Desde que Steve Jobs lançou o primeiro iPhone, em janeiro de 2007, os telefones celulares nunca mais foram os mesmos. O hardware e o software do aparelho transformaram o setor de telefonia e, de uma maneira geral, toda a indústria de tecnologia. Os ecos dessa grande mudança se fazem mais fortes no Brasil de hoje. Em 2012, as vendas de smartphones superaram, pela primeira vez na história, a de PCs e televisores no País. De acordo com dados preliminares da consultoria IDC, obtidos em primeira mão pela DINHEIRO, cerca de 16 milhões de smartphones foram comercializados no País no ano passado, ante os cerca de 15,8 milhões de computadores pessoais. 

 

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Dança ensaiada: Steve Ballmer, da Microsoft (à esq.), e Paul Jacobs, da Qualcomm,

na abertura da CES 

 

Já o número de televisores vendidos em 2012 deve ficar na casa dos 15 milhões de aparelhos, conforme afirma a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Neste ano, a vantagem deverá ser ainda maior. Os smartphones devem ultrapassar a marca de 26 milhões de unidades, em comparação aos 17 milhões de PCs e 16 milhões de aparelhos de televisão. Já a demanda por tablets, categoria também em franca expansão, deve chegar a 5,5 milhões de itens no País em 2013. Esse movimento no mercado brasileiro faz parte de um amplo fenômeno global que está alterando a face do mercado de eletrônicos de consumo, que deve movimentar negócios da ordem de US$ 1,1 trilhão no mundo em 2013, segundo dados da consultoria GFK. 

 

Isoladamente, os telefones inteligentes representarão aproximadamente 31% desse bolo, com US$ 334 milhões. Se levarmos em conta os US$ 87 bilhões que serão gerados pelos tablets, a fatia dos dispositivos móveis deve chegar a cerca de 40% do faturamento total do mercado. “Com exceção dos equipamentos móveis, todos os outros segmentos da tecnologia tiveram retração nas vendas em 2012”, afirma Steve Bambridge, diretor da GFK. Não é por acaso, portanto, que os smartphones e os tablets tenham sido as grandes estrelas da edição deste ano da Consumer Eletronics Show (CES), uma das maiores feiras internacionais da indústria de eletrônicos, realizada na semana passada, em Las Vegas, nos EUA. Um episódio simboliza bem essa realidade. 

 

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A empresa convidada para participar da abertura do evento – uma honraria dispensada nos últimos 14 anos à todo-poderosa Microsoft – foi a Qualcomm, fabricante americana de chips para celulares. “Existem hoje no mundo cerca de seis bilhões de celulares, dos quais pouco mais de um bilhão são smartphones”, disse Paul Jacobs, CEO da Qualcomm, durante seu discurso no evento. “Nos próximos quatro anos, acreditamos que cinco bilhões de telefones inteligentes deverão ser vendidos.” Com a rápida expansão, fica fácil entender por que tantas companhias correm para garantir seu espaço nesse mercado, que hoje é dominado por Samsung, Apple, Google e Qualcomm. O verbo correr, aliás, não é figura de linguagem. 

 

Foi literalmente assim que o CEO da Microsoft, Steve Ballmer, apareceu para fazer companhia a Jacobs no palco. Com sua habitual animação, Ballmer deu uma corridinha ao ser anunciado e, depois de tomar a palavra, fez a sua ode à era móvel. “O novo Windows foi completamente redesenhado para entregar o melhor da mobilidade e da produtividade.” Embora a Microsoft tente acelerar o passo, o Google está à sua frente na batalha da mobilidade. O sistema operacional da empresa de buscas na internet marcou presença nos principais modelos apresentados durante a feira. Ele foi adotado, por exemplo, nos smartphones Ascend Mate, da Huawei, com tela de 6,2 polegadas; e no Xperia Z, equipamento à prova d’água produzido pela Sony. 

 

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Novos tempos: apresentado na CES, o computador IdeaCentre, da fabricante chinesa Lenovo,

é um exemplo da tentativa do setor de repaginar os PCs

 

NOVA ROUPAGEM Diante da efervescência dos negócios da mobilidade, muitos fabricantes se esforçam para manter viva a chama do velho PC, tornando-o mais móvel. É o caso da fabricante chinesa Lenovo, líder mundial do mercado de computadores. A empresa aposta em diferentes modelos capazes de aliar a mobilidade dos tablets com a produtividade do notebook. O novo Yoga 11S, por exemplo, é um ultrabook bastante maleável destinado ao consumidor final. O ThinkPad Helix, por sua vez, foi desenhado para atender às necessidades do usuário corporativo e possui uma tela que pode se transformar em um tablet. 

 

A interface touchscreen está presente em boa parte dos novos notebooks, mesmo nos mais tradicionais. Em última instância, isso mostra que conforto e flexibilidade falam mais alto na disputa pelos clientes. “Os consumidores querem produtos que entregam o que prometem, facilitem a sua vida e, sobretudo, reduzam o número de aparelhos”, diz à DINHEIRO Milko Van Duijl, presidente da Lenovo para a Ásia Pacífico e América Latina. O mais curioso nessa história toda é que o grande catalisador da onda móvel, o smartphone, passou apenas mudanças circunstanciais nos últimos anos. 

 

Basicamente o que houve, a cada nova geração de equipamentos, foram pequenas melhorias, como mais chips possantes, telas maiores e design mais fino e leve. Quer dizer então que agora a mobilidade chegou ao seu ponto máximo de inovação? Secou a fonte das grandes invenções? Não é bem assim. Uma nova geração de telas flexíveis, como os modelos Youm apresentados pela Samsung, e aparelhos que podem ser vestidos, a exemplo do Glasses, óculos com realidade aumentada desenvolvido pelo Google, parecem ter aberto as veredas para um novo salto inovador nos próximos anos. Mas isso, por enquanto, ainda são apenas cenas dos próximos capítulos.

 

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(Diretamente de Las Vegas)