A publicitária baiana Joanna Moura, de 27 anos, viveu nos últimos 12 meses uma espécie de inferno pessoal. Em março de 2011, cansada de viver com um rombo nas finanças equivalente a duas vezes o próprio salário, ela olhou para o guarda-roupa abarrotado e sentenciou: nada de compras por um ano. Para obter apoio psicológico para essa decisão, Joanna criou um blog no qual contava diariamente como resistia às tentações. Doze meses, 365 posts e uma conta bancária no azul depois, o blog “Um ano sem Zara” havia conquistado 25 mil visitantes diários e movimentado no Brasil a discussão do chamado consumo consciente. 

 

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Ela conseguiu: Joanna Moura devia duas vezes o próprio salário.

Ficou um ano sem Zara e virou o jogo.

 

Mais do que meramente comprar menos, essa filosofia discute como gastar melhor, reduzir o estresse e incluir uma pitada de sustentabilidade nos gastos diários. “Comecei a encarar as despesas de um jeito diferente e agora percebo quais são as minhas necessidades reais”, diz Joanna. Comprar compulsivamente é tão comum que virou tema de livros e filmes. Um exemplo é o divertido Os delírios de consumo de Becky Bloom, da inglesa Sophie Kinsella. Endividada, a personagem Rebecca “Becky” Bloom vive fugindo do gerente do banco e procurando fórmulas mirabolantes para pagar o cartão de crédito. Parece indisciplina, mas pode ser mais sério. 

 


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Pesadelo no armário: cena de Os delírios de consumo de Becky Bloom: problema universal.

 

“O consumo compulsivo é primo do vício. Pode virar uma doença e exigir ajuda de psiquiatra e psicólogo”, diz a psicóloga paulista Valéria Meirelles. No caso de Joanna, o blog  ajudou-a a controlar os gastos. O consumo não satisfaz apenas necessidades materiais, mas serve como válvula de escape. Ao publicar suas angústias, a publicitária evitou cair em tentação. Não é preciso escancarar o armário para a internet, mas há maneiras de driblar a compulsão por consumir. Se o vermelho nas finanças pessoais está incontrolável, é preciso uma solução drástica. “Quando a pessoa se desorganiza financeiramente, o ajuste, em geral, é dramático. 

 

É preciso fechar a bolsa mesmo”, afirma o especialista em investimentos Fernando Meibak. No entanto, se o principal problema não for atacado, os gastos vão voltar a sair do controle quando as finanças se equilibrarem. O consultor de investimentos Raphael Cordeiro já indicou o divã para clientes que sempre cometiam os mesmos deslizes financeiros. “É preciso mudar de hábito, o que não é fácil”, diz. “Quando o descontrole é crônico, é preciso procurar ajuda médica.” Além de apoio terapêutico nas horas de maior insegurança, os especialistas em psicologia e em finanças pessoais recomendam algumas medidas práticas para tornar mais eficiente o perfil de consumo. 

 

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Algumas são óbvias, como evitar comprar por impulso e procurar avaliar de maneira objetiva se aquela aquisição é realmente necessária. Esbanje bastante, mas só os neurônios. “Procure analisar de maneira racional o que você possui, e veja se precisa mesmo de mais roupas, sapatos, bolsas ou outros itens”, diz Valéria. Segundo ela, não é incomum o consumidor voltar para casa carregado e  nem sequer retirar as compras da sacola. “A aquisição foi para satisfazer uma necessidade psicológica, não material”, diz. Evitar essas compras supérfluas melhora o orçamento e aumenta a capacidade de poupança. Também é bom evitar armadilhas como as das liquidações. 

 

A busca de uma pechincha pode levar o consumidor a uma loja do outro lado da cidade, desperdiçando tempo, combustível e poluindo o meio ambiente. Outras sugestões são menos evidentes. “A pessoa tem de procurar outras atividades que lhe dêem prazer, além de passar na loja”, diz Cordeiro. Adotar um passatempo é uma boa alternativa. Também é recomendável aos mais vulneráveis às tentações das vitrines gastar bastante saliva e compartilhar as dificuldades com alguém conhecido. Regra número 1: a vendedora não é a pessoa mais indicada. Uma sugestão pouco conhecida é: quando surgir aquela vontade de comprar, corra – mas não para o shopping. “Atividades físicas liberam endorfina, que reduz uma ansiedade que poderia levar a compras por impulso”, diz Cordeiro.

 

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