Uma conferida rápida no noticiário internacional pode desanimar qualquer investidor. A economia americana vai mal. O Produto Interno Bruto (PIB) americano recuou 0,9% no segundo trimestre e caiu 1,6% entre janeiro e março, deixando o país em recessão técnica no primeiro semestre. Do outro lado do Pacífico, o PIB chinês cresceu apenas 0,4% entre abril e junho. Foi o pior desempenho desde 1992, início da série histórica. A situação da Europa não é melhor. A invasão russa à Ucrânia fez disparar os preços dos combustíveis e da energia. Como resultado, a inflação explodiu. No Reino Unido, a alta acumulada nos 12 meses até julho bateu em 10,1%, maior elevação em 40 anos.

Tanta notícia ruim freia qualquer otimista. Mesmo assim, os analistas dizem acreditar que o momento é propício para investir fora do Brasil. “Ter parte de seu patrimônio em moedas fortes é fundamental”, disse Rodrigo Cabraitz, especialista de alocação da Claritas. “Em momentos de incerteza há uma diminuição do apetite por moedas de países emergentes, como o real.” Outro argumento é a diversificação. Para o CIO da Gama Investimentos, Ian Cao, o Brasil ainda não possui um mercado de capitais amplo, por isso fica mais difícil para o investidor diversificar sua estratégia. “Temos cerca de 100 ações no Ibovespa”, disse Cao. E há mais um motivo. O movimento é mais nítido nos Estados Unidos, mas já começou na Europa também: para conter a inflação, os bancos centrais estão elevando os juros, o que melhora a rentabilidade das aplicações em renda fixa.

Outra razão para a diversificação é o dólar, sempre um porto seguro em momentos de crise. “Os EUA são um local de proteção para o capital por serem a maior economia do planeta, o que aumenta a procura por dólares”, disse Cabraitz. No longo prazo, os investimentos em moeda forte sempre funcionaram como uma proteção contra a inflação brasileira, e isso não mudou. Qualquer estratégia sólida de investimentos tem de contar com uma parcela dos recursos vinculada ao dólar.Segundo os analistas, as vantagens de investir em moeda forte tornam interessantes as aplicações na renda fixa americana.

“Nos Estados Unidos você encontra empresas excelentes, não só americanas, mas também de Europa, Ásia e América Latina” William Alves estrategista-chefe da corretora Avenue.

Pode parecer estranho investir em um país onde a taxa básica de juros é de 2,5% ao ano, enquanto no Brasil a Selic está em 13,75% ao ano. No entanto, é preciso ficar atento aos ganhos com a valorização do câmbio. “No Brasil temos títulos de renda fixa que pagam 14% ao ano. No entanto, quem investe lá fora ganha com os juros e também com a alta do dólar”, disse o estrategista-chefe da Avenue, William Castro Alves. “O investimento vai render 7% ou 8% mais a variação do dólar”, disse. “Se o título render 8% e o dólar subir 10% em um ano, o rendimento será de 18%.” Por isso, as recomendações dos analistas para investimentos internacionais não ignoram a renda fixa. As carteiras sugeridas para a DINHEIRO incluem participações de 85% a 40% em renda fixa, dependendo da tolerância do investidor ao risco.

DIVERSIDADE Para Castro Alves, a diversificação tem outra vantagem. Ela permite ao investidor atenuar o efeito dos solavancos da economia brasileira sobre seu dinheiro. “Se o Brasil bombar, quem aplicou aqui vai se dar muito bem. Porém, se as coisas forem mal, os ativos e o real vão por água abaixo”, afirmou.

Na hora de diversificar, os analistas são unânimes em recomendar o mercado americano como o mais promissor. Para Castro Alves, da Avenue, uma das maiores vantagens é a possibilidade de investir no mundo todo a partir de Wall Street. “As ações da XP estão nos EUA, os papéis da Ferrari também, assim como as ações do Manchester United”, disse ele. “Empresas do mundo inteiro são listadas na bolsa americana.”

Ainda com todos esses motivos, muitas pessoas não aplicam seu dinheiro lá fora por medo da burocracia, visto que antigamente era necessário ter uma conta em uma corretora gringa, mas isso mudou. “Hoje em dia, se tornou algo mais fácil e confiável. Temos instituições que fazem isso aqui no Brasil, como o Banco Inter e a XP Investimentos”, disse Alves.