17/08/2011 - 21:00
Desde que divulgou o novo plano de negócios para o quinquênio 2011-2015, no final de julho, o presidente da Petrobras, o baiano José Sérgio Gabrielli, tem viajado para apresentar a investidores o que chama de “o maior plano de negócios do mundo”. Nas últimas semanas, esteve em Londres, Nova York, Boston e Bogotá. O valor do plano, de fato, impressiona: são US$ 224,7 bilhões, dos quais 95% serão gastos com as operações no Brasil. No Exterior, onde a empresa atua em 28 países, o plano de Gabrielli é desfazer-se de ativos que somam, ao todo, US$ 13,6 bilhões. Mas de onde a Petrobras baterá em retirada ainda é segredo. “Todos os nossos ativos no Exterior podem ser sujeitos ao processo de desinvestimento”, disse Gabrielli à DINHEIRO, depois de apresentar os planos da companhia para investidores colombianos na quinta-feira 4.
Já no Brasil, na semana passada, depois da turbulência financeira mundial, o presidente da Petrobras disse que pode rever o tempo dessa venda, mas reafirmou a decisão. “Não antevemos, mesmo no cenário de crise, menos apetite por petróleo”, afirmou. A estratégia agora é concentrar esforços no País. A decisão é decorrente não só das imensas reservas encontradas nos últimos anos, mas também do crescimento do mercado consumidor. “Temos o pré-sal. E temos um outro pré-sal, que é o mercado brasileiro de consumo”, diz Gabrielli. Ele destaca que, em 2020, o Brasil será um dos cinco países com consumo diário de combustíveis fósseis superior a três milhões de barris. Hoje, apenas Estados Unidos, China, Índia e Japão consomem esse volume. Leia a entrevista a seguir.
José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras
O sr. disse que a Petrobras quer investir menos no Exterior e mais no Brasil. É uma mudança de política?
Não, nós vamos investir o mesmo volume do plano anterior: 95% no Brasil e 5% no Exterior. O que vamos ter é uma otimização dos nossos investimentos. Do total de investimentos no Exterior, 87% são em exploração e produção. Vamos otimizar esses ativos e buscar mais complementaridade com as atividades no Brasil.
Atualmente a Petrobras tem refino no Exterior?
Temos no Japão, na Argentina e nos Estados Unidos.
E a tendência é de que essas operações de refino sejam reduzidas?
Todos os nossos ativos no Exterior podem ser sujeitos a um processo de desinvestimento.
A Petrobras pretende então voltar sua atuação mais para dentro do mercado brasileiro?
Ainda mais porque o pré-sal está no Brasil. Nossa perspectiva de crescimento em exploração e produção de petróleo é no País. Nossa produção no pré-sal vai sair de 2% do total, de hoje, para 18%, em 2015, e 40,5%, em 2020. Estamos a todo vapor no pré-sal. Nossa produção total de petróleo e gás, no País e no Exterior, é de 2,5 milhões de barris por dia. Só no Brasil, são 2 milhões. Em 2015, a produção total será de 3,9 milhões, dos quais 3,07 milhões em território nacional. Em 2020, serão 6,4 milhões de barris no total, dos quais 4,9 milhões de barris produzidos no País. A produção não depende só de investimento, depende principalmente de descobrir a matéria-prima. O investimento até a descoberta é pequeno, depois é que vem a maior parte: o desenvolvimento da produção, que é a instalação de plataformas, instalação de sistemas submarinos, de logística, dos gasodutos. Essas etapas é que são caras. A exploração é uma parcela muito pequena. Os geólogos costumam dizer: nós trabalhamos para arrumar mais emprego para os engenheiros.
Essa produção no Exterior será levada ao Brasil para refino ou será exportada in natura?
Não necessariamente. Hoje, por exemplo, parte da nossa produção da Nigéria é vendida para o Brasil. O petróleo que vem de lá tem uma aderência muito boa às nossas refinarias. Mas precisamos analisar caso a caso, ver o momento do mercado. Não quer dizer que tenha de trazer tudo para o Brasil.
Plataforma para o crescimento: investimento concentrado no Brasil para chegar a produzir 4,9 milhões de barris
E a decisão de concentrar os investimentos na produção no Brasil tem a ver com as novas reservas?
