Quem atua no setor de petróleo sabe que o sucesso e o fracasso caminham lado a lado. Mesmo empresas mastodônticas e bem capitalizadas como a Petrobras, a britânica BP e a americana Exxon já viveram dias difíceis. Mas nada que se compara às atribulações nos quais mergulhou a brasileira HRT. A companhia debutou na Bolsa de Valores de São Paulo, em 25 de outubro de 2010, batendo a marca de o maior IPO (abertura de capital, na sigla em inglês) do ano. A operação rendeu R$ 2,6 bilhões, montante suficiente para transformá-la em uma das queridinhas de analistas e investidores. Desde então, a situação mudou bastante. 

 

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Aposta furada: Márcio Mello, presidente da HRT, prometeu extrair

petróleo antes de Eike Batista, mas não conseguiu

dar a largada na exploração das reservas

 

Incapaz de apresentar os resultados prometidos pelo empresário Márcio Mello, acionista fundador e presidente do grupo HRT, a petroleira viu, desde então, seu valor de mercado despencar de R$ 7,3 bilhões para R$ 1,1 bilhão. O empresário protagonizou uma das cenas mais emblemáticas no segmento de petróleo e gás. Na manhã de janeiro de 2011, em meio ao rigoroso inverno nova-iorquino, ao cruzar com Eike Batista, dono do grupo EBX, que inclui a petroleira OGX, Mello disparou: “Vou produzir petróleo antes de você, Eike.” O tempo mostrou quem estava certo. Um ano depois, a OGX entregava à Shell a primeira carga de óleo extraída do poço Waimea, na Bacia de Campos. 

 

Um feito ainda muito longe do alcance da HRT. Mello, por seu turno, ainda não conseguiu dar a largada na exploração das reservas da HRT na Namíbia, na costa leste da África. Nos campos situados na Bacia do Rio Solimões, no Amazonas, a petroleira encontrou apenas gás. O poço 1-HRT-9, encontrado na quarta-feira 12, por exemplo, tem um potencial de até três milhões de metros cúbicos do combustível por dia. O anúncio deu um novo ânimo para as ações da companhia, que fecharam o dia em alta de 12,6%, cotadas a R$ 4,38. Trata-se de um valor, no entanto, ainda distante do período de glória da HRT, que era negociada por R$ 34, em abril de 2011 (veja quadro ao final da reportagem). 

 

“Encontrar petróleo na região é só uma questão de tempo”, disse um confiante Mello, no mesmo dia do anúncio da descoberta na Bacia do Solimões. Entende-se o entusiasmo, que esbarra na experiência recente da HRT. Desde que começou a atuar na Amazônia, nenhum de seus poços perfurados rendeu uma gota sequer de óleo. O gás, mesmo que abundante, pode se tornar uma espécie de “ouro de tolo”, segundo especialistas do setor. É que quem dá as cartas é a Petrobras. Dona de imensas reservas de óleo e gás, a estatal chegou à região na década de 1970, construiu e opera o gasoduto Urucu-Coari-Manaus, que abastece as usinas termelétricas da capital. Sua meta é investir US$ 3,4 bilhões na Amazônia, até 2015. 

 

“A operação da HRT na Amazônia é inviável economicamente”, diz um experiente executivo do setor, com passagem pela Petrobras. Apesar da dinheirama arrecadada no IPO, a campanha exploratória da empresa na Amazônia vem sangrando a HRT. Hoje, ela possui declarado R$ 1,4 bilhão em caixa. “O montante é suficiente para bancar nossa campanha exploratória no Brasil e na África, pelos próximos dois anos”, afirma Mello. Apesar disso, durante conferência com analistas estrangeiros e brasileiros, na semana passada, ele reiterou que a atuação na Namíbia depende da atração de um sócio. No passado, em plena euforia da descoberta do pré-sal, essa tarefa parecia mais fácil. 

 

Tido como uma espécie de “encantador de serpentes” e hábil vendedor, Mello conseguiu arrancar US$ 1 bilhão da anglo-russa TNK-BP, em troca de uma fatia de 45% dos direitos exploratórios de 21 blocos em Solimões. Hoje, uma operação desse porte é tida como tarefa quase impossível. Especialmente depois que o consórcio formado pelas britânicas Chariot Oil & Gas e BP confirmou a inviabilidade econômica do poço de Kabeljou, na Namíbia, situação que poderia se repetir sob concessão da HRT, localizada nas proximidades. “Esse tipo de negócio embute sempre uma taxa elevada de risco e poucas certezas”, disse o analista Erick Scott, especialista em petróleo da corretora SLW. No caso da HRT, até agora o mais evidente são os riscos.

 

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