Quando o porto ganha espaço no noticiário é sinal de problema.” A frase proferida pelo executivo Marcelo Araujo, presidente do grupo Libra, conglomerado que administra terminais logísticos nos portos do Rio de Janeiro e de Santos e faturou R$ 1,1 bilhão em 2013, evidencia como as queixas sobre as dificuldades logísticas se tornaram recorrentes em meio ao debate sobre os gargalos da economia brasileira. De fato, o País convive com problemas graves nessa área. Mas algumas empresas estão fazendo sua parte para desatar esse nó.

Uma delas é a Libra Terminais Santos, subsidiária do grupo, que acaba de atingir duas marcas expressivas. A primeira foi o contrato assinado com um “pool” de nove operadores globais, entre os quais a Maersk Line, a Hamburg Süd e a China Shipping, que fará com que seu terminal seja responsável por 48,5% de todo o frete marítimo de contêineres vindo da Ásia para Santos. Trata-se de uma das rotas mais movimentadas do mundo, e que concentra uma fatia expressiva do comércio exterior brasileiro. A equipe liderada por Araujo só conseguiu essa façanha porque investiu pesado em melhorias, especialmente na da produtividade.

Foram R$ 170 milhões nos últimos seis anos. E é nesse quesito que surge a segunda boa notícia. No período janeiro-junho, o terminal bateu cinco vezes o recorde latino-americano de Movimentos Por Hora (MPH), índice usado como medida de produtividade no setor, chegando a 184 MPH. Até então, o melhor desempenho tinha sido de 155 MPH no processo de descarga de um navio. “Desbancamos uma marca que vigorava havia dois anos”, afirma Araujo. “Em vez de apenas reclamar das condições adversas em um segmento altamente regulado, buscamos soluções.” Apesar das vitórias, o executivo diz que seu objetivo é melhorar ainda mais em todos os quesitos.

Para isso, ele teve aprovada uma verba de R$ 2 bilhões para o período 2014-2019. A maior fatia, R$ 765 milhões, será gasta exatamente em Santos, responsável por quase metade das receitas do grupo. Com passagem por grandes empresas, como Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Shell, Natura e Camargo Corrêa, Araujo assumiu o leme da Libra com a missão de dar um choque de gestão na empresa. Especialmente em seus dois principais ativos, os terminais do Rio e de Santos. Neste último, a empresa enfrenta uma situação sui generis.

Além de dispor de uma área equivalente a 20% da dos concorrentes situados no canal de Santos, como a Santos Brasil, a Libra tem o espaço de seu retroporto (área entre o cais e o pátio de armazenagem) cortado por uma ferrovia, que pertence à America Latina Logística (ALL). Resultado: 18% do tempo útil de carga e descarga de navios é perdido devido à paralisação imposta pelas manobras dos trens. Mais. A existência de uma separação entre um de seus três píeres também limita sua capacidade operacional. “Mais que ficar lamentando os problemas, tratamos de atacá-los um a um”, afirma o presidente do grupo Libra.

Nesse quesito, os R$ 100 milhões investidos em tecnologia da informação (TI) foram vitais. Nesta área, a empresa conta com 100 funcionários dedicados em replicar nos demais terminais o trabalho de automação e de eficiência de processos feito em Santos. Nessa tarefa ele conta com a consultoria do Instituto Falconi, de Belo Horizonte, especializado em gestão. No entanto, para avançar ainda mais, Araujo diz que será preciso contar com uma forte parceria com a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), que controla o Porto de Santos, além do governo federal. Isso porque a remoção da linha férrea e a construção de um viaduto na área são vitais para desafogar o espaço de manobras do porto em geral.

Trata-se de um projeto orçado em R$ 100 milhões e que, de acordo com o executivo, já foi incorporado ao PAC 2. A expectativa é de que o processo de licitação das obras seja iniciado até o fim deste ano. Mas, se isso não acontecer, Araujo garante que não haverá dificuldade em cumprir o contrato que acaba de assinar com o pool de armadores. Segundo ele, o terminal da empresa já é robusto o bastante para absorver a carga esperada. Desde 1997, a capacidade de movimentação saltou de 500 mil contêineres por ano para 600 mil. “Queremos continuar batendo recordes”, afirma.