Pouca gente sabe como são feitas as leis e as salsichas. Ainda bem: caso todo mundo soubesse, ninguém respeitaria as primeiras e muito menos comeria as segundas. Essa antiga piada, do tempo das carruagens, está se tornando quase uma realidade na Europa. No caso, o protagonista é a carne de cavalo, utilizada de forma fraudulenta no lugar de carne bovina na produção de hambúrgueres e lasanha. O escândalo, que havia irrompido em janeiro na Irlanda, se estendeu por 16 países do continente europeu e envolveu nomes coroados da indústria de alimentos. A suíça Nestlé, líder do setor no mundo, anunciou na segunda-feira 18 a retirada de dois produtos do mercado por ter encontrado DNA equino em sua composição. Segundo a companhia, o fornecedor da carne em questão era a empresa alemã H.J. Schypke, uma subcontratada do frigorífico JBS. 

 

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A empresa brasileira confirmou ter um contrato com a Schypke, mas também eximiu-se da responsabilidade. “A JBS não possui relação societária ou operacional com a Schypke”, afirmou a companhia, em comunicado. Enquanto a Nestlé culpava o JBS, este jogava a responsabilidade em sua subcontratada alemã, que por sua vez afirmou ter adquirido a carne de outro fornecedor, cujos produtos seriam certificados. A estratégia, no entanto, não foi eficaz. Desde o início da crise, o consumo de alimentos congelados caiu 5% na França. No Reino Unido, as vendas de hambúrgueres despencaram 40%. Um estudo feito pela consultoria Nielsen apontou que 67% dos ingleses se dizem menos propensos a comprar produtos com carne processada. O consumidor europeu se mostra desconfiado e incrédulo. 

 

A reação do professor Alan Reilly, chefe da vigilância sanitária da Irlanda, ao descobrir o primeiro caso de carne de cavalo em produtos bovinos, é um bom exemplo disso. Reilly não conseguia acreditar no resultado dos testes e mandou refazê-los mais de uma vez, em três laboratórios, sendo um deles na Alemanha. “Alguma coisa tinha de estar errada”, afirmou o professor em entrevista ao jornal britânico The Independent. Apesar da repercussão do caso, a indústria brasileira não parece preocupada. Para Antônio Jorge Camardelli, presidente da Abiec, que representa os exportadores brasileiros de carne, os europeus terão de rever algumas exigências sanitárias, que são na verdade medidas protecionistas. “Não dá para impor barreiras, sem considerar a viabilidade econômica”, afirma Camardelli. Certo mesmo é que o cavalo é o menos culpado dessa história.

 

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