10/10/2014 - 20:00
De 2009 a 2011, o Brasil experimentou seus anos de ouro no setor de cruzeiros marítimos. Foi a época em que mais de 800 mil turistas, em média, viajavam de navio todos os anos, com mais de 20 embarcações operando no litoral. A maré, no entanto, está baixando. Em 2013, foram transportadas 596 mil pessoas. Para este ano, espera-se uma queda entre 15% e 20%, com apenas dez transatlânticos navegando em águas brasileiras. Diante da retração do mercado, seria natural imaginar que a americana Royal Caribbean, segunda maior companhia de cruzeiros do mundo, com faturamento global de US$ 8 bilhões, não teria o que comemorar em 2014. Engano.
“Vamos nadar contra a maré e crescer 15% neste ano”, diz Ricardo Amaral, presidente da companhia no País. Como será possível crescer em um mercado turbulento e pouco animador? Oferecendo, segundo o executivo, pacotes internacionais, não se limitando aos tradicionais roteiros no litoral brasileiro. Como os destinos mais cobiçados pelos brasileiros são a Europa e o Caribe, a empresa fechou parceria com as agências de turismo TAM Viagens e CVC para que o cliente possa comprar passagens aéreas e até fazer reservas em hotéis no exterior pelo seu próprio site. “Não seria possível lucrar operando apenas cruzeiros na costa do Brasil”, diz Amaral.
“Apostei na vontade do brasileiro de conhecer destinos diferentes viajando de navio.” Por enquanto, a aposta tem dado certo. No ano passado, apesar das dificuldades, a Royal Caribbean ampliou em 17% suas vendas no País. O aumento dos negócios chama a atenção, principalmente porque a empresa, que antes operava com cinco navios, agora utiliza apenas um – o Splendour of the Seas. A superembarcação de 915 cabines transportou pouco mais de 50 mil clientes na temporada passada, contra os mais de 500 mil dos bons tempos. “Por isso, nossos vendedores da Royal Caribbean priorizam as vendas dos pacotes para fora”, afirma Amaral.
Apesar do mercado retraído, ele acredita na recuperação da demanda interna por cruzeiros, impulsionada principalmente pelo aguardado aumento dos investimentos em infraestrutura dos portos. “O foco das vendas na Europa e no Caribe deve ser temporário”, diz o executivo. No entanto, um problema a ser resolvido, para quando acontecer a retomada, é o sucateamento dos terminais de passageiros, que corrói as margens de lucro das companhias marítimas. “Operar no Porto de Santos é duas vezes mais caro do que no de Barcelona”, diz Roberto Fusaro, presidente da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Abremar).
Enquanto o mercado local não reage e a infraestrutura continua precária, a Royal Caribbean continuará investindo para seduzir o consumidor mais endinheirado, que tem cada vez mais buscado novidades e viagens exóticas. Os navios da Celebrity, categoria premium da Royal Caribbean, por exemplo, tiveram 70% mais brasileiros na temporada de 2014 em relação ao ano passado. “Depois que vai ao Caribe e à Europa, o consumidor da classe A quer conhecer paisagens distintas, como o Oriente Médio e o Alasca”, diz Michael Bayley, presidente mundial da Celebrity, que esteve em São Paulo na última semana de setembro para definir planos para atrair mais brasileiros a bordo de seus luxuosos navios. “O Brasil pode até não ser prioridade para a Royal Caribbean”, diz Bayley. “Mas os brasileiros são.”