Enquanto conversava com a DINHEIRO, na quinta-feira 23, o chileno Roberto Goldminc, presidente da subsidiária da marca alemã de artigos esportivos Puma, olhava constantemente para o relógio. A pressa era motivada pela aproximação de um dos compromissos mais esperados ao longo da semana: o futebol com os amigos. Dentro das quatro linhas, Goldminc joga na zaga, inspirado por um célebre conterrâneo. “Não é da sua geração, mas pergunte a qualquer torcedor do Sul do Brasil quem foi ‘don Elías’”, disse, abrindo um sorriso. Ele se refere a Elías Figueroa, um dos maiores zagueiros do mundo e que integrou o grande esquadrão do Internacional de Porto Alegre, bicampeão brasileiro em 1975/76. 

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Roberto Goldminc, presidente da Puma do Brasil: ”Precisamos aumentar a visibilidade da marca”

 

Mas, para ter sucesso, Goldminc, que assumiu o posto em agosto de 2011, sabe que terá que se posicionar como o artilheiro camaronês Samuel Eto’o, jogador de futebol patrocinado pela Puma. “Nossa primeira missão era arrumar a casa”, afirmou. “Agora, precisamos aumentar a visibilidade da marca.” Ele começou o ano partindo para o ataque. Em janeiro, Goldminc assinou um acordo com o Botafogo, clube de futebol do Rio de Janeiro. A Puma vai pagar R$ 5 milhões anuais para ter seu nome estampado na camisa da equipe, além de fornecer o material esportivo durante a temporada. A opção pelo time da “estrela solitária” foi estratégica. “O Botafogo representa o futebol bem jogado do passado, e precisávamos nos ligar a algum clube do Rio, independentemente de a cidade receber a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos”, diz. 

 

“Afinal, a cidade é um sinônimo da alegria que queremos vincular à marca.” Mas ainda há muito para ser feito. Apesar do potencial de crescimento da economia brasileira, a subsidiária não aparece entre as dez maiores da Puma em nível global. No ano passado, as receitas no Brasil teriam ficado na casa dos R$ 300 milhões, segundo estimativas do mercado – a empresa não confirma os valores. Um dos possíveis motivos para o desempenho modesto é o fato de que, até 2006, a operação local era gerida por parceiros. Sob a direção de Goldminc, a Puma está apostando fortemente na vinculação da prática esportiva, em qualquer modalidade, ao prazer e à descontração. 

 

“Nossas rivais falam sempre em limite, suor, dor e superação”, diz Marcelo Nicolau, gerente de marketing da Puma. “Nós defendemos a diversão durante a prática esportiva.” Foi exatamente com essa pegada que a companhia conseguiu dar uma guinada na década de 1990. Um de seus principais lances foi o lançamento de coleções de roupas em estilo casual, que caíram nas graças dos jovens descolados. De olho nesse contingente, Goldminc decidiu montar um bar em plena rua Augusta, point de baladas da cidade de São Paulo. Trata-se do Puma Social Club, voltado aos chamados “atletas da noite”. O espaço deveria funcionar apenas no período outubro-dezembro de 2011. 

 

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Atletas da noite: a Puma criou um bar temporário na badalada rua Augusta, em São Paulo,

de olho nos jovens descolados.

 

Contudo, o prazo acabou sendo prorrogado até o próximo mês. “Pretendo levar essa iniciativa para outras grandes cidades do País”, diz o presidente da Puma do Brasil. No segmento de vestuário, o objetivo é trazer para o País a linha mais sofisticada da companhia: a Puma Black Label. São calças, camisas e calçados que custam até 300% mais caro que os produtos convencionais. O preço elevado é justificado pelo fato de que  todas as coleções contam com a assinatura de estilistas consagrados como o japonês Yasuhiro Mihara e a britânica Stella McCartney, que também fez alguns projetos para a compatriota e arquirrival Adidas. Outra tacada de Goldminc será dada no circuito de corridas de rua, dominado, hoje, por Mizuno e Asics. 

 

Esses eventos, que mobilizam cerca de 4,5 milhões de pessoas por ano, funcionam como uma importante vitrine para as marcas esportivas. Para dar conta dessa empreitada, a subsidiária dispõe de uma fatia dos € 550,7 milhões que a Puma vai gastar em marketing neste ano. Goldminc não informa quanto caberá ao País. Independentemente do valor, é certo que continuará abaixo do volume desembolsado pelas gigantes Nike e Adidas. Apenas para efeito de comparação, a primeira tem um orçamento global de marketing estimado em US$ 2,4 bilhões, quase três vezes maior que o da Puma. Por conta disso, Goldminc tem de atuar como um “centroavante rompedor” para cavar o espaço da Puma no mercado brasileiro e marcar os gols que a matriz espera. 

 

“O resultado no varejo depende de como as empresas trabalham suas marcas aos olhos do consumidor”, afirma Amir Somoggi, diretor da área de esportes da consultoria BDO RCS. O setor esportivo, incluindo a fabricação e venda de produtos, movimenta R$ 35 bilhões no Brasil. Para os analistas, esse número tem potencial de crescer enormemente. “Apenas cerca de 40 milhões de brasileiros praticam esportes regularmente, e eles estão concentrados nas faixas de renda mais altas”, diz Somoggi. “Quanto mais aumentar a renda das pessoas, mais elas terão recursos para investir na aquisição de equipamentos esportivos.” Goldminc sabe que, para conseguir uma fatia desse bolo, terá de manter  sua equipe permanentemente no ataque.

 

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