31/10/2014 - 20:00
A rotina do gaúcho Francisco Valim mudou radicalmente há seis meses. Até abril deste ano, Valim presidiu a Via Varejo, e antes disso chefiou gigantes corporativos como Oi e Serasa Experian. Agora, o administrador de 51 anos decidiu ajudar empresários iniciantes em sua trajetória. Para isso, criou o fundo Bambuza Capital, que pretende captar até R$ 30 milhões nos próximos meses. “O objetivo é investir em empresas iniciantes de diversos setores e auxiliá-las a estruturar o modelo de negócios e a governança”, diz ele. O nome da gestora faz referência ao bambu, planta flexível, que resiste a tempestades e cresce rápido.
A virada na carreira do executivo veio pelas redes sociais. Quando saiu da varejista, Valim atualizou seu perfil no Linkedin e alterou seu interesse de varejo para venture capital. Com isso, atraiu dois jovens, os cariocas Gregorio Kelner e André Castelar, ambos na casa dos 20 anos. Egressos do mercado financeiro, eles buscavam um sócio para descobrir startups promissoras. Atualmente, Valim e sua equipe investem em dez empresas dos segmentos de moda, bebidas e tecnologia. “Nossa captação inicial foi feita com investidores-anjo e alguns fundos”, diz Valim.
“Acreditamos que a indústria de venture capital no Brasil ainda precisa amadurecer e queremos contribuir para isso.” O Bambuza vai fazer aportes nas empresas, de R$ 250 mil a R$ 3 milhões, e também vai assessorá-las na gestão. Com isso, a rotina de Valim mudou. Ele não possui mais escritório. As reuniões ocorrem em cafés, restaurantes ou onde for mais conveniente para os investidores. Semanalmente, ele e seus sócios analisam em média 15 empresas. Para manter os custos baixos, Valim cortou os salários – a começar pelo próprio. “Não temos remuneração fixa, só vamos ganhar dinheiro se as empresas derem certo”, diz. Para reduzir os riscos, a seleção é rigorosa. O Bambuza analisa dezenas de planos de negócio por semana.
Na ponta do lápis, uma a cada 100 empresas vai dar lucro. Uma das primeiras escolhidas foi a Kanai, da pequena cidade de Alumínio, interior de São Paulo. Fundada por Rafael Luques, a companhia engarrafa suco de cana-de-açúcar e distribui a famosa garapa no Rio de Janeiro e em Santa Catarina, além de exportar para Suiça, Itália, Portugal e Espanha. “Atingir o mercado global não fazia parte de nossos planos”, diz Luques. Atualmente, a exportação da Kanai responde por 40% do faturamento, não revelado. “Essa empresa estava pronta, só precisava de mais força para distribuir seu produto”, diz Valim. “Quando investimos em uma empresa, não esperamos um crescimento de 10% a 15%, queremos quadruplicar a receita.”
A gestora Performa Investimentos é outra que está indo nessa direção. Com R$ 200 milhões sob gestão e com escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro e Nova York, se caracteriza por encontrar boas histórias de startups. “A expectativa é que até 2018 tenhamos algo ao redor de R$ 1 bilhão”, afirma Humberto Matsuda, sócio da Performa. Como o investidor pode escolher? O mais importante é o perfil e a idoneidade dos gestores. O setor da empresa não faz tanta diferença. “Empresas inovadoras não dependem da macroeconomia para ganhar dinheiro, pois a inovação gera vantagens competitivas em relação a seus concorrentes”, diz Cassio Spina, fundador da Anjos do Brasil.
Outros gestores vêm oferecendo fundos para empresas iniciantes, mas além da fase de startup. É o caso do banco Brasil Plural e da gestora Leblon Equities. Ambos foram escolhidos pelo BNDES para operarem fundos de R$ 300 milhões cada um, focados em pequenas empresas prontas para ir para a bolsa. O alvo são boas companhias que valham ao redor de R$ 500 milhões e faturem até R$ 700 milhões. “Há vários nomes promissores nos setores de varejo, consumo, serviços, infraestrutura, educação e tecnologia”, diz Rodolfo Riechert, sócio e presidente do Brasil Plural.
A vinda desses fundos deverá facilitar o acesso de companhias de menor porte à bolsa. “No Brasil, o valor médio dos IPOs é um dos mais altos do mundo”, diz Felipe Claudino, sócio da Leblon Equities. “Bancos de investimento esperam ofertas grandes, e isso dificulta a chegada de empresas menores ao mercado de capitais.” Pelas contas de Claudino, a permanência média das empresas investidas no fundo, desde o primeiro aporte até o desinvestimento, é de oito anos. “Esperamos que, para cada R$ 1 investido, recebamos R$ 3 de volta, o que significa um retorno de 15% a 20% ao ano”, diz ele.