17/04/2014 - 21:00
Em uma cena clássica do filme Star Wars, o personagem Luke Skywalker treina suas habilidades com o sabre de luz contra um pequeno robô voador, chamado de drone, que dispara lasers. O protagonista e seus escassos aliados enfrentam a dura missão de derrotar o Império numa luta para lá de desproporcional. O objeto aéreo, que na série do diretor americano George Lucas, não tem muita relevância, ultrapassou as telas para se tornar uma ferramenta de destaque na arena corporativa. O ataque dos drones ao mundo dos negócios é comandado pelas empresas de tecnologia, indicando mais um duelo épico entre três gigantes do setor: Google, Facebook e Amazon.
Cavaleiros Jedi: Mark Zuckerberg, do Facebook (à esq.), Larry Page,
do Google (ao centro) e Jeff Bezos, da Amazon, brigam com
as mesmas armas pelo espaço virtual
Os guerreiros Jedi dessa disputa são Larry Page, do Google, Mark Zuckerberg, do Facebook, e Jeff Bezos, da Amazon. Os dois primeiros empresários compraram recentemente empresas de drones, a Titan Aerospace e a Ascenta, respectivamente. Bezos, por sua vez, desenvolveu projeto de fazer entregas de pequenos pacotes com o veículo aéreo não tripulado. O que esses Jedis da tecnologia querem com os drones? O domínio da internet. A lógica por trás dessa jogada é simples – e, como quase tudo que envolve essa trinca de empresas, é também megalomaníaca: como são as líderes incontestáveis dos negócios na web, quanto mais usuários conectados à rede, mais lucro para elas.
No mundo desenvolvido, conquistar novos consumidores não é um dos trabalhos mais difíceis. Mas em regiões pobres ou nas quais a infraestrutura de cabo e de celular não chega, trata-se de uma tarefa hercúlea. Para “ir aonde o povo está”, o Google fez testes com balões atmosféricos, no projeto Loon, em junho de 2013. Trinta deles foram lançados na Nova Zelândia para conectar um pequeno grupo de pessoas. Neste ano, os balões da gigante da Califórnia sobrevoarão o Paralelo 40 Sul, passando pelos oceanos Índico, Pacífico e Atlântico e por países como Chile, Argentina, Austrália e Nova Zelândia. Os drones substituem os balões com diversas vantagens.
Como são movidos a energia solar, podem voar por anos. Funcionam como minissatélites, flutuando acima dos aviões civis e militares.“Balões atmosféricos são difíceis de controlar”, diz Patrick Egan, editor do site americano sUAS News, especializado em aviação remota. “É mais efetivo um sistema com controle remoto e já há testes provando que é possível distribuir internet assim.” Foi por essa razão que Page comprou a Titan Aerospace, na terça-feira 15, por uma soma não revelada – suplantando o rival Facebook, que teria oferecido US$ 60 milhões pela companhia. Baseada no Estado do Novo México, a Titan produz os modelos de drones Solara.
A força que vem do sol: drones com bateria solar, como os da Titan,
comprada pelo Google, poderão voar por anos
Os aparelhos também podem incrementar o Google Earth e o Maps, outros dois populares serviços da empresa. “O acordo não poderia ser melhor”, disse Vern Raburn, CEO da Titan Aerospace que permanecerá no cargo e já comandou a Symantec e foi diretor da Microsoft. “Teremos acesso a recursos que não tínhamos, e o Google é uma empresa consistente e que entende de riscos.” Zuckerberg, do Facebook, entrou na disputa pela Titan porque queria dar impulso ao ambicioso projeto Internet.org. Lançada em agosto do ano passado, a iniciativa também pretende ampliar o acesso à internet em países carentes de infraestrutura, caso de nações da África e da Ásia.
Além do Facebook, participam do projeto multinacionais como Ericsson, Nokia, Samsung, Qualcomm, Opera e Media Tek. O Internet.org já conseguiu resultados concretos em parcerias com operadoras de telefonia. No entanto, o fundador do Facebook entendeu que os drones são peça-chave nesse tabuleiro. No fim do mês passado, o empresário revelou o Laboratório de Conectividade, que tem em sua equipe de desenvolvimento os engenheiros da britânica Ascenta. Os fundadores da Ascenta foram os responsáveis pelo lançamento do Zephyr, aeronave movida a energia solar que voou por mais tempo – 330 horas em 2010.
A empresa, que empregava cinco funcionários, foi comprada pelo Facebook por estimados US$ 20 milhões. Com planos mais convencionais, a Amazon testa drones para fazer entregas no programa Prime Air. Nos bastidores, o desenvolvimento parece ser acelerado. “A equipe do Prime Air está testando os modelos de quinta e sexta gerações e estamos desenvolvendo a sétima e oitava gerações”, afirmou o CEO da Amazon, Jeff Bezos, em um recente anúncio aos acionistas da companhia. Bezos reconhece as dificuldades e afirma trabalhar com um horizonte de quatro a cinco anos para viabilizar o projeto.
A varejista virtual enfrenta ainda restrições por parte dos legisladores americanos que temem pela privacidade dos usuários e precisam alterar normas da FAA, a agência regulamentadora da aviação dos EUA. Ao superar essa barreira, não seria surpresa se a Amazon batesse de frente com Google e Facebook para oferecer conectividade. Afinal, a empresa de Bezos oferece diversos serviços por meio da divisão AWS (Amazon Web Services). Resumo do enredo: está se armando uma guerra nas estrelas sem precedentes. Só que, ao contrário da bilionária franquia de George Lucas, sem rebeldes, só com impérios digitais.