Até onde a vista alcança, os congestionamentos deverão ser a tônica nos pátios das montadoras de automóveis nos próximos meses. Segundo dados da Anfavea, a associação dos fabricantes, as vendas entre janeiro e maio caíram 5,5% em relação a igual período em 2013. O resultado é um estoque de 400 mil veículos novos à espera de compradores e férias coletivas promovidas em dez fábricas desde o início do ano. Para piorar, os bancos estão menos dispostos a financiar a compra de veículos. Um levantamento da Febraban, divulgado na sexta-feira 13, indica que a expectativa de crescimento da carteira em 2014 recuou para 12,4%, ante 13,1% do primeiro trimestre.

Nem todas as notícias são ruins, porém. Enquanto o crédito automotivo em geral recuou 6,6% nos cinco primeiros meses do ano, o valor financiado pelos bancos das montadoras avançou 3,9%. Entre janeiro e maio eles emprestaram R$ 138,6 bilhões, 63% dos R$ 220,7 bilhões concedidos no total. “Não falta crédito, estamos dispostos a emprestar e o limite é a capacidade de endividamento de nossos clientes”, diz Décio Carbonari de Almeida, presidente do Banco Volkswagen. Nove das dez maiores montadoras possuem bancos próprios ou mantêm parcerias com instituições do varejo financeiro.

A maior parte dos empréstimos está consolidada nos grandes bancos. Caso do Banco Fiat, vendido para o Itaú Unibanco em 2002, mesmo ano em que o Bradesco adquiriu o Banco Ford. Entre as instituiçcões independentes , os maiores são o Banco VW, com R$ 23,4 bilhões em créditos, e o GMAC, da GM, com R$ 13,1 bilhões, dados de março deste ano. Segundo Almeida, que também preside a Anef, a associação dos bancos das montadoras, a ordem é pisar no acelerador. Além da disposição de aumentar a oferta de recursos, os bancos das marcas automobilísticas oferecem taxas médias de juros mais atraentes, inferiores a 1% ao mês, para carros zero-quilômetro, a metade das praticadas pelos concorrentes.

Um bom exemplo é a GMAC. “O banco é essencial para fidelizar os clientes, por isso já oferecemos taxa zero e atualmente estamos praticando taxas subsidiadas”, disse o colombiano Santiago Chamorro, presidente da GM no Brasil. Mesmo as montadoras voltadas ao mercado de luxo estão acionando seus esquemas de financiamento. Segundo Angel Martinez, diretor comercial do Banco Mercedes-Benz, o apoio do banco vem atenuando a queda das vendas de automóveis da marca. O banco da montadora alemã financiou R$ 10,7 bilhões, incluindo caminhões.

A fatia representada apenas pelos automóveis recuou de R$ 57,6 milhões entre janeiro e abril de 2013 para R$ 50,3 milhões neste ano, uma queda de 12,7%. Martinez, porém, diz acreditar que a redução da marcha é passageira. “Nossa expectativa é a de crescer dois dígitos no próximo semestre.” Para Luis Santacreu, analista da agência Austin Rating, a desaceleração dos bancos comerciais abre espaço para a ultrapassagem das financeiras das montadoras, mas essa estratégia tem limites. “Os bancos de montadoras não podem sacrificar indefinidamente suas margens de lucro para ajudar as marcas, eles também trabalham com limites”, afirma Santacreu.

Segundo ele, a redução do crédito automotivo não foi uma exclusividade dos bancos privados, mas incluiu os públicos, caso do Banco do Brasil. De acordo com Edmar Casalatina, diretor de empréstimos e financiamentos do BB, a carteira de crédito automotivo caiu 4,1% no primeiro trimestre, recuando para R$ 34,4 bilhões. “Nossa inadimplência é de apenas 1,8% inferior aos 5,5% registrados em média pelo mercado, pois financiamos automóveis apenas para nossos clientes, o que reduz significativamente o risco”, diz Casalatina.