29/01/2016 - 20:00
Na quarta-feira 27, oficiais de alta patente do Pentágono, o comando militar dos Estados Unidos, defenderam, perante o congresso, o uso de equipamentos russos para enviar satélites militares do país ao espaço. A polêmica se deu após o senador republicano John McCain, ex-candidato à presidência em 2008, afirmar que a utilização de tais equipamentos coloca a segurança americana em risco, em especial os motores fabricados pela empresa NPO Energomash, cujos controladores teriam proximidade com o presidente russo Vladimir Putin.
Há algumas décadas, seria impensável imaginar a Rússia fazendo parte do programa espacial da poderosa Nasa, a agência espacial americana. A questão é que, há cinco anos, o governo dos EUA cancelou o programa do ônibus espacial e deixou de se responsabilizar diretamente pelo transporte de satélites e astronautas para fora da órbita terrestre. Foi assim que surgiu o mercado privado de viagens espaciais. Agora, são empresas especializadas no ramo, como SpaceX, Blue Origin e Virgin Galactic, além de tradicionais fornecedores de equipamentos militares, como Boeing e Lockheed Martin, que se encarregam da tarefa.
Algumas delas, usando equipamentos “comunistas”, como seriam classificados os foguetes russos há algumas décadas. Essa corrida privada ao espaço já fez despontar alguns nomes e, consequentemente, rivalidades. Sem dúvida, é o empreendedor/celebridade sul-africano Elon Musk quem melhor personifica esse novo “bilionário do espaço”. Musk, o fundador da fabricantes de carros elétricos Tesla, é também dono da SpaceX, até o momento a mais bem sucedida companhia de transporte sideral do mundo.
No ano passado, a empresa realizou com sucesso seis lançamentos de satélites, contratados pela iniciativa privada. Colocar esse tipo de equipamento em órbita é o grande negócio que Musk e seus competidores querem explorar. A criação desse mercado, que já movimenta cerca da US$ 6 bilhões, representa uma verdadeira revolução na exploração espacial. Anteriormente, qualquer interessado em instalar um satélite teria de confiar em uma agência governamental, como a Nasa, esperar muito tempo e gastar uma verdadeira fortuna.
Hoje, ainda se gasta uma verdadeira fortuna, é verdade, mas o custo diminuiu. Estima-se que um lançamento da SpaceX sai por cerca de US$ 100 milhões, um valor alto, porém acessível para muitas empresas. Já o tempo de espera por uma oportunidade saiu da faixa anual para a mensal. Ainda que a fila seja muito grande. Isso, na verdade, é uma boa notícia para o setor. A empresa de Musk calcula que terá de dobrar a produção para dar conta do seu estoque de pedidos. Isso significa fazer um lançamento por mês, e bem sucedido. Essa é a parte difícil do negócio.
Enviar coisas para o espaço continua sendo complicado e arriscado. O problema não é chegar lá, mas voltar em segurança. Há duas semanas, a SpaceX viu um dos seus foguetes Falcon 9, não tripulado, espatifar-se ao errar na aproximação da plataforma. Foi a terceira vez em 12 meses que a companhia sofreu esse tipo de prejuízo. O que Musk está tentando fazer, na verdade, é criar uma forma de reutilizar seus foguetes. Isso sim daria a esse mercado uma nova dinâmica. A questão é que o risco ainda é muito alto. Segundo o empreendedor, as chances de recuperar um foguete são de uma em cinco.
Caso seja possível usar a mesma espaçonave, o custo de lançamento deve cair para um pouco mais do que o montante necessário para abastecê-la, de cerca de US$ 200 mil. Seus concorrentes sabem disso. Ou seja, a verdadeira corrida não é para chegar ao espaço, mas para voltar dele. No dia 22 de janeiro, a Blue Origin, criada por Jeff Bezos, o fundador da varejista Amazon, conseguiu fazer um foguete decolar e pousar por duas vezes. Foi um marco importante, mas que ainda precisa de alguns avanços, já que a espaçonave não chegou realmente a ultrapassar a orbita terrestre.
Correndo por fora está a Virgin Galactic, do não menos bilionário Richard Branson. Ao contrário das outras duas, que utilizam foguetes, a Virgin Galactic aposta em um ônibus espacial, que pousa como um avião. “A nossa nave nos dá a possibilidade de fazer viagens espaciais ponto a ponto, a deles não”, disse Branson, durante o Fórum Econômico Mundial, realizado na semana retrasada, na Suíça. O que ele pretende é fazer viagens turísticas. Enquanto isso, a Nasa só deve voltar a levar seus astronautas ao espaço a partir de 2020. Até lá, terá de continuar a pegar carona com os russos.