Do alto da London Eye, a roda-gigante que dá vista para toda a cidade de Londres, ou às margens do rio Tâmisa, dois dos principais cartões-postais da capital britânica, é possível ver a quantidade de gruas que se integram à paisagem. Os prédios em construção refletem a retomada do setor imobiliário que vem impulsionando a atividade econômica no Reino Unido. Na projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI), o país apresenta a maior taxa de crescimento entre os mercados europeus, com alta estimada de 2,9% neste ano. No primeiro trimestre, o PIB britânico registrou uma expansão de 3,1%.

“Essa retomada se deve à volta da confiança dos investidores, dos consumidores e do governo na economia”, afirma Eduardo Navarro, diretor da KPMG para Mercados de Alto Crescimento, baseado no Reino Unido. Essa aparente euforia, no entanto, deve ser vista com muita cautela. O valor das casas nunca esteve tão elevado. Segundo a consultoria Markit Economics, os preços dos imóveis em Londres subiram 15,7% de 2013 para 2014, e no Reino Unido, 8,7%. Em recente relatório, a gestora de recursos Schroders Investments avaliou que o incentivo do governo ao crédito resgatou a confiança no mercado, mas também estimulou uma supervalorização dos imóveis, em meio a um boom no setor.

Segundo Navarro, o foco estatal está em atrair investimento estrangeiro. Para isso, o aumento do consumo e uma visão de longo prazo vão estimular ainda mais a realização de negócios no país. Entre os setores que piscam no radar dos investidores estrangeiros estão TI, serviços financeiros, mídia e indústria criativa, biotecnologia e farmacêutica, e energias renováveis. Eles atraem empresas da França, Alemanha, Estados Unidos, China, Coreia e Malásia. Segundo o FMI, o Reino Unido vai, junto com os EUA, puxar a média do PIB mundial neste ano, para 2,2%. Enquanto isso, os países da zona do euro vão patinar em torno de 1%.

Um estudo da PWC mostra que, além do mercado imobiliário, outros segmentos vão empurrar a economia britânica, como o de hotéis e restaurantes. “O Reino Unido é mais dependente do que nunca em serviços”, afirma Simon Wells, economista-chefe do HSBC no Reino Unido. Outra boa notícia da terra da rainha Elizabeth II é que o setor industrial tem mostrado evolução. Em abril, o Índice de gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês), que serve como um termômetro do setor produtivo, subiu para 57,3 em abril, ante 55,8 em março. É o maior nível em cinco meses, de acordo com a Markit Economics.

Apesar da proximidade com países afetados pela crise econômica, como Grécia, Itália e Espanha (leia reportagem abaixo), o Reino Unido teve como trunfo justamente o fato de estar fora da zona do euro. “De certa forma, isso blindou o país da crise”, diz John Hawksworth, economista-chefe da PwC no Reino Unido. Para Wells, o Banco da Inglaterra teve total autonomia na política de juros, ao contrário das autoridades monetárias dos países subordinados ao Banco Central Europeu. “Estas medidas têm sido um grande apoio para a economia”, afirma.

Outro fator que comprova a recuperação da economia é a queda na taxa de desemprego para níveis inferiores a 7% (leia quadro acima). “As empresas estão contratando mais e buscando mais parceiros para aumentar os seus negócios”, diz Navarro, da KPMG. A estimativa é que sejam criados de 100 mil a 200 mil empregos na próxima década. Muitos deles deverão estar ligados ao turismo, que vem ganhando ainda mais espaço na economia. No ano passado, Londres ultrapassou Paris como o destino mais visitado do mundo. Foram 16 milhões de pessoas que puderam constatar pessoalmente a invasão das gruas na paisagem londrina.

(diretamente de Londres)

Desalento na Espanha

Por Luís Artur Nogueira, de Madri

A Praça Puerta Del Sol, no centro de Madri, é tomada diariamente por uma multidão de turistas de todos os cantos do mundo, que desejam fotografar a estátua símbolo da cidade: um urso beijando uma árvore de mirtilo. O movimento intenso de forasteiros na região, no entanto, não esconde a triste realidade econômica da Espanha, que registra uma taxa de desemprego de 25,9% – cinco vezes maior que o índice brasileiro. Na porta das lojas de suvenires ou mesmo do tradicional Museo Del Jamon, que vende um minicopo de cerveja, apelidado de caña, a 45 centavos de euro, é impossível ignorar a presença de pedintes, em busca de uma esmola.

Após o estouro de sua bolha imobiliária, em 2009, a Espanha, assim como outros países europeus, mergulhou em uma crise com graves efeitos sociais. Entre os jovens de 18 a 25 anos, o drama é ainda maior, já que as estatísticas oficiais apontam uma taxa de desemprego de 55%. No mercado imobiliário, a recuperação é incipiente, com inúmeros imóveis à venda. O impacto da crise pode ser sentido também no setor automotivo. “Há três anos, comprei um Sandero, da Renault”, diz o brasileiro Renato Mauri de Oliveira, que mora no município de Três Cantos, na região metropolitana de Madri. “Hoje, o mesmo modelo está com preço de tabela 10% mais barato.” Após crescer 0,4% no primeiro trimestre, o governo espanhol elevou de 0,7% para 1,2% a previsão de expansão do PIB em 2014. Ainda é pouco para uma população desalentada.