Que uma empresa sem um funcionário sequer tenha recebido R$ 2,5 milhões por um trabalho de consultoria não chega a ser um problema. Pode ser mérito, resultado de um serviço impecável, original e extremamente relevante para o cliente. Mas quando se descobre que o trabalho foi feito com base em informações extraídas da Wikipedia, nesse caso há mesmo que se desconfiar. Foi com base nesses indícios – e muitos outros – que a Justiça decidiu, na semana pasada, quebrar os sigilos bancário e fiscal da LFT Marketing Esportivo, cujo dono é Luis Claudio Lula da Silva, o “Lulinha”, filho do ex-presidente Lula.

O plágio de informações da internet é o menor de seus problemas. A empresa de Lulinha está no radar da Polícia Federal desde o início do ano, no contexto da Operação Zelotes. Deflagrada em março, ela expôs um suposto esquema de corrupção envolvendo o pagamento de propinas a funcionários da Receita Federal que, em troca, aliviavam multas de empresas com dívidas fiscais bilionárias. Como um fio desencapado, a investigação evoluiu. Descobriu-se que, além de facilitar a sonegação, a máfia também operava um criminoso sistema de lobby, capaz até mesmo de pagar pela aprovação de Medidas Provisórias.

É aí que pairam as suspeitas sobre Lulinha. Segundo as investigações, Luis Claudio recebeu R$ 2,5 milhões da empresa Marcondes e Mautoni, que pertence ao lobista Mauro Marcondes Machado, preso em outubro. Ex-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Marcondes teria pago esse valor para subornar pessoas que poderiam influenciar na aprovação de Medidas Provisórias vantajosas a montadoras. O esquema envolveria ainda Gilberto Carvalho, ex-ministro de Lula e responsável por agendar visitas ao presidente.

Ambos negam as acusações. No caso de Lulinha, seria interessante apresentar provas de que a consultoria prestada ao lobista Mauro Marcondes valem cada centavo dos R$ 2,5 milhões cobrados. E tudo indica que a onda de operações anticorrupção com foco no setor empresarial está longe do fim. Na sexta-feira 11, a Polícia Federal desbaratou mais uma delas, a Vidas Secas, que investiga um desvio de R$ 220 milhões envolvendo empreiteiras como OAS, Galvão Engenharia, Barbosa Melo e Coesa, nas obras de transposição do Rio São Francisco. É mais um vasto material de escândalos para ser incluído no Wikipedia. Lulinha que o diga.