26/12/2014 - 19:30
Nunca a expressão “tempestade perfeita” foi tão bem aplicada à bolsa de valores quanto em 2014. À turbulência natural provocada por qualquer eleição presidencial somaram-se dois outros grandes vetores de incerteza. Um deles foi a indefinição com relação ao crescimento da economia americana e do comportamento dos juros nos Estado Unidos. O outro foi uma investigação que atingiu em cheio a Petrobras, empresa cujas ações estão entre as mais negociadas do pregão, e que recuaram aos menores níveis desde 2005. Como resultado, os principais índices apresentaram os maiores solavancos em muito tempo.
O Ibovespa, por exemplo, chegou a retroceder a patamares inferiores aos de dez anos atrás, para amargar uma queda de 1,2%, no ano, até o dia 23 de dezembro. A maioria dos gestores naufragou nos vagalhões da incerteza, mas alguns conseguiram evitar o pior através de estratégias que procuram passar ao largo dos grandes riscos. “Evitamos as commodities e nos concentramos em empresas desvinculadas da macroeconomia, como BB Seguridade, Kroton e Kepler Weber”, diz o economista carioca Renan Vieira, gestor da Geração Futuro e responsável por oito dos dez fundos de ações do tipo Ibovespa Ativo mais rentáveis de 2014. Uma estratégia parecida também foi a receita de Carlos Eduardo Rocha, sócio da Brasil Plural, que controla a Geração.
36,7% – foi a alta das ações da BB seguridade, um dos papéis
de melhor desempenho em 2014
Responsável pelo Brasil Plural FIC FIA, fundo mais rentável no ano dessa categoria, Rocha concentrou-se em empresas com pouco endividamento, boa gestão e muito dinheiro em caixa. Além de apostas parecidas com as de Vieira, Rocha aproveitou-se da alta dos preços internacionais da celulose, commodity que andou na contramão das demais. Outra de suas escolhas foram as ações do Grupo Ultra. “É uma companhia com forte posição de caixa, atua em segmentos com margens elevadas e seus resultados são consistentes”, diz Rocha. As ações da BB Seguridade, que apresentaram uma alta de 36,7% no ano, justificaram o desempenho do fundo mais rentável de 2014, o Safra BB Seguridade, que rendeu 37,7%.
“A empresa tem boa capacidade de geração de caixa, seus resultados devem crescer anualmente 20% nos próximos anos, e isso se refletiu nos preços das ações ao longo do tempo”, diz Luiz Fabiano Godoi, diretor de investimentos da J. Safra. Uma das alternativas à redução da exposição às commodities é, literalmente, remeter o dinheiro para fora do País. Alguns dos fundos mais rentáveis de 2014 foram os que investem em títulos de empresas americanas negociados no pregão, os Brazilian Depositary Receipts (BDR). Duas das carteiras que se deram bem são geridas pela Bram, a empresa de administração de recursos do Bradesco. “Essa é uma estratégia de baixa correlação com a economia brasileira e que consegue capturar o bom desempenho da economia americana”, diz Luis Guedes, diretor da Bram.
Segundo o gestor, o fato de os últimos comunicados do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) terem indicado que a alta das taxas de juros nos Estados Unidos será mais lenta do que se esperava no início do quarto trimestre fornece mais um alento para esses papéis. Segundos ele, o lucro das empresas americanas deve crescer, em média 9%, em 2015, o que é uma excelente notícia para os investidores. “Os índices de ações dos Estados Unidos vêm batendo recordes sucessivos”, diz Guedes. “Como o dólar deve continuar subindo, essa alta deve ser mais expressiva para o investidor brasileiro.”
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