05/08/2016 - 19:00
O presidente mundial da Nissan, Carlos Ghosn, escolheu o Rio de Janeiro para conduzir a tocha olímpica. Num percurso de 100 metros pela avenida Atlântica (a metade do que foi reservado para os demais trechos do percurso de mais de 26 mil quilômetros), Ghosn, nascido em Rondônia, recebeu a chama do ex-jogador de futebol Raí, na manhã da sexta-feira 5. Mais do que a satisfação do simbólico beijo da tocha com um medalhista de prata olímpico, em Seul 1988, e campeão mundial, em 1994, o presidente da montadora celebrava um legado que a empresa vai deixar para o Rio de Janeiro: a parceria com a Fundação Gol de Letra para transformar a comunidade do Caju, na zona norte, uma das mais carentes da cidade. A ONG criada por Raí e pelo também ex-jogador Leonardo entrou no Caju há 10 anos. Agora, esse projeto foi ampliado com a chegada da Nissan para dobrar a capacidade de preparar jovens para a vida profissional, com a melhoria da infraestrutura. Para homenagear a Olimpíada, a reforma dividiu o local em cinco espaços, como se fossem a união dos anéis olímpicos. No principal deles, um prédio de três andares foi reformado pra receber cursos profissionalizantes e preparação para os ensinos médio e superior. A reforma do espaço vai mais que dobrar a capacidade de atendimento, de 700 para 1,4 mil pessoas.
O legado social está conquistado e a intenção de Ghosn é que ele se repita nos negócios. Nesse período olímpico, ao andar pela capital fluminense, a cidade parece uma imensa fábrica da Nissan. Como patrocinadora do evento, a montadora cedeu 1,2 mil veículos para fazer o transporte oficial. Além das autoridades, carros de apoio no ciclismo, por exemplo, são da empresa japonesa. Para fazer essa imagem se tornar realidade, o plano do executivo é crescer passo a passo, mas com consistência. Para as duas marcas que estão sob a sua administração, a Nissan e a Renault (elas têm uma aliança estratégica desde 1999 e o executivo brasileiro é o CEO delas), ele projeta 15% de participação de mercado. Hoje, a japonesa tem 3% e a francesa, 7,4%. “O primeiro passo para a Nissan é chegar aos 5% e investimos para isso. Evidentemente, a Renault começou bem antes e tem investimento para ir até 10%”, diz ele (leia entrevista ao lado). “Mas não quero que as pessoas se concentrem apenas sobre o prazo e esqueçam o fato de que ela tem de ser sustentável. Quero continuidade, e estamos investindo para 15% ser sólido.”
A solidez imaginada pelo executivo passa pelas transformações da indústria automobilística. Estudo da Bloomberg New Energy Finance indica que os carros elétricos responderão por 35% das vendas globais de novos veículos em 2040, num total de 41 milhões de unidades. Isso significa mais de 90 vezes do que foi comercializado em 2015. Por isso, no sugestivo Museu do Amanhã, Ghosn apresentou a próxima evolução dos carros movidos a eletricidade. Um protótipo motorizado com a Célula de Combustível de Óxido Sólido (SOFC, na sigla em inglês) é o primeiro movido a energia elétrica gerada por bioetanol. Esse novo sistema possui um gerador que utiliza a reação do oxigênio com múltiplos combustíveis, incluindo etanol e gás natural, para produzir eletricidade. Sua autonomia esperada é de 600 km. Os testes serão feitos nas ruas de todo o País. “Fomos a primeira montadora a desenvolver o carro elétrico e hoje temos entre 40% a 50% da venda global”, diz. “Queremos manter essa liderança não só com carro elétrico. A célula de combustível cria oportunidades regionais de produção de energia que utiliza uma infraestrutura já existente”, afirma Ghosn. O futuro, como se vê, já começou.
ENTREVISTA
Carlos Ghosn, CEO mundial da Nissan
O senhor está feliz de carregar a tocha olímpica?
Faz parte do lado divertido dos Jogos Olímpicos. Todos estão muito sérios com a Olimpíada, outros frustrados. Mas as pessoas não percebem que estão frustradas com a situação econômica e política do País. Os Jogos são sempre uma grande festa. E ela vai começar. Antes tem muita ansiedade, para saber se vai ser um sucesso. Não me preocupo com isso.
Por que fazer esse lançamento tão importante no Brasil e num evento como a Olimpíada?
O etanol existe nos EUA e em outros lugares, mas para o mundo ele é ligado ao Brasil por ter sido o primeiro País que o usou de um jeito maciço para movimentar a indústria. Além disso, a Olimpíada é um dos maiores eventos esportivos mundiais. Decidimos lançar com nossos engenheiros esse conceito no Brasil, porque a associação entre etanol e Brasil é muito fácil.
Qual é o tamanho dessa evolução?
Esse não é um conceito a curto prazo. Estamos vendendo o carro elétrico, que é nossa prioridade. Mas isso não significa que não vamos desenvolver outra tecnologia. Temos o carro elétrico e a célula de combustível. Se o hidrogênio é um problema por não ser fácil produzir e estocar, fomos para o etanol, que é uma alternativa para países como o Brasil.