Tem a ver com a descoberta do pré-sal. Nós temos dois grandes “pré-sal” no Brasil. Um é o petróleo na camada pré-sal. O outro “pré-sal” é o mercado brasileiro de consumo de produtos de petróleo. O consumo está crescendo tanto que nós, como empresa dominante no País, não podemos nos esquecer disso. É um dos maiores mercados do mundo. Em 2020, nós estaremos consumindo mais de três milhões de barris de derivados de petróleo. Só existem hoje quatro países que consomem isso: Estados Unidos, China, Índia e Japão.
Em 2020 o Brasil estará exportando os outros três milhões de barris em produto acabado ou petróleo?
Vamos exportar basicamente em petróleo, ainda. Mesmo construindo as nossas cinco refinarias, vamos aumentar nossa capacidade de refino, que hoje é de 1,8 milhão de barris por dia, para 3,1 milhões de barris por dia, em 2020, o equivalente à metade de nossa produção. O mercado brasileiro vai ficar mais ou menos equilibrado.
Isso torna o Brasil independente em relação ao mercado internacional?
Hoje, nós somos autossuficientes em relação ao petróleo, mas, em 2020, seremos autossuficientes também em relação aos produtos, aos derivados.
E isso torna o Brasil independente também em relação a preço?
Não, é impossível ter o Brasil independente em relação a preço. A menos que você feche o Brasil, mas o País não vai se fechar para o mundo. Se tivermos um preço doméstico eternamente abaixo do preço internacional, alguns dos 270 distribuidores brasileiros vão comprar da Petrobras e vão exportar. Se a companhia mantivesse o preço acima do preço internacional por um tempo razoável, os distribuidores não seriam obrigados a comprar da Petrobras. Eles podem importar e trazer para o Brasil. O mercado, por si só, vai ajustar o preço brasileiro, como ajustou nos últimos nove anos. Se você olhar os dados do final de 2002 até hoje, os preços brasileiros estão em linha com os preços internacionais no longo prazo. Não são no dia a dia, claro. Hoje, nós temos os preços internacionais acima dos preços brasileiros, mas é apenas por um tempo.
Qual é a defasagem atualmente entre o preço internacional e o preço praticado pela Petrobras?
Não dá para dizer, porque depende do momento, depende do tipo de produto. E não dá para fazer uma média dos produtos. Média é botar um pé dentro de água gelada e um pé dentro de água fervente.
Gasolina defasada: os preços no Brasil abaixo dos preços internacionais não vão durar muito tempo
Se fosse pelo preço praticado atualmente, qual seria a diferença?
Eu não vou dizer isso, porque você vai colocar na sua matéria: Gabrielli está dizendo que a diferença do preço é esta. Eu não vou dar essa informação.
Existe uma grande discussão sobre preços para o consumidor. O Ministério da Fazenda diz que não é para subir, mas o sr. diz que tem de subir.
Não, o Ministério da Fazenda não diz que não é para subir, porque ele não tem essa competência legal. A decisão de subir ou não é do Conselho de Administração da Petrobras. E a decisão é que a política de preços da Petrobras não mudou. A política de preços da empresa é acompanhar os preços internacionais no longo prazo. Quando apresentamos o nosso plano estratégico, nós dissemos o seguinte: se o preço do petróleo for US$ 80 o barril, o preço médio dos derivados no Brasil – e aí não é só a gasolina, mas também o diesel, óleo combustível, combustível de aviação, gás liquefeito de petróleo, os lubrificantes, etc. – vai ser de US$ 158 por barril. Se o preço no mercado internacional for US$ 95, o preço médio dos derivados será de US$ 177. O plano aprovado pelo conselho de administração diz isso, e é o que vamos seguir. Nos próximos cinco anos, seguiremos a variação do preço internacional.
Do plano de US$ 224,7 bilhões para os próximos cinco anos, quanto será destinado à compra de equipamentos e maquinários no mercado brasileiro? Vai aumentar a proporção de compras em relação aos outros anos?
Desse total, nós vamos investir no Brasil 95%. A média do conteúdo nacional é de 65%. Mas é uma média. Em alguns componentes, teremos 100% de conteúdo nacional; em outros, teremos 5%.
Como o sr. avalia o parque de fornecedores brasileiros?
Está crescendo muito. Os fornecedores brasileiros estão respondendo muito bem à P-57 e P-56, que são as duas últimas plataformas que estão saindo para operação dentro do preço e, mais importante, com conteúdo nacional maior do que eu pedi. Uma com 68% e outra com 72%. E por um preço competitivo.
Enviada especial a Bogotá