03/12/2014 - 10:00
Um dos mais respeitados conselheiros de gestão empresarial do mundo, o indiano Ram Charan foi o mentor de dezenas de executivos de grandes empresas globais, de diferentes setores, como GE, Bank of America, DuPont, Verizon e Tata Group. Aos 75 anos, ele continua com a agenda cheia. Os CEOs que já trabalharam com Charan destacam que sua principal característica é se transformar na voz da consciência dos líderes. Nesta entrevista à DINHEIRO, ele destaca os desafios para ser um grande líder.
Quem é o melhor CEO do mundo?
Primeiro é preciso definir o que determina o melhor CEO. A melhor pessoa pode não ser o melhor CEO. Alguns CEOs têm uma fantástica adaptação, mas não os recursos. Aqui, quando se olha para determinadas companhias, você tem uma grande adaptação em Larry Page, do Google e Jeff Bezos, da Amazon, donos de performances fantásticas. Do que as pessoas não devem se descuidar é da sua imagem.
Existem características essenciais para os melhores líderes?
O essencial para os melhores líderes é estar na situação certa e no cargo certo. É preciso ser capaz de descobrir o que acontece agora e buscar no passado experiências para tomar a melhor decisão. Um líder deve ser bom, também, em escolher as pessoas adequadas para integrar esse time e fazê-las funcionar.
Então, quais são as qualidades de um bom CEO?
Existem três, que devem ser destacadas: a capacidade de criar o que o cliente irá querer, e não o que ele quer. Em seguida, ser capaz de oferecer uma tecnologia realmente útil. Por fim, inovar, para que os consumidores achem atraente e consigam obter lucro.
As habilidades do CEO continuam iguais às do passado?
Não, o papel de um CEO mudou bastante nas últimas duas décadas. Se antes ele era um controlador e um estrategista, agora tem de ser integrador. Ou seja, ele tem de integrar talentos, de áreas diferentes, muitas vezes com egos fortes, numa mesma estrutura.
Cite um CEO que possa ser considerado um bom exemplo por ter salvado uma empresa em dificuldade.
O CEO que se aposentou recentemente da Ford, Alan Mulally. Ele ajustou e salvou a empresa, sem recorrer a qualquer auxílio financeiro governamental para recolocá-la nos trilhos novamente. Outros exemplos são Meg Whitman, da HP, e Anne Mulcahy, da Xerox, que fizeram um grande trabalho para salvar suas empresas.
Algum executivo brasileiro pode entrar nessa lista?
Eu não os conheço, mas penso que muitos deles construíram grandes empresas, como Ambev, Embraer e Natura. São empresas brasileiras, e fantásticas.
Muitos dos líderes têm como principal característica o conservadorismo. Não arriscar é um problema?
Isso depende das circunstâncias. Se você tomar muito risco não controla a companhia. Mas se você não tomar nenhum risco, você não tem como expandir a empresa. É preciso analisar caso a caso.
Os líderes de pequenas e médias empresas devem se inspirar nos líderes das grandes companhias?
Não, nenhuma companhia deve seguir o exemplo da outra. Aí é que está o ponto principal. Cada empresa, com seu tamanho, deve ter um comando específico para suas necessidades.
Os desafios nos mercados emergentes são únicos?
Eles são diferentes até dentro dos mercados emergentes. Não é possível compará-los. O desafio na Índia é diferente do do Brasil, que é diferente do da China, que é diferente do da Tailândia. É sempre importante pensar nas especificidades e não na generalização.
É possível que empresas cresçam sem que seus funcionários tenham uma formação que ajude no aumento da produtividade?
As pessoas estão aprendendo por elas mesmas. Hoje em dia é mais fácil aprender por si. Educação é uma obrigação, mas a educação formal não é obrigatória.