O mundo da Positivo Tecnologia se equilibra em três frentes de consumo: varejo, corporativo e setor público. Esse trinômio desenhou um horizonte de crescimento que, mesmo com a queda nas vendas de computadores (que ainda é o carro-chefe do portfólio) desde agosto, a empresa conseguiu fechar o terceiro trimestre deste ano 63% acima do mesmo período do ano anterior, com receita de R$ 979 milhões. Como 2020 estabeleceu uma base de comparação alta para esse mercado, a companhia tem razões de sobra para comemorar.

Além do resultado operacional, outro motivo de celebração foi o contrato com a chinesa Transsion Holdings, que vinha sendo negociado havia oito anos, para lançar os smartphones da linha Infinix no Brasil. Embora o aparelho Note 10 (R$ 1,5 mil) já esteja à venda em lojas do grupo Via e da operadora Vivo, Hélio Rotenberg, presidente da Positivo, disse em entrevista à DINHEIRO que o lote para 2021 ainda é pequeno, mas deve permitir testar a recepção do produto. “A virada Infinix começa no primeiro trimestre do ano que vem”, afirmou. A força da marca está no apelo para categorias médias, o que não significa que os modelos premium estejam descartados, segundo o executivo. Mas apenas que, agora e pelo próximo ano, quando apresentará mais oito celulares, a Positivo vai focar nas faixas entre R$ 1 mil e R$ 3 mil, que correspondem a 70% das vendas no País.

RECEPÇÃO Vendas do Infinix Note 10 devem ganhar escala a partir do primeiro trimestre de 2022. (Crédito:Divulgação)

Após o anúncio de encerramento das operações da LG, que até então era a terceira maior do setor, a Positivo acelerou as negociações para trazer o Infinix e garantir seu crescimento sobre o vácuo de 15% deixado pela coreana. Essa pressa tem dois nomes: Samsung e Motorola. As empresas ocupam, respectivamente, a primeira e a segunda posições no mercado, tornando difícil a vida dos que se aventuram no segmento de smartphones. “Para ser competitivo aqui, é preciso ter produção local”, afirmou. Com 32 anos de Brasil, a companhia quer ganhar os consumidores com a oferta de dois anos de garantia e uma das maiores redes de suporte técnico no território nacional. “Chamaremos essa proposta de Infinix by Positivo.”

O CUSTO BRASIL Mesmo otimista, a empresa reconhece as zonas nebulosas pela frente. E não só para a Positivo. O desabastecimento da cadeia é algo que, segundo Rotenberg, tirou o seu sono nos últimos meses. “Neste ano, conseguimos entregar o que foi programado ­— por vezes com atrasos — e nada mais.” Além do aumento de 100% do preço do silício, matéria-prima dos microprocessadores, e de 200% no valor da tela LCD, a disparada do frete de importação pressionou o custo. Hoje, segundo ele, 80% do preço final no mercado está atrelado ao dólar. “Nosso produto de entrada subiu de R$ 1,2 mil para R$ 2 mil.”

Após se recuperar da crise no mercado de computadores, entre 2013 a 2016, a Positivo entendeu que era preciso mudar a estratégia de negócio. “Não poderíamos mais ser monoproduto e nem monocliente.” O plano deu tão certo que, mesmo com os atuais desafios da pandemia, a empresa reportou R$ 2,7 bilhões de receita nos primeiros nove meses de 2021, superior a todo o faturamento no ano anterior, quando já havia crescido 59% na comparação com 2019. Com o início da entrega de urnas eletrônicas para o governo federal, um projeto de R$ 925 milhões, a recém-firmada parceria para fornecimento de terminais de pagamento para a Stone e a vinda do Infinix, a companhia projeta faturar entre R$ 1,2 bilhão e R$ 1,4 bilhão no quarto trimestre. O ano deve se encerrar com receita de R$ 4 bilhões, crescimento de 50% sobre o anterior. Para 2022, a promessa do 5G e da retomada de operações presenciais ampliam o horizonte da Positivo, que se permite voltar a sonhar — mesmo no Brasil.