22/01/2016 - 20:00
Pense em uma empresa em apuros. Alguma montadora? A Petrobras? Ou seria uma construtora envolvida na operação Lava Jato? Não faltariam exemplos no atual momento desafiador da economia brasileira, mas a mineradora Samarco, com certeza, ocupa a primeira posição no ranking das empresas mais encrencadas. Desde o rompimento da Barragem do Fundão, na cidade mineira de Mariana, a companhia coleciona más notícias. Na semana passada, o presidente Ricardo Vescovi, executivo que comandava a tropa de choque que tentava minimizar os efeitos da catástrofe ambiental nas operações da empresa, e o diretor de operações, Kleber Terra, foram afastados para “se dedicar às suas defesas”, segundo comunicado da companhia.
Os dois e mais seis funcionários foram indiciados pela Polícia Federal por crime ambiental, e podem ser condenados a um ano de prisão. Durante o licenciamento temporário, o diretor comercial, Roberto Carvalho, ficará interinamente na presidência. Não bastasse os problemas envolvendo o corpo diretivo, a Vale – que divide o controle da empresa com a australiana BHP Billiton – admitiu, por meio de seus advogados, que a Samarco não teria dinheiro para honrar os R$ 2 bilhões da primeira parcela da indenização de R$ 20 bilhões cobrada pela Advocacia-Geral da União, que deveria ser paga na quarta-feira 20.
Afinal, a companhia já teria R$ 800 milhões depositados em conta-garantia ou bloqueados pela Justiça, além de precisar honrar diversas outras multas e compensações. Logo após o acidente, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) multou a mineradora em R$ 250 milhões por cinco infrações ambientais. A empresa também concordou pagar R$ 100 mil para cada família que perdeu parentes na tragédia. O apelo fez com que a data de vencimento da primeira parcela fosse estendida, pelo Tribunal Regional Federal, em 15 dias.
O fim do inferno-astral da Samarco está, agora, nas mãos das sócias Vale e BHP, as únicas que têm condições de colocar os pagamentos em dia, limpar os danos causados ao meio ambiente e tentar minimizar o impacto à imagem da Samarco e, principalmente, a elas próprias. Prova de que a lama da Samarco já respingou na imagem da Vale foi a retirada, ao fim de 2015, das ações da empresa do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BM&FBovespa. E elas precisarão recorrer aos próprios caixas para isso. Antes mesmo do acidente, a Samarco sofria por atuar num mercado que sofria com a queda de demanda de minério de ferro por parte da China e com a queda de preço das commodities.
Em seu último balanço, relativo a 2014, a companhia, que tem o seu capital fechado, mostrava sinais ambivalentes. Por um lado, mesmo não sendo uma das 60 maiores empresas do País em tamanho do faturamento, ela apresentou o quinto maior lucro líquido. Com R$ 2,8 bilhões, ficou atrás apenas de Ambev, Telefônica, Cielo e Cemig. No entanto, esse valor não serviu para preencher o caixa, que somava apenas R$ 2,1 bilhões ao fim de 2014. O nível de alavancagem também dava motivos para preocupação. Em cinco anos, a relação da dívida bruta pelo Ebitda subiu de 0,9% para 3,1%. A Samarco terá muita dificuldade para sair desse atoleiro.