Instabilidade, incerteza e vigilância. Foram essas as três palavras mais repetidas pela diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), a búlgara Kristalina Georgieva, durante o Fórum de Desenvolvimento da China, em Pequim, no domingo (26). Considerada uma das mais competentes economistas da Europa, ela fez alertas enfáticos ao aumento dos riscos à ordem mundial em um cenário de fragilização de grandes instituições financeiras e bancos centrais. “O momento atual, de riscos à estabilidade, exige vigilância contínua”, afirmou Kristalina, em parte dos seus quase 50 minutos de discurso. Para ela, em um momento de níveis de endividamento mais altos, a rápida transição de um período prolongado de taxas de juros baixas para taxas muito mais altas — necessárias para combater a inflação — inevitavelmente geram tensões e vulnerabilidades.

As preocupações da diretora do FMI se justificam por uma combinação de fatores. O mais antigo e conhecido deles é a guerra na Ucrânia, que completou um ano em fevereiro sem sinais de que vai acabar tão logo. Os fatores mais recentes são a alta generalizadas das taxas de juros pelo mundo e a quebra de bancos relativamente importantes no cenário internacional, como o Silicon Valley Bank — a maior desde a crise financeira global de 2008 — e do Signature Bank, além do colapso do banco suíço Credit Suisse, comprado pelo rival UBS. Soma-se a isso o aumento nos custos dos seguros contra calote do Deutsche Bank e os problemas de liquidez do First Republic Bank.

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Por enquanto, a diretora-geral do FMI avalia que as medidas adotadas por governos e bancos centrais têm ajudado a conter a proliferação da crise, mas é preciso manter a cautela em relação aos próximos meses. Isso porque, segundo ela, as medidas de socorro não podem ser prolongadas, visto que há um limite na capacidade dos países em garantir a liquidez do sistema. Mas os esforços têm sido grandes. O governo da Suíça, por exemplo, injetou US$ 280 bilhões no sistema financeiro local para manter a solidez dos bancos depois da crise do Credit Suisse.

Todo esse cenário tende, segundo o FMI, a impactar no crescimento da economia global de 2023 e, por consequência, também no Brasil. Para Paulo Henrique Duarte, economista da Valor Investimentos, afirma que o crescimento do PIB não vai repetir o desempenho de 2022 porque a alta generalizado dos juros tende a arrefecer o ritmo econômico. “Impossível imaginar uma alta pujante da economia com a Selic entre 13% e 14% ao ano.”

Fabrice Coffrini

“A China deverá ser responsável por cerca de um terço do crescimento global em 2023, dando um impulso bem-vindo à economia” Kristalina Georgieva diretora-geral do FMI.

Nesse cenário de salve-se quem puder, a diretora do FMI prevê o aumento da fragmentação econômica e política em todo o mundo. “Essa fragmentação deve dividir o mundo em blocos econômicos rivais”, disse a executiva. “Trata-se de uma segregação perigosa e que deixaria todos mais pobres e menos seguros.”

CHINA Dentro do contexto de maior instabilidade e insegurança, Kristalina considera que a China terá um papel fundamental no processo de retomada. Para que o mundo volte a crescer acima de 3% ao ano, ela destaca que a China terá de resolver seus problemas políticos internacionais para voltar a crescer e puxar o mundo para cima. “A China deverá ser responsável por cerca de um terço do crescimento global em 2023, dando um impulso bem-vindo à economia mundial”, afirmou Georgieva. Em 2022, o Produto Interno Bruto da China cresceu 3%, um índice alto, mas abaixo do histórico recente do país. Enquanto o próprio FMI espera que a China cresça 4,4% neste ano, Pequim tem como meta o avanço de cerca de 5%.