O paulistano Marcelo Marer, 49 anos, vice-presidente de User Experience do Walmart.com na América Latina, entrou na USP aos 16 anos. Estudou medicina, depois passou para filosofia e fez um tempo de cinema. Foi ator por alguns anos e, em seguida, começou a trabalhar na área da educação. Mudou-se para Nova York para estudar história da arte e alemão. Durante cinco anos, entre 1990 e 1995, foi guarda do Metropolitan Museum of Art, um dos maiores e mais importantes museus do mundo. “Eu trabalhava de noite porque estudava durante o dia. Na época, o museu decidiu contratar universitários para fazer esse serviço. 

 

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No processo de seleção, fui entrevistado até pelo presidente do Metropolitan”, diz Marer. Mas a trajetória de Marer em Nova York não parou por aí. Foi ativista político e trabalhou em uma ONG para pessoas com HIV, o que o levou a ser contratado pelo St. Luke’s-Roosevelt Hospital Center, o maior centro de tratamento para pacientes com Aids da metrópole americana. No hospital, ele passou a organizar melhor o acesso às informações e aos laudos dos pacientes. O ano era 1995 e ele começava a entrar no mundo digital. Marer percebeu que sua grande qualidade era conectar o que aparentemente não seria conectável e passou a fazer algo que seria uma das grandes profissões do futuro: arquitetura da informação. 

 

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Marer, o heterodoxo: depois de passar por quase uma dezena de empresas, virou vice-presidente

do Walmart.com na américa latina

 

Em 1999, Marer foi contratado pela Razorfish, badalada agência digital na época, e sobreviveu ao estouro da bolha da internet em 2000. “De 1.800 funcionários sobraram apenas 200, eu entre eles”, diz. Em 2010, Marer foi convidado para ser diretor-executivo de criação da área digital da BBC, em Londres. Dois anos depois transferiu-se para a área de televisão interativa da Intel, na Califórnia. Em abril de 2013, aceitou o convite para retornar ao Brasil e trabalhar no Walmart.com. Em qualquer outra época, uma carreira tão pouco convencional seria encarada com reservas no mundo corporativo. Alguém que tivesse estudado e trabalhado em tantas áreas distintas corria o risco de ser visto como um aventureiro sem raízes e pouco confiável. Mas agora é exatamente o contrário.

 

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Vicky Bloch, a consultora: a mudança profissional radical deve

ser planejada com a razão, e não com a emoção

 

“O mundo digital precisa de pessoas que se especializem em ser generalistas e que pensem rápido e bem”, afirma Marer. De qualquer forma, a trajetória profissional protagonizada por Marer está mais para exceção do que para regra. Por isso, a troca de profissão deve ser algo bem pensado. Segundo Vicky Bloch, conhecida consultora na área de carreiras e dona de uma espécie de butique de aconselhamento para altos executivos e CEOs, uma mudança profissional radical deve ser planejada com a razão, e não com a emoção. “Não pode ser uma fuga de algo pontual que está ruim, como um mau chefe. Muita gente confunde uma situação difícil no cargo ou na empresa em que trabalha com a necessidade de trocar de carreira”, afirma ela.

 

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