20/06/2012 - 21:00
Durante muito tempo, agricultura no Brasil foi sinônimo de coronéis donos de terras e métodos arcaicos de produção. Um dos efeitos diretos que o aumento do peso do agronegócio tomou na economia brasileira foi colocar a atividade no compasso do capitalismo urbano. Foi somente com o choque propiciado pelos ganhos de escala, acesso ao mercado de capitais e atração de novos investidores que o setor deve chegar à marca de US$ 100 bilhões em exportações previstas para 2012. Mais do que volume, o Brasil assumiu posição de liderança em tecnologia e produtividade nas indústrias de carnes e etanol, além do status pioneiro de adaptação da soja para climas tropicais, que agora inicia mais um capítulo de expansão pelo Cerrado.
Supersafra: no ano passado, o Brasil bateu recorde histórico,
quando colheu 161 milhões de toneladas de grãos.
Hoje, o País é o maior exportador mundial de soja, com 38 milhões de toneladas, à frente dos Estados Unidos. Esse resultado, por si só, atesta o avanço do agronegócio nos últimos 15 anos. Em 1997, éramos o segundo exportador mundial. Naquela época, saíam das lavouras brasileiras 31 milhões de toneladas de soja. Na última safra, esse volume mais do que dobrou, para 74 milhões de toneladas. Detalhe: sozinha, a soja colhida em 2011 é equivalente a toda a produção de grãos brasileira do início da segunda metade dos anos 1990. E é também o carro-chefe da supersafra do ano passado, quando o campo produziu o recorde histórico de 161 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas.
Roberto Rodrigues, ministro da Agricultura do governo Lula:
“O agronegócio brasileiro tem estatísticas de país desenvolvido
e já é sustentável”.
“O agronegócio brasileiro tem estatísticas de País desenvolvido e já é sustentável”, afirma Roberto Rodrigues, ministro da Agricultura no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Detalhe: enquanto a produção mais do que dobrava, a área plantada cresceu pouco mais de 50% no período. “Isso mostra os ganhos de produtividade obtidos com os investimentos, equipamentos agrícolas e tecnologia de produção”, diz Rodrigues. Para atingir esse patamar, o caminho foi a consolidação do mercado, abrindo espaço para a formação de grandes grupos brasileiros que se tornaram referência mundial em suas áreas.
Em setembro de 2009, DINHEIRO registrava o fenômeno na reportagem de capa “O incrível senhor das carnes”, contando como o empresário goiano Joesley Batista havia arrematado o frigorífico Bertin e a americana Pilgrim’s Pride. Era o início da escalada da JBS como maior processadora de proteína animal. Roteiro semelhante foi seguido por outros pesos pesados do agronegócio brasileiro, que aproveitaram a crise financeira global para arrematar ativos baratos nos Estados Unidos e na Europa. O Marfrig, do empresário Marcos Molina, por exemplo, comprou o Keystone Foods por US$ 1,2 bilhão, em 2010. Com a aquisição, transformou-se no fornecedor global de hambúrgueres da rede de fast-food McDonald’s.
Gigante global: o JBS, de Joesley Batista, virou
o líder mundial de proteína animal.
Por outro lado, grupos internacionais aproveitaram para se associar com gigantes locais. É o caso da petrolífera Shell, que celebrou uma joint venture com a Cosan, do empresário Rubens Ometto, na área de etanol. Desse acordo nasceu a Raízen, que tem a meta de faturar R$ 50 bilhões ao ano e o objetivo de tornar o biocombustível brasileiro uma commodity internacional. Mais de um ano depois do negócio, a empresa ainda vê espaço para um novo ciclo de aquisições no mercado de etanol. “Vamos passar ainda por muitas transformações”, diz Pedro Mizutani, vice-presidente de etanol, açúcar e biocombustível da Raízen.
“Muitas empresas familiares em dificuldade financeira e outras estrangeiras que entraram aqui serão alvo de compra.” Esse jogo de compra e venda aguçou os olhos dos investidores e abriu uma nova fronteira para o agronegócio: usar o mercado de capitais para crescer. Um exemplo dessa nova safra de aberturas de capital é o frigorífico Minerva, que arrecadou R$ 436 milhões com sua oferta de ações em julho de 2007. “O IPO foi um marco na companhia, que hoje fatura R$ 4 bilhões e dobra de tamanho a cada três anos”, diz o diretor-financeiro do Minerva, Edison Ticle. O frigorífico é hoje o 3º maior exportador brasileiro de carne bovina, com 25% do mercado, e conta com caixa de R$ 800 milhões para investir. “Nosso objetivo é fortalecer a operação na América do Sul”, afirma Ticle.