No quinto dia do primeiro mês lunar, o deus da fortuna Zhao Gongming é invocado, na China, para garantir a prosperidade durante o ano todo. Para muitos chineses, ele tem o poder de atrair a chuva e o vento, afastar os trovões e proteger as pessoas de calamidades. Em tempos de vacas magras nos países desenvolvidos, a força de Zhao tem logrado ultrapassar as muralhas da China. O país manteve o papel de locomotiva da economia mundial ao crescer 9,2% em 2011. Dessa forma, o dragão asiático livrou as nações mais ricas de uma calamidade maior e blindou países, como o Brasil, das nuvens negras que partiram da Europa. Em 2012, porém, a China é um ideograma a ser decifrado. Diante da desaceleração mundial, a dúvida é saber qual papel o país vai desempenhar. 

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Consumo: chinês vestido de deus da fortuna atrai consumidores para shopping. Governo vai 
incentivar mercado interno .
 

Na quarta-feira 18, o Banco Mundial expressou enorme preocupação ao revisar para baixo as estimativas de crescimento da economia global. Na projeção feita em junho do ano passado, os emergentes cresceriam 6,2% e os países ricos, 2,7%. As apostas foram revistas para 5,4% e 1,4%, respectivamente, e ainda com um alerta de que o mundo pode viver o mesmo colapso de 2008. Pessimismo à parte, seria inusitado se os chineses não sofressem nada, uma vez que 40% das suas exportações seguem para os Estados Unidos e a União Europeia. A questão é saber o tamanho da redução. “O país deve crescer 8% neste ano”, diz o economista Charles Tang, que preside a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China. Para atingir essa meta, os chineses vão estimular o consumo interno e reforçar o foco nas economias emergentes, o que, em tese, beneficia o Brasil. 

 

De fato, há cada vez mais empresas interessadas em investir em infraestrutura no País. A China também já garantiu a encomenda de 50% da produção de soja brasileira, que representa 25% da pauta de exportações do País para lá. Os chineses estão ampliando, ainda, o número de bancos aqui para financiar o comércio bilateral. Além do Banco da China e do Banco de Desenvolvimento, que já estão no Brasil, o Banco Comercial Industrial chinês, o maior banco privado do mundo, já alugou um espaço em plena avenida Faria Lima, região nobre de São Paulo, enquanto aguarda a autorização do Banco Central para atuar. Também o Banco da Construção da China negocia a compra de uma instituição financeira no País. Pelo jeito, Zhao simpatiza com os brasileiros.

 

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