Não faz muito tempo, o Brasil parecia dar os primeiros passos para sair do topo do ranking dos mais altos juros do mundo. Antecipando uma desaceleração na economia global, o Banco Central (BC) iniciou no segundo semestre de 2011 um ciclo de afrouxamento monetário que reduziu a taxa básica (Selic) para 7,25% em outubro de 2012 , o menor nível da história. Agora, com o susto do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 5,91% no ano passado e a projeção de uma inflação em torno de 6% para este ano, o BC faz o caminho inverso. Na semana passada, elevou a taxa de 10% para 10,5% ao ano. Mas, na avaliação dos analistas, este ainda não é o final do ciclo de alta. 

 

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Tombini, o equilibrista: o desafio é domar o dragão da inflação sem asfixiar a economia

 

O desafio, agora, é combater a inflação sem asfixiar uma economia que já cresce pouco. “Se a alta dos juros for muito acentuada, o BC pode jogar a economia numa recessão e colher o pior dos dois mundos: uma economia estagnada, mas com inflação em crescimento”, afirma o economista Júlio Gomes de Almeida, ex-secretário do Ministério da Fazenda. Apesar do crescimento fraco, o mercado de trabalho continua forte e é uma das principais fontes de pressão sobre os preços, em especial no setor de serviços. No ano passado, os serviços subiram 8,75%. “O BC demorou a aumentar os juros e não se comprometeu a entregar o centro da meta de 4,5%, em 2013, levando o mercado a achar que ele está contente com 6%”, diz o economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio.

 

Depois de ignorar os primeiros sinais de febre, o BC pode ter dificuldade para controlar a doença. “Se o governo quiser efetivamente levar a inflação para o centro da meta, a taxa de desemprego terá de aumentar”, diz Camargo. Sem isso, afirma, é difícil que os preços recuem, já que a política fiscal continua expansionista. Mas é ainda mais difícil imaginar que o governo abra mão de seu maior trunfo, em pleno ano eleitoral. Em outras palavras, vida dura para o presidente do BC, Alexandre Tombini, que terá de controlar a alta do custo de vida e equilibrar o PIB, sem cair da corda bamba.

 

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