Transferir a infraestrutura de tecnologia de uma empresa para um fornecedor terceirizado é uma ideia que ganha força no Brasil. Por esse processo, os dados são armazenados na internet, dispensando as companhias da necessidade da destinação de altos recursos para a compra e manutenção de grandes servidores. 

 

É o que se chama de computação em nuvem, ou cloud computing, em inglês. Trata-se de um segmento que começou a ser alvo das atenções no País há dois anos e agora atinge um novo nível de desenvolvimento. 

 

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Em busca de novos negócios: Alog, Tivit e Locaweb são algumas 
das companhias que fecharam acordos internacionais de 2010 para cá 

 

Atraídos pela perspectiva de negócios promissores, fundos de investimento e companhias de data centers estão desembarcando no mercado brasileiro por meio da compra de empresas nacionais que prestam esse tipo serviço.

 

Do ano passado para cá, por exemplo, quatro grandes transações envolvendo fundos internacionais, como Silver Lake e Riverwood Capital, e empresas de telecomunicações, como a Verizon, mudaram a cara do mercado brasileiro de data centers. 

 

O que os investidores – a maioria da terra do Tio Sam – buscam aqui é uma melhor posição em um setor que cresce 20% ao ano e vai movimentar em 2011, pela primeira vez, mais de R$ 1 bilhão no Brasil, segundo estimativas da consultoria IDC, especializada em tecnologia. 

 

É fácil entender a razão para o crescimento acelerado: como na computação em nuvem  a infraestrutura de informática das empresas é terceirizada para um fornecedor, aumenta exponencialmente a demanda pelos serviços de data centers, que são oferecidos por companhias brasileiras cobiçadas lá fora. 

 

Outros dados do IDC dão a dimensão do fenômeno. Segundo a consultoria, a computação em nuvem está presente em 16% das grandes empresas brasileiras. 

 

À primeira vista, parece pouco. Esse nível de adoção, no entanto, numa visão mais otimista,  significa que essa tecnologia está chegando a um estágio de maturidade suficiente para se tornar um padrão nas companhias. 

 

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Gilberto Mautner, da Lacaweb: capitalizada, a companhia 
investirá R$ 110 milhões para ampliar seus centros de dados

 

Na América Latina, estima a IDC, o mercado de computação em nuvem deve passar de US$ 200 milhões, em 2011, para US$ 1 bilhão de faturamento em 2015. O Brasil é responsável por metade do mercado na região. 

 

A Locaweb, de São Paulo,  é uma das companhias brasileiras de data centers que agora conta com um parceiro americano. Em setembro do ano passado, a empresa recebeu investimento do fundo Silver Lake. 

 

O valor do negócio não foi revelado, mas o aporte deverá permitir à empresa a execução de planos ambiciosos. Nos próximos anos, a Locaweb planeja destinar R$ 110 milhões para ampliar a capacidade de seus centros de dados, que devem subir de 6 mil para 25 mil máquinas.

 

“O crescimento do Brasil vem chamando atenção dos investidores internacionais”,  afirma o empresário Gilberto Mautner, fundador e CEO da Locaweb. 

 

Nesse cenário, nada como contar com um parceiro do porte do Silver Lake para lutar como gente grande em um mercado a cada dia mais global. O investidor dá musculatura para a conquista de clientes entre multinacionais que chegam ao Brasil e também brasileiras que instalam subsidiárias no Exterior. 

 

“Nós queremos atender a essa dupla demanda”, diz Mautner. O carro-chefe dos negócios da Locaweb, hoje,  são as pequenas e médias empresas, responsáveis pela quase totalidade dos 220 mil clientes. 

 

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A intenção é crescer entre as companhias de grande porte, embora Mautner reconheça que suas maiores possibilidades de expansão estão nas pequenas e médias. “A computação em nuvem garante a essas empresas acesso a vários  recursos, antes exclusivos das grandes corporações”, diz. 

 

A redução de custos é, de fato, um dos atrativos da computação em nuvem. Isso decorre do compartilhamento da infraestrutura entre várias empresas. Um data center em nuvem funciona como um condomínio empresarial. 

 

O cliente “aluga” a capacidade computacional como se locasse uma sala e amplia os serviços conforme a sua necessidade. “A maioria dos nossos clientes atua em mercados que lidam com efeitos sazonais”, diz André Frederico, diretor de planejamento da Tivit, companhia brasileira de tecnologia que possui três data centers. 

 

Em maio de 2010, o fundo global de private equity Apax Partners assumiu o controle da Tivit ao comprar 54,25% de suas açõespor cerca de R$ 900 milhões.   

 

O mais recente investimento no setor no País foi feito na Alog Data Centers. A Equinix, que atua na área de serviços de tecnologia, e o fundo Riverwood Capital investiram US$ 126 milhões para adquirir 90% da empresa brasileira, que faturou no ano passado R$ 105,6 milhões. “Sem dúvida, vamos ser mais agressivos por conta desse investimento”, afirma Victor Arnaud, diretor de marketing e processos da Alog. 

 

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Victor Arnaud, da Alog: antes mesmo de iniciar as negociações, os investidores 
deixaram claro para a Alog que estão de olho na pujança do mercado brasileiro  

 

Segundo o executivo, o bom momento da economia brasileira , que cresceu 7,5% em 2010, motivou a operação. “Antes mesmo da  negociação, os americanos citaram dados que demonstram o poderio do mercado brasileiro”, afirma Arnaud. 

 

A crise nos países desenvolvidos, que começou em 2008 nos EUA e se alastrou para a Europa, ajudou a direcionar os negócios para cá.  Os estrangeiros enxergam no Brasil oportunidades que deixaram de ter em seus países.  

 

“Em mercados mais maduros, a taxa de crescimento neste setor é próxima de zero”, afirma Reinaldo Roveri, gerente de pesquisas da IDC. Segundo estimativas da consultoria, os gastos com tecnologia devem crescer 13% no País, em 2011. 

 

A taxa é quase o dobro do crescimento mundial, que deverá ser de 7%. Além dos casos da Alog, Locaweb e Tivit, Roveri chama atenção para outro investimento estrangeiro que, de forma indireta, interfere no mercado local. 

 

Trata-se da aquisição da Terremark pela operadora Verizon por US$ 1,4 bilhão. Entre os ativos da Terremark está uma unidade fabril de dez mil metros quadrados no Brasil. “Com a Terremark, a Verizon incomodará multinacionais que atuam aqui, como IBM e HP”, afirma Roveri.

 

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Gil Torquato, da Uol Diveo: aquisição da empresa americana Diveo 
Broadband Networks reforça a atuação do provedor no mercado corporativo

 

Se alguns dos principais competidores do setor de centro de dados têm se rendido aos dólares, há quem prefira manter a identidade nacional. 

 

Entre os maiores data centers nacionais, a exceção entre os que não se renderam ao investimento estrangeiro é o  Uol Host, do portal Universo Online. 

 

A empresa fez o caminho inverso e comprou, por R$ 693 milhões, a  Diveo Broadband Networks, que atua no Brasil e na Colômbia. A transação foi concluída no início de março e deu origem à Uol Diveo. 

 

À frente da nova empresa estará o executivo Gil Torquato, que ocupava o cargo de diretor corporativo do Uol. “Nosso foco é no Brasil e no mercado corporativo, onde já atendemos diversas grandes empresas”, afirma o executivo. 

 

Para Torquato, a onda de investimentos estrangeiros não assusta. “Temos dois data centers modernos e a experiência de atender ao Uol”.