As dificuldades financeiras do Grupo Rede, que controla nove distribuidoras de energia elétrica no País e tem cinco milhões de clientes, não são novidade. Desde o fim do ano passado o controlador Jorge Queiroz Jr., tenta vender sua participação de 54% no conglomerado. Mas os problemas atingiram um novo patamar com a recuperação judicial de uma de suas subsidiárias mais problemáticas, a Celpa, do Pará, concedida na quarta-feira 29. O processo dará fôlego à companhia paraense, que tem R$ 259 milhões em caixa e R$ 531 milhões em financiamentos vencendo no curto prazo. Paradoxalmente, porém,  pode complicar a situação de outras companhias do grupo, segundo a agência de risco de crédito Fitch Ratings. A Celpa apresentará em até 60 dias um plano para renegociar sua dívida de R$ 1,7 bilhão. 

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Mercado Ver-o-Peso, em Belém: controladora da empresa paraense está à venda.

 

No pedido de recuperação, a companhia citou como uma das razões de suas dificuldades o novo ciclo de revisão tarifária pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que penaliza companhias com piores índices operacionais. Consultada, a Aneel informou que as empresas foram ouvidas  durante as audiências públicas da revisão tarifária. A situação da Celpa, primeira empresa de energia a entrar em recuperação judicial, provoca uma discussão jurídica no governo. Antes, era possível intervir em empresas elétricas que pedissem concordata. O ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, não descartou uma intervenção no futuro. “Mas não estamos cogitando isso agora”, disse. A Eletrobras tem 34% da Celpa. A preocupação dos analistas agora é com a contaminação de outras empresas do grupo. A Fitch, por exemplo, alertou que poderá rebaixar as notas da holding Rede Energia e da Cemat, de Mato Grosso. 


A diretora da Fitch Renata Pinho explica que ao menos dois grandes empréstimos vencerão antecipadamente por causa da recuperação da Celpa: US$ 500 milhões em bônus no Exterior da Rede Energia e R$ 175 milhões de um empréstimo do BID à Cemat. “O grupo precisa rolar suas dívidas e os bancos devem ficar mais arredios agora”, afirma Renata. A Rede Energia informou em nota que “a recuperação judicial foi feita para proteger a companhia e blindar os demais ativos do Grupo, que seguem operando normalmente”. A necessidade de resolver o blackout na Celpa complica a negociação para a venda do Grupo. Interessados como a chinesa State Grid e a Cemig olharam o negócio, mas não acertaram o preço, além de temer assumir o alto endividamento, estimado em R$ 6 bilhões. 

 

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