12/04/2013 - 21:00
Ao ouvir falar em “cruzeiros marítimos”, o cérebro humano desencadeia uma reação elétrica em sua rede de neurônios. Em fração de segundos, imagens se formam na mente: uma turba de jovens embriagados, piscina superlotada, fatias de pizza requentadas no bufê e um mar de braços lançados ao alto, sob o refrão de um hit de axé music ou de sertanejo universitário, no maior estilo farofa. Tudo acompanhado de um aroma quente que invade as narinas e nos faz pensar: “Cerveja?”. Bendita memória olfativa. Nada muito agradável. Para mudar esse cenário, que sugere o suicídio em alto-mar, companhias marítimas de alto luxo oferecem novos e exclusivos pacotes que incluem desde aulas de gastronomia a leilões de arte, com direito a concertos de música clássica e musicais originais da Broadway a bordo para animar a noite dos passageiros.
New York, New York: no Norwegian Breakaway, musicais da Broadway, espetáculos de dança tango (à esq.),
22 bares e restaurantes, e um supertobogã
Tudo para agradar aqueles que procuram experiências diferenciadas e mudar a opinião de quem acredita que o mercado de cruzeiros não tinha nada mais a oferecer. Para isso, os navios não se esmeram somente em requinte e conforto das cabines ou em um menu de serviços apurado. Investir em arte, cultura e gastronomia é o que tem feito a diferença. A busca é por um passageiro seleto, com uma bagagem cultural mais pesada do que as malas que ele trouxe para a viagem. Ele precisa saber, por exemplo, o que é e qual é a importância do restaurante japonês Nobu, o mais famoso de Nova York, para entender o valor de uma aula com o chef Nobu Matsuhisa, como acontece a bordo do transatlântico Serenity, da empresa americana Crystal Cruises.
Atrações: Navio Serenity, da Crystal Cruises, tem aula com Nobu Matsuhisa, fundador do restaurante
nova-iorquino Nobu, e curso de sommelier.
O pacote de 15 dias pelo norte da Europa, ao preço de US$ 17 mil por pessoa, inclui o privilégio de aprender a fazer sushi com ele – e comer depois. Há outros chefs estrelados no Guia Michelin, como Christophe Emé e Danny Meyer, no elenco de outro navio da Crystal, o Symphony. Aulas de alta gastronomia também são o atrativo da companhia italiana Silversea, em parceria exclusiva com a organização francesa Relais & Châteaux. Nesse caso, o charme dos cruzeiros da empresa, que levam o nome de L’École des Chefs, é a imersão que se faz na culinária regional de cada parada. Há um passeio chamado “Tour a Feira Livre”, em que os passageiros desembarcam com o cozinheiro para comprar os ingredientes locais que formarão o menu do dia, seja na China, no Japão, na Itália ou na África do Sul. “O programa oferece um treinamento ao vivo, com chefs renomados, para aprender novas técnicas de culinária”, diz Mário Trojman, diretor de vendas da Silversea no Brasil. “Mas o grande diferencial mesmo é a diversão.”
VINHO E ARTE Para Cris Bicalho, CEO da agência de turismo B360, que promove os roteiros da Crystal no País, viagens com cozinheiros reconhecidos internacionalmente são uma oportunidade para experimentar diversas formas de cozinhar sem precisar nem sequer deixar o navio. “Um cliente que procura uma viagem marítima num cruzeiro de luxo já é um cliente diferenciado e exigente”, afirma Cris. “Isso significa que, além do conforto de uma cabine bem decorada e espaçosa, ele quer um serviço atencioso e também um diferencial de alta gastronomia e com uma carta de vinhos de primeira linha.” Os vinhos, de fato, são outro elemento de interesse nesse segmento.
Atrações: Passageiros apreciam quadros de Miró que foram leiloados no Regent Seven Seas.
A companhia Oceania Cruises, com sede na Flórida, promove no navio Marina jantares harmonizados com vinhos premiados pela revista americana Wine Spectator. Ainda neste ano, a embarcação – que também conta com aulas de gastronomia – zarpará do Rio para uma viagem de 20 dias pela Argentina e pelo Chile. As tarifas chegam a quase US$ 16 mil. Segundo Daniela Khauaja, coordenadora de marketing da ESPM, a tendência no mercado de luxo é que cada vez mais surjam novos produtos desse nível para agradar o público que procura exclusividade. “Com a ascensão da classe média e a consequente inserção dessa camada no turismo em geral, é normal que as empresas queiram entregar mais e mais experiências inovadoras”, diz Daniela.
Para saciar o apetite de quem tem fome de cultura, opções não faltam. O navio L’Austral, da francesa Compagnie du Ponant, por exemplo, criou um itinerário especial para os amantes da música clássica. Durante sete dias, seus passageiros poderão desfrutar de uma programação voltada para o estilo musical. O roteiro inclui cidades na Itália, Croácia, Grécia e Turquia, além da presença do renomado pianista francês Alain Duault, um estudioso que selecionou pessoalmente oito músicos para falar sobre música clássica em palestras a bordo. As tarifas saem por cerca de R$ 7,5 mil por pessoa, na cabine mais básica do navio.
Atrações: Chef do navio Silversea desce em feira na China para “comprar” o almoço do dia
Já nos três navios da americana Regent Seven Seas, o inusitado é poder ir para casa, ao final da viagem, com uma obra de arte autêntica debaixo do braço. Isso porque uma parceria da companhia com a empresa de leilões Park West promove essas vendas junto aos passageiros. Em 2012, gravuras de Pablo Picasso e óleos sobre tela de Marc Chagall estiveram entre as obras vendidas. Há um lote especial de Joan Miró reservado para o roteiro Veneza-Istambul, com partida no dia 12 de agosto. O pacote pela Europa custa, em média, US$ 5 mil, e pela Ásia-Oriente, US$ 9 mil.
Por fim, o navio Norwegian Breakaway, recém-lançado ao mar, promete levar seus passageiros a Nova York – sem que eles precisem colocar seus pés em terra firme. Isso porque todos os ambientes e serviços do navio americano, com pacotes na faixa dos R$ 1,7 mil, foram inspirados na efervescência da cidade que não dorme jamais. Musicais consagrados da Broadway, como o Rock of Ages, shows de blues e jazz e espetáculos circenses à la Cirque Du Soleil – além de 22 restaurantes e bares, um deles todo de gelo –, garantem o agito noturno. O que chama a atenção também é um enorme tobogã duplo colocado na área das piscinas. Uma coisa meio Disney, radical demais, cuja grande serventia deve ser para curar a ressaca da noite anterior.