08/08/2014 - 20:00
Você provavelmente se lembra. Até três décadas atrás, comer com o hashi, popularmente conhecido como “pauzinhos”, era um costume de poucos, em geral restrito a descendentes de imigrantes asiáticos, japoneses e chineses, principalmente. Hoje, no entanto, o hashi é manuseado pelos brasileiros quase com a mesma desenvoltura com que manejam talheres, graças à disseminação da culinária oriental no País. Parte dessa transformação se deve ao crescimento de duas redes de restaurantes: a China in Box, de cardápio chinês, e a Gendai, de comida japonesa.
Ambas são líderes absolutas, respectivamente, em delivery e nas praças de alimentação de shoppings, com mais de 220 restaurantes no País, e têm em comum o fato de serem controladas pela companhia brasileira TrendFoods, do empresário paranaense Robinson Shiba. No ano passado, o faturamento do grupo atingiu R$ 420 milhões, um crescimento de 20% em relação a 2012. Fundada em 1992 pelo “sansei” (neto de japoneses) Shiba, a TrendFoods é hoje a número 1 no setor de comidas orientais do País. Apesar de ter encontrado uma bem-sucedida receita de negócio, Shiba quer mais.
A China in Box, que responde por 70% das vendas da empresa, começou a disputar espaço com a Gendai nas praças de alimentação, deixando de ser uma bandeira delivery e de restaurantes de rua. Nos últimos dois anos, seis unidades foram abertas em grandes shoppings em São Paulo e no Rio de Janeiro. A tentativa inicial, porém, não deu resultado, segundo Shiba. “As pessoas não reconheciam nossa comida no prato”, diz ele. “Estamos mudando toda a nossa comunicação para esse público.”
De acordo com Osvaldo Nieto, sócio-fundador da consultoria Baker Tilly Brasil, parceira da DINHEIRO no anuário AS MELHORES DO MIDDLE MARKET, os altos custos do shopping dão menos margem ao erro. “Eles têm consumidores garantidos, mas precisam se renovar sempre”, diz. A TrendFoods já se mexe. O nome “express” vai dar lugar ao “mall” (shopping, em inglês) e as refeições serão servidas nas tradicionais caixas. Com as alterações na comunicação, a empresa espera que os restaurantes nos shoppings sejam o seu principal ingrediente para crescer. A meta é ousada: dobrar de tamanho em cinco anos. Se depender do potencial do mercado explorado pela TrendFoods, haverá espaço para alcançar o objetivo.
De acordo com a Associação Brasileira de Culinária Japonesa, nos últimos dez anos, o número de estabelecimentos aumentou 700%. Já pelos cálculos da Associação Brasileira de Franchising (ABF), a abertura de lojas de comida asiática cresceu 12% em 2013, mas com um potencial gigantesco para ampliar essa participação. “Nove em cada dez lojas estão no eixo Rio-São Paulo, o que revela uma área gigantesca para expansão”, afirma Enzo Donna, analista da consultoria ECD, especializada no setor de alimentação. Apesar de crescer acima do setor – 20% ao ano –, a TrendFoods não difere dele quando o caso é distribuição geográfica.
Cerca de 70% de suas lojas também estão localizadas nas praças de alimentação de São Paulo ou do Rio de Janeiro. “Por isso, nem pensamos em sair do País”, afirma Shiba. “Estamos em 21 Estados, então temos espaço para crescer.” Para bancar sua meta de dobrar de tamanho até 2019, a TrendFoods contará com o aporte feito pelo fundo de investimentos Laço Management, do grupo americano Riata, em 2012. O valor do negócio é mantido em sigilo. O empresário afirma que R$ 120 milhões serão necessários para chegar ao resultado almejado e que não vai depender apenas dos recursos dos franqueados.
“Para entender as mudanças cotidianas, preciso ter as minhas lojas”, diz Shiba. A TrendFoods conta com outra poderosa arma para aumentar suas vendas: o apetite de seus consumidores por comidas mais saudáveis. Segundo dados da consultoria ECD, a principal motivação para um consumidor escolher um prato é o prazer (34%), seguido dos benefícios nutricionais (33%). “Mais do que qualquer outra, a comida oriental conseguiu unir o saudável com o sabor”, afirma Donna, da ECD. Por isso, nem mesmo o tíquete médio elevado, cerca de R$ 36 por refeição, o dobro do setor, desestimula o grupo na busca por novos clientes. “O valor não nos preocupa”, afirma Shiba. “Queremos ser o novo arroz e feijão do brasileiro.”