22/02/2013 - 21:00
Ao se encontrar com o presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, em Abuja, no sábado 23, a presidenta Dilma Rousseff desempenhará um papel decisivo para o futuro das relações comerciais entre os dois países. Mesmo que não assine um documento oficial, ou não venha a tratar especificamente sobre comércio ou investimento nessa passagem, uma boa química entre os dois chefes de Estado pode ajudar as empresas brasileiras a incrementar seus laços com o país, que tem a maior população, com 170 milhões de habitantes, e a segunda maior economia daquele continente, atrás apenas da África do Sul, graças a um PIB de US$ 240 bilhões.
Fileira de negócios: as empresas brasileiras estão de olho na expansão acelerada
do PIB africano, como o da Nigéria
“Na África, as relações comerciais nunca são meramente comerciais”, diz o ministro Rubens Gama, diretor do Departamento de Promoção Comercial e Investimento do Itamaraty. Em outras palavras, os negócios só começam depois que uma relação de confiança é firmada entre os mandatários. As empresas estão de olho numa região que deve crescer 5,8% neste ano, segundo a projeção do Fundo Monetário Internacional, e que se consolida como um grande fornecedor de matérias-primas. Além disso, começa a desenvolver seu mercado consumidor. Com um bilhão de habitantes, o continente cresceu 9,2% no ano passado e registrou um PIB de US$ 1,8 trilhão.
O potencial é grande, especialmente para obras de infraestrutura e exportação de produtos industrializados. Um levantamento do Itamaraty mostra que 34 companhias do Brasil já operam em 26 países africanos. O comércio bilateral, porém, ainda é pequeno, com uma pauta do século 19. Açúcar, carnes e cereais, especialmente soja, respondem por dois terços das exportações brasileiras para a África. A importação também é concentrada em petróleo e derivados, o equivalente a 83% do total. “É um comércio muito baseado em commodities”, afirma Gama. “Há muito espaço para diversificação.” Entre os empresários interessados em ampliar a pauta de negócios com o continente africano estão os exportadores de frango.
Ferreira, da Vale: projeto de exportação de carvão a partir de Moçambique
para a China e a Índia
Eles já embarcam para a África 15% do total vendido pelo País ao Exterior, o equivalente a um volume de 591 mil toneladas, que rendeu receitas de US$ 822 milhões no ano passado. Mas ainda não exportam para a Nigéria. “O mercado nigeriano é fechado, com preços elevados e consumo pequeno”, diz o gerente de Mercados da União Brasileira de Avicultura, Adriano Nogueira Zerbini, que acompanha a comitiva da presidenta Dilma. Os investimentos brasileiros na África começaram há quase três décadas, com a chegada da Vale e da Petrobras para explorar minério de ferro, níquel, manganês e petróleo, algumas das principais riquezas do continente. Hoje, a Petrobras atua em sete países da região.
A Vale, comandada por Murilo Ferreira, participa do projeto que está tornando Moçambique um grande exportador de carvão, com a exploração de uma bacia carborífera em Moatize, no noroeste do país. O projeto já consumiu US$ 4,5 bilhões. Outros US$ 4 bilhões serão investidos nos próximos dois anos, com a construção da infraestrutura para levar o carvão até o porto de Nacala, na costa leste moçambicana, de onde seguirá para a China e a Índia. Nesse projeto, a Vale terá a parceria de outras empresas brasileiras, como Odebrecht, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez. O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Moçambique, Rodrigo de Oliveira, estima que o investimento brasileiro feito desde 2005 no país, passe dos atuais US$ 6 bilhões para US$ 14 bilhões.
O crescimento acelerado das economias africanas vem atraindo, ainda, a atenção de empresas de varejo e serviços. Angola, na costa oeste do continente, por exemplo, foi o destino de companhias brasileiras de commodities e infraestrutura nos anos 1980. Nos últimos anos, o país recebeu uma segunda onda de investimentos brasileiros. O crescimento econômico superior a 20% nos anos anteriores à crise de 2008 e a previsão de expansão de 5% ao ano nos próximos anos está dando uma cara “brasileira” ao comércio da capital, Luanda. Lá se encontram filiais de marcas como Fisk, Livraria Nobel, Mundo Verde, O Boticário, Richards e Sapataria do Futuro. Pelo menos em Angola a diversificação já começou.