Com uma fortuna avaliada em US$ 2,7 bilhões, o empreendedor americano Peter Thiel está no centro de uma disputa jurídica polêmica nos Estados Unidos, que está mostrando uma faceta sua pouca conhecida do grande público: a vingativa. 

Conhecido por ser um dos seis criadores da plataforma de pagamento online PayPal, lançada em 1998 e vendida em 2012 por US$ 1,5 bilhão ao eBay, Thiel financiou secretamente um processo do lutador de luta livre, ator e empresário Hulk Hogan contra o grupo de mídia Gawker, que controla sites como o Gizmodo, Lifehacker e Valleywag. Este último veículo, aliás, é o olho do furacão dessa história. Conhecido por publicações ácidas sobre as celebridades, que muitas vezes beiram a pura fofoca, o Valleywag divulgou, em 2012, um vídeo que flagra Hogan transando com a mulher de um amigo. A Justiça condenou a editora a pagar uma indenização de US$ 140 milhões, que a levou a pedir falência, na sexta-feira 10. 

Em comunicado, Thiel confirmou que gastou US$ 10 milhões para financiar esse processo. E teria disposição para apoiar outros processos contra a editora, com base nas supostas injúrias que já divulgou. “Estou dando apoio a outras pessoas que foram prejudicadas pela Gawker, que rotineiramente age imaginando que vítimas menos abonadas não teriam recursos contra suas claras violações”,afirmou o executivo, que é cofundador da empresa de venture capital Founders Fund –  com a qual aportou US$ 200 milhões para o site de aluguel de casas e quartos Airbnb e  E 11,6 milhões para o aplicativo de streaming de música Spotify. Ele também dá suporte à diversas iniciativas assistenciais, como Human Rights Foundation e, quem diria, ao Comitê de Proteção aos Jornalistas. O executivo, que completará 49 anos em outubro, ainda é dono da Palantir, empresa que faz análise de dados para a CIA.

O que torna a situação um angu de caroço é que o próprio Thiel, que foi um dos primeiros investidores do Facebook, já  também foi alvo da Valleywag inúmeras vezes. Um dos motivos que a imprensa americana supõe ter levado o executivo a dar suporte a essa briga de peso é o fato de o blog ter afirmado, em 2007, que Thiel seria gay. 

Independentemente da orientação sexual do executivo, que não foi declarada publicamente até hoje, o fato é que o artigo, publicado em dezembro daquele ano, faz até mesmo uma defesa de uma liderança arco-íris no mundo dos negócios no Vale do Silício, considerada pela publicação um antro machista. “Eu acredito que isso explica muito sobre Thiel: seu desdém por convenções, sua busca por contrariar regras estabelecidas. Igual ao imigrante judeu que criou Hollywood há um século, um investidor gay não tem como se encaixar no velho establishment. O que deixa ele ou ela livre para construir um sistema diferente para identificar e recompensar talentos individuais”, escreveu o jornalista Owne Thomas, no artigo “Peter Thiel is totally gay, people”. Em setembro de 2013, outro tijolaço da Valleywag, em artigo sobre o apoio de Thiel ao senador republicano Ted Cruz, candidato derrotado nas prévias do partido à presidência dos Estados Unidos. Thiel foi chamado de gay e maconheiro, em um momento em que a erva é liberada nos Estados Unidos e a comunidade gay luta para ganhar respeito em todas as esferas da vida e do poder.