No início de dezembro, um grupo de empresas do ramo de petróleo, liderado pela OGX – do bilionário  Eike Batista –, criou um fundo de R$ 40 milhões, a ser entregue em dois anos ao governo do Rio de Janeiro, para custear a construção de bases, compra de veículos e aquisição de equipamentos para as forças de segurança do Estado nas comunidades isoladas do Rio de Janeiro, como a Rocinha e o Morro do Alemão – onde antes imperava a lei do tráfico de drogas. Dias depois, uma outra companhia do setor de infraestrutura se propôs a construir a sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Cidade de Deus, orçada em R$ 1 milhão. Inspiradas pela corrente de solidariedade, dezenas de outras empresas se comprometeram em doar recursos nos próximos anos para garantir a libertação dos morros da baixada fluminense, pelo menos até a Olimpíada de 2016. É o caso do Bradesco, que doará R$ 2 milhões por ano para ajudar a custear a segurança dos morros. 

33.jpg
Cenas de batalha e de tranquilidade: helicóptero da Polícia Militar patrulha a Rocinha,
enquanto crianças brincam em área urbanizada no Morro do Alemão, pacificada pelas forças do Estado

Todo esse empenho privado pela segurança do Rio de Janeiro não é apenas um gesto de bondade, mas se trata de um investimento com retorno certo. Em apenas uma semana, mil empresários nas 18 comunidades pacificadas legalizaram seus negócios, segundo levantamento do Sebrae-RJ. O mesmo estudo mostra que, entre novembro e dezembro, aproximadamente R$ 12 milhões adicionais serão investidos pelas empresas em melhorias de serviços e da infraestrutura nas comunidades carentes – desde concessionárias de motos até agências bancárias. “Criamos, com muito sucesso, o projeto Sebrae nas Comunidades, que após a pacificação permitirá aos empreendedores individuais legalizar suas atividades, podendo amadurecer a gestão e ter acesso a inúmeras vantagens, como o crédito”, diz Jacqueline Maia Ferreira, do Sebrae-RJ. 

Os novos horizontes para a economia da cidade são, indiscutivelmente, promissores. Segundo a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), o Estado receberá US$ 102 bilhões em investimentos daqui até 2013, por conta das  obras da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016, bem como da perspectiva de urbanização que antes era dominada por traficantes e hoje é controlada pelo poder público. “Ainda não sabemos qual será a repercussão positiva da pacificação no Rio de Janeiro, mas temos absoluta certeza de que marcará um novo ciclo de expansão dos investimentos”, diz o presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa.

 

34.jpg

 

 

A certeza é endossada pelo otimismo das empresas. Além do Bradesco, o Banco do Brasil, a Caixa e o Santander já anunciaram a abertura de novas agências bancárias na Rocinha. Sob a ótica dos negócios, o interesse é mais do que justificável. Afinal, só na Rocinha vivem cerca de 150 mil moradores. “As áreas mais carentes da cidade do Rio de Janeiro têm um gigantesco potencial de consumo, até então oprimido pela violência e pela ausência do Estado”, diz o pesquisador Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV). Um estudo realizado por Neri revelou que apenas 33,9% dos moradores da Rocinha são atendidos pelos Correios e somente metade da população tem acesso à iluminação pública. “Trata-se de uma cidade escondida dentro de uma metrópole.”

 

Para o professor do departamento de Economia da PUC-Rio José Márcio Camargo, a reconstrução da economia da Rocinha pode transformar a favela em um pujante centro de consumo nas próximas décadas. “As empresas verão oportunidades iguais às de qualquer bairro de classe média”, diz. O ambiente de prosperidade econômica no horizonte do Rio de Janeiro espelha, aparentemente, a bem-sucedida ação de combate ao tráfico. Praticamente sem disparar um tiro, como aconteceu no caso da Rocinha, a polícia reconquistou um território onde só entravam viaturas blindadas. “A paz é a base para todas as outras conquistas, inclusive para o novo momento que o Rio vive, de atração de bilhões de dólares em investimentos”, diz o governador Sérgio Cabral. “Sem paz, nada disso seria possível.” A economia agradece.