização Mundial do Comércio”, prevê Ricardo Sennes, diretor da consultoria Prospectiva. “Sinto que Lula passou um pouco do limite, gritou um pouco demais. 

 

Agora, o Brasil se beneficiaria de um período de maior modéstia internacional e de maior esforço para melhorar a comunicação com os Estados Unidos”, considera Peter Hakim, presidente do Diálogo Interamericano. 

 

Nesse sentido, Dilma será a candidata perfeita para administrar uma política externa mais modesta em termos de projeção pessoal, mas com mais resultados práticos no comércio e no alinhamento político com parceiros tradicionais.

 

A prioridade de Dilma para questões internas indica a necessidade de o próximo governo optar por um chanceler experiente. Ponto para Celso Amorim, que pediu para permanecer no cargo. Mas a vaga ainda não foi definida. 

 

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Se Amorim sair e puder fazer seu sucessor, o mais cotado é o ex-embaixador nos EUA e secretário-geral do Itamaraty, Antônio Patriota. Guilherme Patriota, irmão de Antônio, deixou as Nações Unidas no mês passado para integrar a assessoria internacional da Presidência e deve participar da transição para o próximo governo. 

 

Marco Aurélio Garcia, ele mesmo uma possibilidade para o Itamaraty, se diz confortável onde está. Posto o quadro, resta saber se o futuro ex-presidente Lula irá só observar a continuação abrandada da política externa conduzida por ele ou se tentará influir na gestão Dilma.