Poucos negócios com menos de seis anos de vida são capazes de sacudir um setor inteiro. O Airbnb conseguiu quebrar essa escrita. O site americano, especializado em intermediar acomodações fora do circuito tradicional, que variam de sofás até ilhas inteiras, é avaliado atualmente em US$ 13 bilhões. Trata-se de um valor superior ao do tradicional Hyatt Hotels Corp., que opera uma rede de 549 hotéis espalhados por 46 países, cuja capitalização é de US$ 9 bilhões. Criado em 2008, o Airbnb já dispõe de 800 mil acomodações e está presente em 190 países.

Fundado pelos americanos Brian Chesky, Nathan Blecharczyk e Joe Gebbia, na Califórnia, o Airbnb surfou nessa onda quase de forma solitária, em seus primeiros tempos de vida. No entanto, à medida que seu modelo foi ganhando espaço entre os consumidores, a concorrência resolveu reagir. O Hotel Urbano, uma das principais agências de turismo online do Brasil, entrou nessa área. Comprou, por um valor não revelado, o carioca House in Rio e o relançou rebatizado com o nome de Voltem, em setembro deste ano. A estratégia é ganhar espaço antes que o Airbnb domine o mercado brasileiro.

“O Airbnb ainda não é conhecido no País, temos espaço para crescer”, afirma Eduardo Serrado, fundador da House in Rio e CEO da Voltem, que ainda mantém uma participação minoritária na empresa. Oriundo do mercado financeiro, como muitos pioneiros de startups no Brasil, Serrado abriu a operação de seu site durante a conferência de desenvolvimento sustentável Rio+20, em 2012. Na época, o próprio governo incentivou a população a acomodar os cerca de 50 mil visitantes, já que a infraestrutura hoteleira não tinha capacidade para atender à demanda.

“Um amigo no Canadá me contou que esse tipo de oferta havia virado febre na Olimpíada de Inverno de 2010, em Vancouver. Estudei o plano de negócios e vi que o Rio de Janeiro tinha muito potencial”, afirma Serrado. As negociações com o Hotel Urbano começaram no final do ano passado. Em março deste ano, Serrado fechou o acordo com João Ricardo Mendes, cofundador do Hotel Urbano e presidente do conselho da empresa. “É uma oportunidade segmentada, mas gigante”, diz Mendes. “O brasileiro gosta de uma oportunidade legal e de fazer uma renda extra.”

A meta da Voltem é faturar R$ 180 milhões, em 12 meses. O Hotel Urbano, que ainda não atingiu o ponto de equilíbrio financeiro, pretende alcançar receitas de R$ 800 milhões em 2014. A briga das acomodações alternativas no Brasil não se resume a um duelo entre a Airbnb e a Voltem. Mais antiga em atividade que ambas, a texana HomeAway foi fundada em 2005 e se especializou em aluguel de residências inteiras, principalmente para fins turísticos. Cotada em bolsa, ela vale US$ 2,75 bilhões e registrou faturamento de US$ 117 milhões, no terceiro trimestre deste ano.

Estima-se que 6% dos anúncios do Airbnb e HomeAway são veiculados nas duas plataformas ao mesmo tempo. E isso causa atritos. A HomeAway processou a Prefeitura de São Francisco, na Califórnia, por aprovar a legalização do aluguel de curto prazo – os moradores da cidade poderão receber hóspedes em suas residências por até 90 dias por ano. Esse choque pode vir a acontecer em breve no Brasil. Por aqui, a HomeAway comprou, em 2010, o site AlugueTemporada, fundado no Rio de Janeiro em 2001. Atualmente, a plataforma brasileira conta com mais de 23 mil anúncios.

“Trabalhamos com a segunda residência das pessoas, geralmente em praias”, diz Nicholas Spitzman, presidente do AlugueTemporada. “O proprietário não estará na casa ao mesmo tempo que os visitantes.” Diferentemente do Airbnb, os sites da HomeAway não fazem a intermediação de pagamento nem cobram taxas além do anúncio, o que faz o preço do aluguel ser mais barato, segundo Spitzman. Alguns sites da HomeAway oferecem a opção de pagamento dentro da plataforma. Spitzman disse que não há planos no curto prazo para a tecnologia ser usada no Brasil.

Ao menos no discurso, o Airbnb ressalta aspectos positivos da nova concorrência. “Acreditamos que o surgimento de novas empresas que atuam no mesmo segmento irá ajudar na popularização e aceitação da nova economia e cultura do compartilhamento”, afirma o diretor-geral da companhia no Brasil, Christian Gessner. O Airbnb conseguiu mais de 40 mil anúncios no País. Para o executivo, porém, não são os números expressivos que fazem a plataforma ter destaque. “O que faz o Airbnb tão único e especial é a sua comunidade”, diz Gessner. “Isso é algo que não pode ser copiado, embora alguns concorrentes tentem.”