Mais inflação, menos consumo. Quando os preços sobem, a capacidade do consumidor de adquirir bens e serviços diminui, o que afeta direta e imediatamente o faturamento do varejo. A veracidade dessa afirmação agora pode ser comprovada praticamente em tempo real. Divulgado na quinta-feira 15, o novo Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA) de abril mostrou que o faturamento do comércio cresceu 4,8% ante o mesmo mês de 2013. Em março, o avanço em relação ao ano passado havia sido bem menor, de apenas 2,2%. A razão é simples: a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) havia sido de 0,92% em março, mas recuou para 0,67% em abril.

“O IPCA mostrou um arrefecimento em abril, movimento que foi beneficiado pela desaceleração dos preços da alimentação a domicílio”, diz Gabriel Mariotto, gerente da área de inteligência da Cielo. “A desaceleração da inflação permitiu que o consumidor gastasse mais.” Lançado pela Cielo em fevereiro, o ICVA mede o faturamento do comércio monitorando as transações realizadas com cartões de crédito e de débito por meio dos terminais da empresa, as chamadas maquininhas. Na prática, cada um dos terminais representa um ponto de venda. Por causa de sua abrangência, a Cielo movimenta boa parte do dinheiro que circula no varejo.

“Temos 1,4 milhão de pontos de venda em todo o País, e só em 2013, passaram R$ 450 bilhões de reais pelas nossas máquinas”, diz Rômulo Dias, presidente da Cielo. “Capturamos, todos os anos, o equivalente a 9,3% do PIB em transações financeiras com cartão e 14% do consumo das famílias.” Processando tantas transações, a empresa possui um termômetro preciso para medir a temperatura do varejo. As conclusões que emergem da análise dos números são indiscutíveis. Nos últimos anos, a região do Brasil que cresceu mais depressa foi o Nordeste, pelo aumento da renda regional. Assim, tem sido praxe que os indicadores de desempenho do varejo nordestino superem a média nacional.

No entanto, em abril, o crescimento do varejo no Nordeste foi de 4,9%, acima apenas dos 4,3% registrados na região Sudeste. O motivo? “A inflação no Nordeste superou a média nacional em abril, o que reduziu o poder de compra dos moradores da região”, diz Mariotto. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em abril a inflação em Fortaleza foi de 1,07%, maior percentual entre as capitais. A principal vantagem oferecida por um índice como o ICVA é sua agilidade. Como as transações com cartões são processadas em tempo real, é possível saber instantaneamente como está a disposição dos consumidores em gastar.

“Nosso objetivo com o ICVA é utilizar nossa base robusta de captura de informações para oferecer ao mercado e à sociedade em geral um termômetro preciso da atividade varejista”, afirma Dias. O índice não apenas consegue medir as variações do consumo por distribuição geográfica, mas também detectar onde o consumidor está deixando a maior parte do seu dinheiro. Ele avalia o movimento de 24 setores, dos quais os mais importantes são supermercados, farmácias e postos de gasolina. Em abril, por exemplo, segundo Mariotto, o movimento registrado nas farmácias apresentou um dos maiores crescimentos. Os prognósticos para o comércio são positivos.

O consultor paulista Marcos Gouvêa de Souza, especializado no comércio varejista, avalia que há três fatores determinantes no comportamento do comércio: renda do trabalhador, crédito e expectativas do consumidor. “A renda e o crédito vêm atuando de maneira positiva. Apenas a confiança do consumidor vem caindo”, diz ele. Segundo Souza, a Copa deve melhorar o desempenho no varejo, mas essa melhora será desigual entre os setores. “O direcionamento diferente dos recursos poderá prejudicar algumas categorias”, diz ele. O ICVA não é o único índice a medir o comportamento do varejo com base nas transações de cartões. No início de 2013, a Mastercard lançou um indicador semelhante.

Com base trimestral e batizado de SpendingPulse, ele analisa o movimento das vendas em supermercados e lojas de móveis, de eletrodomésticos, de vestuário e de material de construção. No primeiro trimestre, o índice mostrou uma alta de 5,9% no faturamento do varejo em relação ao mesmo período do ano passado. O índice existe nos Estados Unidos, na Inglaterra e no Canadá e o Brasil foi o primeiro país fora do Grupo dos Sete a ter sua própria versão. “Nosso principal objetivo é oferecer uma boa ferramenta para varejistas, investidores, emissores de cartões, bancos e agências do governo”, diz Gilberto Caldart, presidente da MasterCard América Latina.